“A mulher pode acrescentar valor e inspirar o mundo empresarial”
A Psicologia é uma área preventiva, muitas vezes encarada como medida de atuação a curto prazo, mas cada vez mais a sociedade desperta para a importância da saúde mental. Sandra Santos, enquanto psicóloga e mulher, destaca em entrevista à Revista Business Portugal, a visão estratégica, resiliência e capacidade de gerir várias exigências ao mesmo tempo, conjugadas com a capacidade humana e empática de se preocupar com o outro.
Como Especialista em Psicologia Clínica, Formadora, Investigadora, Especializada em Parentalidade Positiva e em problemáticas como Depressão, Ansiedade e Dificuldades Sexuais, sente que a pandemia foi um virar de página neste estigma?
Sim, sinto que cada vez mais as pessoas estão a despertar para a importância da saúde mental e a perceber o quão essencial é trabalharmos as nossas vulnerabilidades e fatores de risco para prevenir o surgimento da doença mental.
A psicologia já foi vítima de algum estigma pela sociedade, mas as mentalidades começam a mudar, sobretudo no que à mulher diz respeito. Ser mulher e psicóloga é um desafio ultrapassado?
Sim e não. Se cada vez mais as pessoas procuram o nosso trabalho porque dão cada vez mais valor à sua saúde mental, por vezes ainda recebo contactos de pessoas que querem ir ao Psicólogo, mas pedem-me a indicação de um profissional do sexo/género masculino. Para isso basta pensarmos por exemplo nos nomes mais sonantes da Psicologia atualmente em Portugal, ou os nomes da Psicologia que nos representam na televisão, quantos deles são femininos?
Falando daqueles que com frequência “entram na casa das pessoas” posso enumerar pelo menos três homens bem conhecidos no meio, e pelo menos uma mulher. Porque será? Porque apesar de sermos muito mais mulheres psicólogas, continua ainda a existir de forma implícita uma maior credibilidade atribuída à figura masculina para nos representar. Recentemente a Ordem dos Psicólogos Portugueses teve pela primeira vez uma mulher como candidata a Bastonária, embora não tenha ganho as eleições. É um passo muito importante da afirmação da capacidade das mulheres psicólogas!
Nos dias correntes, é inevitável falar da saúde mental e durante uma situação de crise, acumula-se um elevado nível de stress. De que forma repensou e adaptou o serviço que presta à população?
Esta é uma situação de crise e tem de ser tratada como tal, por isso essencialmente foi necessário focar o trabalho na intervenção em crise e na minimização de danos. Além disso, apesar de no nosso caso como profissionais de saúde ser permitido continuarmos o trabalho presencial, decidi como cidadã que sou respeitar as medidas impostas e por isso implementei o serviço online de forma mais permanente. Já tinha este serviço antes da pandemia, embora fosse procurado muito pontualmente ou em casos específicos de pessoas que estavam fora de Portugal. Acabei por o estender a todos que assim o pretendessem. Mesmo quando foi possível retomar as atividades presenciais, quem assim o desejou manteve o apoio online. Este serviço continua ativo e manter-se-á com ou sem pandemia.
De que forma pode a Mulher acrescentar valor e inspirar o mundo empresarial a superar os mais diversos desafios?
A mulher pode acrescentar valor e inspirar o mundo empresarial através da sua visão estratégica, da sua capacidade de ultrapassar dores e obstáculos, da sua resiliência e da capacidade para gerir várias exigências ao mesmo tempo, conjugando tudo isso com a sua capacidade humana e empática de se preocupar com o outro. E estas características não são exclusivas das mulheres, mas por vezes são em nós encaradas como fraquezas e não como forças. É cada vez mais reconhecido o valor que as mulheres têm no mundo do trabalho e o quanto acrescentam ao mesmo, o quanto são igualmente capazes e por isso cada vez vemos mais mulheres em posições de destaque e importância. Se ainda estamos aquém da igualdade que pretendemos atingir? Sem sombra de dúvida! Mas o caminho faz-se caminhando e espero poder ver-nos atingir isso em breve, não só porque isso é uma conquista para todas nós, mas também um ganho para a própria sociedade, para o país e o mundo.