À descoberta da terra dos três A’s

Mação é conhecido por ser a terra dos três A’s: bons Ares, boas Águas e bom Azeite, mas não só! Feito de gentes com fibra e resiliência, Mação tem uma oferta única de cultura e natureza. Em entrevista à Revista Business Portugal, Vasco Estrela, presidente da Câmara Municipal, falou-nos das várias riquezas do território, como o “Picareto”, finalista regional das 7 Maravilhas da Cultura Popular.

 

Vasco Estrela, Presidente

O interior é conhecido por ter uma capacidade inigualável de ir à luta e sobrepor-se a qualquer adversidade. Como é que o Município de Mação tem enfrentado os novos desafios impostos, de forma a continuar a fazer deste local seguro e atrativo?

A afirmação que faz é, de facto, interessante e, acima de tudo verdadeira. Não diria na sua totalidade porque, embora tenhamos diariamente de lutar contra as adversidades, há adversidades que, por inúmeras variáveis, acabam por nos superar. No entanto, como dizia, e bem, e falando do caso concreto de Mação, está mais do que provado que os Maçaenses são pessoas de fibra e de uma resiliência extraordinária! Disso não há a menor dúvida e a história do nosso Concelho assim o confirma.

Respondendo em concreto à pergunta, a verdade é que temos desenvolvido, ao longo dos anos, ao longo das décadas, um enorme trabalho no sentido de contrariar aquilo que parece ser o nosso destino, que é a desertificação, o abandono do território. Rumamos muitas vezes sozinhos, mas sempre com o sentimento de estamos a proporcionar instrumentos válidos para que as pessoas cá continuem a viver, para que nos visitem e, quem sabe, até se fixem cá.

Com a pandemia Covid-19, obviamente o panorama não é animador, mas temos estado ao lado da população, dos agentes económicos, das instituições de solidariedade social. Enfim, temos desenvolvido um trabalho de ainda maior proximidade para garantir bem-estar, qualidade de vida e, nestes novos tempos, ainda maior segurança a quem cá vive. A título de exemplo, temos apoiado regularmente as entidades que têm responsabilidades na proteção dos nossos munícipes.

Indo ao encontro da sua pergunta, “de ir à luta”, temos tentado tirar partido da nossa posição geográfica privilegiada, bem no centro do país. Neste sentido, temos um conjunto de apoios aos empresários e agentes económicos, por exemplo com terrenos a preços simbólicos nas Zonas Industriais, isenção de derrama, apoio na construção de infraestruturas, bem como no Centro de Negócios/Ninho de Empresas, onde poderão desenvolver qualquer tipo de atividade económica, a preços, uma vez mais, bastante acessíveis e com um conjunto de apoios assinaláveis.

Apoiamos também as empresas na elaboração e submissão de candidaturas aos vários sistemas de incentivo. No fundo, apoiamos as empresas e agentes económicos em tudo aquilo que entendam que o nosso apoio é vital, desde a criação da empresa até à sua instalação e laboração. Tudo fazemos para criar riqueza no nosso concelho.

A pandemia veio desestabilizar ainda mais um cenário por si só já complicado e, de facto, não há receitas mágicas. Obviamente que, com ou sem

Zona Industrial

pandemia, sem políticas nacionais claras e efetivas para o interior, por mais que nós, Autarquias Locais, façamos, por mais que possamos oferecer, nunca será demais para colmatar as lacunas de um território desertificado como o nosso.

Não quero com isto deixar uma imagem negativista, mas apenas realista, sob este ponto de vista. Na realidade, Mação tem potencialidades extraordinárias que temos vindo a explorar e a apostar.

Este ano, abrimos as nossas Praias Fluviais, respeitando todas as normas impostas pelas entidades responsáveis e assim temos vivido dos últimos tempos. Temos feito um grande exercício de adaptação à nova realidade trazida pelo Coronavírus, mas tentamos manter a maior normalidade possível no nosso dia-a-dia. Condicionados, mas não parados!

 

Mação é sinónimo de cultura e natureza. Quem por aqui passar, que oferta encontrará?

