2024, um ano desafiante

O ano de 2023 não deixa saudades. Guerra em Gaza, tensão geopolítica generalizada, arrefecimento económico global, taxas de juro em alta, preços elevados na energia, multiplicação de eventos extremos associados às alterações climáticas…. Considerando tudo isto, é difícil imaginar que 2024 possa ser pior do que o ano que agora terminou.

Alexandre Meireles Presidente da ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresários

 

Mas, na verdade, não é expetável que a conjuntura geopolítica e económica mude substancialmente nos próximos tempos. Os fatores de instabilidade e incerteza vão transitar de 2023 para 2024, ainda que a inflação tenda a estabilizar. Não há um fim à vista para o conflito na Ucrânia, a instabilidade no Médio Oriente pode descambar para um conflito regional entre países produtores de petróleo, o Índice Geral de Preços ainda vai subir um pouco mais, as taxas de juro e a energia manter-se-ão em alta…

Ora, tudo isto concorre para que, em 2024, haja um arrefecimento económico global, com impactos negativos na vida das famílias, na atividade das empresas e na contas públicas dos Estados. Para a Europa, está previsto um crescimento económico muito modesto (1,2% do PIB na zona euro), em particular nos países do Sul. A boa notícia é que a inflação deverá continuar a baixar e, por conseguinte, parece estar a chegar ao fim o ciclo de subida de taxas de juro nos países desenvolvidos.

A nível interno, as perspetivas económicas também não são as mais animadoras.

As previsões de crescimento para Portugal têm sido revistas em baixa e tudo aponta para uma expansão do PIB a rondar os 1,5%, valor aquém dos 2,3% previstos pelo FMI para 2023. A persistência das taxas de juro em alta vai continuar a penalizar as empresas portuguesas, bem como a estagnação económica dos principais mercados de destino das nossas exportações, designadamente Espanha, Alemanha e Reino Unido.

Paralelamente, a crise política em Portugal vai por certo criar instabilidade, gerar ansiedade entre os agentes económicos e retardar a tomada de decisões importantes para o país. Tudo isto tende a inibir o investimento e o consumo, com reflexos na dinâmica económica de 2024. Por outro lado, a crise política poderá atrasar ainda mais a aprovação de candidaturas a fundos europeus e a execução de projetos estruturantes, principalmente no âmbito do PRR.

Neste cenário, os grandes desafios do tecido empresarial português para 2024 passam pelo desagravamento da estrutura de custos, em particular os custos com a energia. As empresas vão ter de investir mais na eficiência energética e também na diversificação das fontes de energia, privilegiando as que são mais baratas e sustentáveis. Importa acelerar a transição energética, fazendo uso dos programas públicos e fundos europeus consignados para o efeito.

Há também que encontrar soluções de financiamento alternativas ao crédito bancário, de forma a mitigar a alta das taxas de juro. Isto significa que as empresas têm de melhorar a sua capacidade de atrair capital e de obter financiamento através de sistemas de incentivos, designadamente no âmbito do PRR e do Portugal 2030. E também se espera que o Banco Português de Fomento, depois da refundação anunciada, comece finalmente a alavancar a economia com soluções de financiamento atrativas e ajustadas às necessidades, desafios e características das PME.

Por fim, o tecido empresarial português deve prosseguir o seu esforço de transição digital. Convém aprofundar a digitalização das atividades das empresas, para que estas se tornem mais competitivas graças aos ganhos que as tecnologias digitais permitem ao nível da eficiência, da produtividade, da relação com clientes, da redução de custos e da internacionalização.

Em suma, 2024 será um ano verdadeiramente desafiante para o país e, em concreto, para o seu tecido empresarial. As empresas terão de demonstrar, não apenas resiliência, mas também inteligência para aproveitar quer as oportunidades de financiamento comunitário, quer as oportunidades de negócio abertas pela transição energética, digital e climática.

 

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