Ser Mulher no mundo do Direito

Autêntica, determinada e detentora de uma forte inteligência emocional, assim é Claudete Teixeira. Uma mulher motivada pela paixão à profissão, à família e aos seus sonhos. Um exemplo inspirador de empreendedorismo e de liderança no feminino. Em entrevista à Revista Business Portugal, Claudete Teixeira, dá a conhecer o seu mundo e a sua essência, partilhando insights valiosos sobre o equilíbrio entre a esfera pessoal, social e profissional, os desafios vividos pelas advogadas portuguesas, e a importância do foco, rigor e competência no desenvolvimento do trabalho jurídico.

 

Claudete Teixeira, Advogada

 

 

Quem é Claudete Teixeira? Porque valores se norteia?

A tentação é começar por dizer que sou advogada e, realmente, eu passo grande parte da minha vida a ser advogada, mas acho sinceramente que a nossa profissão não é o que nos define enquanto pessoas, ou pelo menos não é só isso. A nossa profissão é o nosso trabalho. O que nós somos é outra coisa. Eu sou uma imensidão de coisas, sou mulher, sou mãe, já fui mãe solteira, sou casada, já fui divorciada, sou trabalhadora (desde os 16 anos de idade), tento ser desportista, sou pessoa, identifico-me como uma boa pessoa, e identifico-me com os valores cristãos, que são os que tento passar aos meus filhos.

Mulher, advogada, empresária e empreendedora, é também mãe de três filhos. Como consegue criar um equilíbrio entre a esfera pessoal e profissional?

O equilíbrio não é fácil, porque quando se atinge um determinado patamar de responsabilidade profissional, o peso dessa responsabilidade e a necessidade de manter o rigor e a eficiência no trabalho que produzimos é de tal modo avassalador, que nos consome uma fatia muito considerável de tempo. Mas tem de se ir equilibrando o tempo, de modo a pender mais para um lado ou para o outro em função das necessidades. Faço questão de estar presente em todos os momentos importantes da vida dos meus filhos, e quando estou com eles faço por estar mesmo presente. Há dias em que chego tarde a casa, mas no tempo que tenho para estar com eles estou-lhes dedicada e tenho de dar a cada um o seu momento. Mas não é fácil ser mãe e ter uma vida profissional exigente. O que acontece, muitas vezes, é que o que fica para trás é o tempo para nós mesmas, que também é muito necessário.

Esse equilíbrio é mais difícil por ser advogada?

Acredito que sim. Isto porque as advogadas portuguesas não têm direitos sociais básicos como a proteção na maternidade, assistência à família, proteção na doença, ou outros.

Os advogados e solicitadores portugueses são obrigados a descontar para uma caixa de previdência privada, a CPAS, que não nos garante os mesmos direitos sociais disponíveis para os trabalhadores independentes. Esta é uma situação que tem vido a ser alvo de denúncia e grande contestação por parte dos advogados, mas o Estado Português tem mostrado indiferença para o facto de não termos direitos sociais nenhuns, o que é incompreensível. Não é admissível que as crianças que são filhos de advogadas não tenham direito a ter uma mãe em dedicação exclusiva, nem mesmo quando acabam de nascer. Não é admissível que as advogadas portuguesas tenham de levar o computador portátil para a maternidade, tenham de cumprir prazos enquanto amamentam recém-nascidos de duas em duas horas, de dia e de noite ou tenham de fazer julgamentos quando têm bebés de um ou dois meses de vida. Isto não são meras hipóteses académicas, aconteceu comigo e acontece com muitas advogadas.

 

 

Como define o seu percurso académico e profissional? Sempre quis ser advogada? Para si um bom advogado (a) deve ser…?

Eu sempre quis ser advogada. Tirei o curso na Faculdade de Direito de Lisboa, curso 1995-2000, e, de lá para cá, frequentei várias pós-graduações, para aprofundar os meus conhecimentos, com especial foco na área do direito civil, direito da família e sucessões e, mais recentemente, no direito do trabalho. Há alguns anos, abri o meu próprio escritório de advogados e trabalho com uma equipa de profissionais de muito mérito. Penso que um bom advogado é feito de um conjunto de elementos, mas o básico é ter bons conhecimentos técnicos, um grande sentido de responsabilidade para com o cliente e para com o processo, e estar presente, dar as respostas quando elas são precisas.

No dia 19 de maio celebra-se o Dia do Advogado, neste contexto, que mensagem gostaria de deixar a um jovem advogado (a) que almeja construir um trilho de sucesso como o seu?

O sucesso é uma questão muito pessoal. Cada um estabelece os seus próprios objetivos e sente-o à sua maneira. O início da profissão é extremamente difícil, especialmente para quem começa como profissional liberal e sem rede, como foi o meu caso. Fiz um estágio não remunerado e findo estágio não havia condições para abrir um escritório nem havia clientes. No início tive de manter outras atividades profissionais em part-time para conseguir realizar o sonho de ser advogada. É preciso ter presente que nenhuma carreira se constrói de cima para baixo. O meu conselho é que mantenham o foco em aprender e sejam rigorosos e competentes no trabalho que desenvolverem, porque acredito que o resto vem por acréscimo. Se queremos ser competentes na nossa profissão, e ser reconhecidos por isso, não podemos sê-lo só às vezes. Quando iniciei a minha carreira, a maior parte do trabalho que tinha vinha dos patrocínios oficiosos e sempre tratei essas pessoas, e esses processos, com a mesma dedicação e profissionalismo que dedicava aos outros clientes.

Há muito boas advogadas e bons advogados pelo país inteiro e a riqueza e importância desta advocacia não pode, nem deve, perder-se.

You may also like...