Mação tem um património histórico e natural único. No Verão, as nossas três Praias Fluviais são de visita obrigatória: Cardigos, Carvoeiro (Bandeira Azul há 14 anos) e Ortiga. Cada uma delas com a sua beleza e singularidades, todas elas extremamente apetecíveis. Têm sido uma agradável surpresa para todos aqueles que nos visitam. Temos também o Museu de Arte Pré-Histórica do Vale do Tejo, as gravuras rupestres junto à Ribeira da Ocreza, a Anta da Foz do rio Frio…

Mação constitui, aliás, riquíssima zona paleontológica e arqueológica.

Temos ainda um moderno e imponente Miradouro no Bando dos Santos de onde se desfruta de uma bela e grandiosa paisagem.

Para os amantes da natureza e das caminhadas em Mação está a ser implementado o projeto “Rotas de Mação”, onde estão previstos 15 Percursos Pedestres em todo o concelho, com o objetivo afirmar o potencial do nosso território.

A Câmara Municipal de Mação apoia este projeto que tem sido desenvolvido por vários munícipes e pessoas com ligações ao concelho, envolvendo ainda juntas de freguesia, associações e outras entidades.

 

Fritada Mista

Mas também é impossível ficar indiferente à gastronomia única da região, verdade?

Verdade. A gastronomia do concelho de Mação é muito rica e variada, entre os fumeiros a norte e o Rio Tejo, a sul, que a tornam única.

Só para abrir o apetite, deixo esta ementa extraordinária e o convite para quem quiser conhecer os sabores da nossa terra:

Como entradas nada melhor do que provar as azeitonas, o presunto, enchidos frios e o queijo de cabra e de ovelha. Já os pratos de carne incluem o Cabrito Assado em Forno a Lenha à Moda de Mação, o Feijão de Matança e o Bucho Recheado. Contemplando a estreita relação com o rio temos o famoso Arroz de Lampreia, o Sável na Telha, o Achigã Grelhado, o Fritada Mista, a Sopa à Pescador, o Ensopado de Saboga e o Ensopado de Enguia, que se podem encontrar em restaurantes da especialidade na zona da barragem de Ortiga. Como acompanhamentos, nada como uma maravilhosa Açorda de Ovas ou Migas e um bom vinho. No que respeita à doçaria, temos as Tigeladas de Cardigos, o Mel, o Bolo dos Santos, as Fofas de Mação (Cavacas) e os Torrados.

Temos a Carta Gastronómica “À Mesa em Mação”, uma publicação editada pela Câmara Municipal de Mação em 2012 e reeditada em 2014, que compila os saberes e sabores de sempre da gastronomia do concelho e veio confirmar o que já se adivinhava: uma variedade de pratos preservados no tempo pelas famílias do concelho de Mação. Mereceu, por isso, o Prémio de Literatura Gastronómica, atribuído pela Academia Internacional de Gastronomia, em Paris.

 

O “Picareto” é finalista regional das 7 Maravilhas da Cultura Popular! Porque é que este barco é tão especial e porque é que este feito é tão importante? Que sentimento é que isto evoca a Mação?

Mação concorreu com 7 candidaturas e viu duas delas apuradas para a fase regional: o Picareto de Ortiga e as Velas de Cardigos. Mesmo com duas

Picareto

candidaturas a concurso, conseguimos ter excelentes classificações, o que nos deixa muito orgulhosos.

Relativamente ao Picareto, é especial porque representa parte da nossa identidade, a par do Rio Tejo. Este barco é considerado uma autêntica obra de arte por conjugar a experiência dos pescadores com a criatividade dos seus construtores.

O Picareto representa a nossa ligação ao rio Tejo e a importância que teve para a vida da comunidade ribeirinha. Representa toda a história, ao longo dos séculos, de um barco que era utilizado para a pesca, trazendo auxílio aos pescadores e comida às mesas. Foi também muito utilizado para o transporte de pessoas no Tejo.

 

Que motivos apresenta aos nossos leitores para visitarem Mação, seja à boleia do “Picareto”, seja de outra forma?

Para nós, todos os motivos são mais do que válidos para visitarem Mação. Somos um povo hospitaleiro! Temos o lema e a arte de bem receber! Somos também conhecidos pela Terra dos três A’s: bons Ares, boas Águas e bom Azeite. Quem por cá passar não se vai arrepender!

Falando do Picareto, e à boleia dele, deixo o convite para que visitem, em Ortiga, o Núcleo Museológico, que será inaugurado em breve. Será um Polo Museológico das artes da pesca tradicional no rio Tejo, onde o Picareto tem lugar de honra assumindo-se como peça principal.

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