A essência de Joana Henriques Calado, professora universitária, investigadora, psicanalista
Nesta entrevista exclusiva, conheça a essência de Joana Henriques Calado, um trajeto de 39 anos de existência, uma mulher na ciência e na intervenção clínica.
Quem é a Joana Henriques Calado? Fale-nos um pouco do seu percurso?
Na vertente académica e científica, tenho tido um percurso enquanto professora universitária em psicologia clínica na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa e, enquanto investigadora, na área da saúde mental, no Centro de Investigação em Ciência Psicológica CICPSI. Recordo como uma das experiências basilares, o estágio académico em contexto de instituição psiquiátrica, abrindo amplas vias de descobertas. Inicialmente, isso levou-me a interessar pelo tema da psicogénese das demências, tendo mais tarde, sido esse o âmago do meu doutoramento, com uma bolsa de investigação pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia FCT. Nos últimos sete anos, o nosso grupo de investigação tem dirigido o seu foco para os fenómenos relacionados com a personalidade e psicopatologia do adulto, com as perturbações psiquiátricas e no âmbito da avaliação psicológica. Na vertente de intervenção clínica, tive a oportunidade de iniciar cedo a minha prática, convidada para colaborar num projeto de valor humano no Instituto de Psicologia das Relações Humanas IPRH na esfera da intervenção psicológica ao longo do ciclo de vida; esta foi uma outra experiência estruturante, que vinculou o meu trajeto. Isso veio despoletar necessidades de aprofundamento de conhecimentos e técnicas, iniciando-me como psicoterapeuta, com formação em psicoterapia psicanalítica na Associação Portuguesa de Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica AP. Neste âmbito da psicanálise, tenho o privilégio indizível de ter tido como Mestres de longos trilhos, o Prof. Doutor Manuel Matos e o Doutor António Coimbra de Matos, psicanalistas incontornáveis da nossa sociedade, herdando uma identidade simbólica.
Mulher, docente universitária, investigadora, psicóloga clínica. Como consegue criar um equilíbrio entre a esfera pessoal, social e profissional? O que a inspira e motiva diariamente enquanto mulher e profissional? Quais as palavras que definem a essência do seu percurso?
Quanto ao equilíbrio, esse é um dos projetos maiores em trabalho contínuo, a homeostasia é variante e um desafio sistemático. Talvez, a incerteza relativa e o sonho me sejam inspiradores e impulsionem. As Pessoas especiais têm sido o mais determinante no meu percurso: mestres, professores, alunos, pacientes, colegas, família – a relação é o fulcral.
Ver uma mulher em cargos de liderança ainda é visto mais como uma exceção do que uma regra. Que mensagem em palavras-chave gostaria de deixar a todas as mulheres líderes ou que aspiram à liderança?
Nesta entrevista falei em traços largos de um trajeto de 39 anos de existência, enquanto mulher na ciência e na clínica, abnegando-me de incorrer em algum efeito halo, diria: privilegiar o ser ao ter, atribuir qualidade ao tempo, o presente como propulsor, alguma obstinação, doses de subjetividade, empatia, diplomacia, ética, liberdade, inovação e, um excelente humor. Mantenho a expetativa ativa na priorização e evolução dos cuidados especializados em saúde mental.