Perspetivas para 2024

Luís Miguel Ribeiro Presidente do Conselho de Administração da AEP

 

Atravessamos uma época de incerteza e imprevisibilidade. Qualquer exercício de previsão é difícil, mesmo num horizonte temporal de curto prazo. Esta incerteza e imprevisibilidade são sentidas em todos os quadrantes da sociedade, influenciando as suas expectativas e comportamentos e condicionando a evolução da atividade económica. No setor empresarial, o planeamento que faz a médio e longo prazos continuará a ser duplamente condicionado pelo enquadramento nacional e internacional.

E são muitas as condicionantes que as organizações internacionais têm vindo a apontar. As tensões geopolíticas, face à elevada exposição mundial ao petróleo da Rússia e de países do Médio Oriente, e as restrições da política monetária, que se deverão manter nos próximos dois anos, não só na área euro como nos Estados Unidos e países emergentes. A Comissão Europeia, no relatório das previsões de outono, incluiu novos riscos para 2024, com destaque para a quebra na demografia empresarial, em que as empresas altamente endividadas poderão entrar em falência, e para a resistência na desaceleração da inflação, fruto de choques energéticos e de aumentos dos rendimentos nominais.

Projeta-se uma desaceleração do crescimento económico mundial, com impacto na diminuição da procura externa dirigida à economia portuguesa, à qual não é alheia a evolução desfavorável nos nossos principais parceiros comerciais. A nível interno, o Banco de Portugal, no relatório de estabilidade financeira, divulgado em novembro, alertou para uma pressão acrescida nas contas das administrações públicas, em resultado do abrandamento da atividade económica, conjugado com a inversão do ciclo de redução das despesas com juros, num contexto de ainda elevado endividamento, e para a dificuldade das empresas, em particular as mais vulneráveis, em assegurar o serviço de dívida, condicionadas pela persistência de taxas de juro elevadas e baixas expetativas de crescimento económico.

No terceiro trimestre de 2023, a economia portuguesa contraiu em cadeia (-0,2%). A queda do PIB em cadeia ocorreu em 13 países da União Europeia, sendo que em sete se registou mesmo uma recessão técnica, o que constituem sinais extremamente preocupantes.

Em Portugal, a deterioração da atividade económica, face ao trimestre anterior, é explicada integralmente pela evolução negativa da procura externa líquida, isto é, das exportações líquidas de importações, em resultado da redução das exportações de bens, mas também nos serviços. Entre janeiro e setembro de 2023, o valor da intensidade exportadora atingiu cerca de 48%, aquém dos 50% observados em 2022.

A redução da carteira de encomendas, sobretudo com origem no mercado externo, poderá também ajudar a explicar o inquietante aumento do número de trabalhadores em lay-off nos últimos meses, que cresceu 260% em outubro de 2023, face a outubro de 2022 (+109% na redução do horário de trabalho +935% na suspensão temporária de trabalho). Mediante uma conjuntura externa que não depende de nós, precisamos rapidamente de atuar nas matérias que estão ao nosso alcance, designadamente através da implementação de políticas públicas bem ajustadas, por forma a induzir uma melhoria da produtividade e competitividade da economia portuguesa e, com isso, assegurar níveis de criação de riqueza mais robustos e sustentados.

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