Gerir gerações: o desafio de construir pontes no futuro do trabalho
Na linha da frente das transformações sociais e económicas, está um desafio que poucos reconhecem na sua verdadeira dimensão: gerir gerações. No contexto atual, onde empresas, organizações e até famílias enfrentam o choque inevitável entre diferentes formas de pensar e trabalhar, a gestão de gerações mais novas e mais velhas tornou-se uma tarefa tão complexa quanto essencial. Não se trata apenas de lidar com idades; trata-se de compreender mentalidades, expectativas, valores e prioridades que, por vezes, parecem incompatíveis, mas que precisam de coexistir para que qualquer sistema – seja ele uma empresa, uma equipa ou até uma sociedade – funcione.
Em Portugal, onde a pirâmide etária está cada vez mais invertida, esta questão assume particular relevância. Temos, de um lado, uma população envelhecida que representa décadas de experiência, conhecimento acumulado e dedicação ao trabalho. Do outro lado, uma geração mais jovem que chega com energia, vontade de inovar e uma visão completamente diferente do que significa trabalhar, produzir e encontrar propósito. Estes dois mundos colidem inevitavelmente.
Os dados confirmam esta realidade. Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), em 2023, Portugal tinha mais de dois milhões de pessoas com 65 anos ou mais, enquanto a Geração Z e os Millennials já representavam cerca de 40% da força de trabalho. A coexistência destas gerações é inegável, mas gerir as suas expectativas e formas de trabalho é o verdadeiro desafio. A geração mais velha valoriza estabilidade, experiência e um modelo hierárquico que foi a base do sucesso de muitos. Já os mais jovens procuram flexibilidade, reconhecimento imediato e, acima de tudo, propósito.
Por vezes, parece impossível conciliar estas visões. Enquanto uns pedem paciência e respeito pelo caminho já trilhado, outros questionam por que razão devem seguir um sistema que consideram desatualizado. E aqui surge a pergunta: como podemos encontrar equilíbrio entre estes dois extremos? A resposta não é simples, mas é possível.
Antes de mais, é essencial reconhecer o valor único que cada geração traz à mesa. A experiência e a sabedoria dos mais velhos não podem ser substituídas, e ignorá-las seria um erro crasso. No entanto, é igualmente importante aceitar que as ideias frescas, a inovação tecnológica e a vontade de mudar dos mais novos são forças capazes de levar qualquer organização a novos patamares.
O problema surge quando as diferenças não são reconhecidas e quando a comunicação se transforma numa barreira. Muitas vezes, os mais velhos sentem-se desvalorizados e descartados, enquanto os mais novos consideram que as suas ideias são subestimadas ou limitadas. Esta falta de entendimento cria divisões que enfraquecem equipas, afetam a produtividade e, em última análise, prejudicam os resultados.
O caminho para gerir gerações exige um esforço consciente. É necessário criar espaços onde a partilha de ideias seja valorizada, onde a experiência se cruze com a inovação. É preciso incentivar o diálogo e a escuta ativa. E, acima de tudo, é essencial cultivar um ambiente onde todos sintam que têm algo a contribuir, independentemente da idade – um espaço para acrescentar, debater, melhorar e, sobretudo, ouvir.
Não se trata de forçar a mudança ou de insistir na tradição, mas de construir uma ponte que permita que o melhor dos dois mundos trabalhe em conjunto. É aqui que a verdadeira liderança entra em ação – não para impor, mas para mediar, inspirar e unir. Todos têm pontos fortes, e criar uma ponte entre eles é a base do sucesso. Não é apenas acreditar que o sucesso está ao virar da esquina, mas sim caminhar juntos nessa direção. Ter equipas unidas é, por si só, sucesso. Num país como Portugal, onde as gerações mais velhas continuam a ser uma parte significativa da força de trabalho, enquanto as gerações mais jovens assumem posições de destaque, gerir gerações não é apenas um desafio; é uma necessidade urgente. Mais do que nunca, precisamos de compreender que o futuro não pertence exclusivamente aos jovens ou aos mais experientes. Pertence – com toda a certeza – àqueles que conseguem, juntos, encontrar novas formas de colaborar e construir algo que nenhuma geração, sozinha, seria capaz de alcançar.