Captar recursos e escalar: como as startups podem abrir as portas certas
Impulsionar negócios inovadores dentro de portas e dar os primeiros passos rumo à internacionalização é um caminho, muitas vezes, sinuoso para as startups. As oportunidades de financiamento disponibilizadas, quer nacionais quer internacionais, podem ser a chave para escalar, mas não deixa de ser necessário apanhar a chave certa e abrir a porta certa.
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Fernando Jardim, Presidente da 351 Associação Portuguesa de Startups
Programas comunitários (incentivos e financiamento oferecidos pela União Europeia) e vouchers (programas de financiamento a startups nacionais) são algumas das opções de financiamento disponíveis para o ecossistema de inovação, mas há mais. Os Business Angels – na sua maioria, executivos bem sucedidos que passam a investir em startups, geralmente de áreas relacionadas com a sua carreira -, constituem-se também como uma fonte estratégia de financiamento, na medida em que apostam nos projetos e nas equipas em que acreditam e oferecem smart money, ou seja, uma combinação de recursos financeiros, conhecimento estratégico e conexões no mercado. E, claro, os fundos de Venture Capital (VC), que trazem uma abordagem mais estruturada de investimento e disponibilizam, muitas vezes, programas de aceleração que equipam os fundadores com as ferramentas necessárias para um crescimento mais rápido e sustentável.
Quando se trata de captar recursos para escalar, as oportunidades estão à disposição de todos, mas a verdade é que as startups portuguesas enfrentam uma série de desafios para conquistá-las. Desde logo, o facto de no nosso país faltar algum apetite para o risco (apetite que podemos observar em mercados como o dos EUA), o que significa que é muito difícil para as startups em early stage (fase inicial, em que geralmente ainda não há um produto criado) atraírem Venture Capital (VC). A forma como os fundos são estruturados entra também nesta lista, sendo que muito do dinheiro existente é atribuído apenas a startups que tenham uma característica específica, como terem o selo de desenvolvimento idóneo, serem de certa área ou estarem baseadas em determinada região. Para além desta questão, existe financiamento que demora demasiado tempo a ser atribuído (às vezes, até dois anos), sendo que, nesse compasso de espera, muitas startups acabam por não sobreviver.
A ausência de uma estratégia clara definida é outro desafio comum. Vemos, frequentemente, as startups a “dispararem para todos os lados”, em vez de se focarem em bater à porta dos investidores certos, com o perfil para investir naquele setor e naquela tecnologia. Muitas não sabem sequer quais são os KPIs que os investidores avaliam ou os recursos de que elas próprias necessitam – até porque uma startup que está a angariar uma ronda pre-seed ou seed, por exemplo, fá-lo no sentido de captar recursos para construir o produto, mas a verdade é que ainda não teve oportunidade de testar o mercado.
Considerando todos estes desafios, existem, obviamente, estratégias que ajudam qualquer startup a atrair investidores e a captar recursos de forma eficaz, devendo esta, desde logo, ter em conta alguma preparação prévia. Entender as métricas e os milestones que precisa de atingir para se tornar irresistível é fundamental para qualquer startup. Quer se encontre em estágio inicial ou numa fase mais avançada, o investidor precisa de perceber se a equipa por detrás do projeto é capaz, se o negócio é viável (no primeiro caso) e se o comportamento do produto no mercado e o crescimento demonstrado são promissores (no segundo caso).
Para além do Pitch Deck, ter um Data Room é também extremamente útil. Nele, devem ser colocados dados atualizados, organizados e acessíveis relacionados com faturação, modelo de negócio, taxa de crescimento, entre outros. Desta forma, os investidores podem analisar todas as métricas que lhes sejam relevantes, sem ter que solicitar esses dados. Caso se trate da primeira ronda de investimento, é essencial ainda mapear os investidores, perceber o padrão dos seus investimentos até à data, entender todos os processos e os termos associados ao investimento e definir o tipo de investimento. Assim, os fundadores não perderão tempo a falar com investidores que não tenham fit com a sua startup.
Contar com um bom networking pode fazer a diferença na captação de recursos, mas é também crucial manter um relacionamento de longo prazo com os possíveis investidores, mantendo-os atualizados acerca dos desenvolvimentos recentes da startup e demonstrando de que forma o negócio está a crescer (o Data Room serve precisamente para isto). Existe uma ideia errada de que participar em grandes eventos, como a Web Summit, permite captar investimento imediato. A verdade é que estes eventos são ótimos para iniciar o contacto com investidores de todo o mundo, mas a posterior construção destes relacionamentos deve acontecer ao longo de todo o ano seguinte, sendo que os investimentos acabam por acontecer, em média, no prazo de seis a doze meses após o contacto inicial.
Angariar investimento é, sem dúvida, um dos maiores desafios enfrentados pelos fundadores de startups. É um trabalho a tempo inteiro que exige muito mais do que um pitch bem elaborado; requer uma estratégia bem definida, preparação minuciosa e, acima de tudo, capacidade de demonstrar que o negócio tem potencial para escalar e gerar retorno financeiro. O sucesso da abordagem não passa apenas por convencer investidores na teoria, mas também provar, com ações e números, que o negócio representa uma oportunidade única de investimento.
No final do dia, captar recursos não tem apenas a ver com abrir a porta certa com a chave certa; é também construir as bases para que essas portas se mantenham abertas a longo prazo, rumo ao crescimento sustentável e à internacionalização.