Os caminhos da sustentabilidade
A sustentabilidade é um tema incontornável neste ano que agora se encerra. Depois de períodos atípicos, marcados pela situação pandémica, esta nova visão refrescada, atualista e progressista do mundo,que tem de se encarar a si próprio, com a noção de recursos limitados e finitos, entrou, definitivamente, para a nossa agenda.
A questão que se coloca ao nível das empresas é qual o papel que estas podem ter neste processo de transição energética, que será central nos modelos de gestão do futuro e de que forma a sustentabilidade deve ser encarada. A questão coloca-se, precisamente, a este nível. O que será a sustentabilidade na empresa do século XXI? Uma meta? Um objetivo? Parece-me que aqui está a perspetiva que pode fazer toda a diferença.
A sustentabilidade deve ser algo que está presente nos modelos de gestão das empresas como parte integrante e estrutural dos modelos em si mesmos. Com isto, quero dizer que,além de ser uma meta, um objetivo, algo por que devem todos os empresários trabalhar, é também um fator que encerra em si mesmos conceitos de eficiência, de otimização de processos produtivos e de gestão, que podem ter também valor económico. A sustentabilidade é uma estratégia de maior eficiência, de menor invasão ambiental e de maior cuidado com o planeta,que irá tornar as empresas mais eficientes, mais produtivas e, com isto, prestar um contributo incontornável ao processo de descarbonização e redução da pegada ecológica que todos ambicionamos.
Se pensarmos em termos práticos no que isto materializa, estamos a falar de redução e otimização do consumo energético, de redução da utilização de papel, da otimização dos processos de transporte e movimentação de carga e rotas, de otimização do tempo e alteração de métodos de trabalho, como a introdução do trabalho remoto como uma realidade ou da redução da semana de trabalho para quatro dias. Em última análise, estamos a reduzir o tempo e os recursos que se gastam para produzir, para trabalhar, e isto terá um resultado extraordinário naquilo que é a visão humanista do mundo empresarial, a felicidade dos trabalhadores, vista como um fator incontornável de desenvolvimento.
Quando pensamos as empresas de uma forma transversal, humanista, eu diria até universal, afirmamos o seu papel na sociedade moderna e tornamo-las veículos do progresso e do desenvolvimento. O ser humano, como centro da atividade empresarial, numa visão tão esclarecida como focada, é o primeiro motor do desenvolvimento e da garantia de transição energética e digital, que será o caminho óbvio para o alcance de um mundo mais sustentável. Por outro lado, a sustentabilidade, como uma ferramenta de gestão que visa a eficiência, é mais do que um desígnio, uma necessidade emergente na comunidade empresarial.
Há ainda uma dimensão bastante interessante, subjacente a esta temática. Falo da dimensão socio-empresarial. Hoje falamos muito em comunidades energéticas, que mais não são do que empresas que formam uma comunidade para partilharem recursos energéticos. Este fator, além do óbvio valor ambiental, é também um estímulo a contrariar o isolacionismo empresarial. A agregação de empresas em projetos de interesse comum, dando músculo financeiro e intelectual para enfrentarem desafios de maior dimensão é não só uma realidade, como algo incentivado pelas instituições e entidades que corporizam os atores económicos de maior relevo na Europa e no mundo. Esta estratégia que junta e une empresas, sob o pretexto da otimização e eficiência energética é também, per se, um fator de desenvolvimento e estruturação do tecido empresarial de enorme relevo.
A sustentabilidade é uma estratégia individual, corporativa e global, que não permitirá que ninguém se mantenha à margem, sob pena de cair no isolacionismo empresarial e económico.
Ricardo Costa, Presidente da Associação Empresarial do Minho (AEMINHO)