O olhar feminino sobre o mundo empresarial

A Revista Business Portugal entrevistou Nelma Fernandes, um distinto exemplo de empreendedorismo e liderança no feminino. Para além do desenvolvimento profissional, também o desenvolvimento do potencial humano contribui para o sucesso no mundo dos negócios, como aqui nos explica a empresária.

 

Nelma Fernandes, Empresária

Quem é Nelma Fernandes? O que a inspira e motiva diariamente enquanto mulher e profissional?

A Nelma Fernandes é muito simples e prática em tudo o que faz. Nasci na Guiné Bissau e vim para Portugal com um ano e meio. Não vivo sem Europa da mesma forma que não vivo sem África. As minhas raízes permitem-se conseguir prosperar em qualquer continente. Sou, na verdade, uma mistura de vários locais, uma vez que a minha mãe tem descendência em Cabo Verde e o meu pai em Angola. Sou mãe, mulher, filha, amiga e muito feliz.

A minha motivação é, sem dúvida alguma, a paixão pela melhoria. Tenho uma enorme satisfação em trabalhar o meu desenvolvimento espiritual. O que me faz sentido é desenvolver, a todos os níveis, as minhas competências individuais para uma melhor integração no coletivo. Quando sozinhos, a caminhada é sempre mais curta e lenta, em equipa, conseguimos acelerar o passo e chegar mais longe. A minha essência é de partilha.

 

Como define o seu percurso académico e profissional, sendo hoje uma referência em todas as funções que desempenha?

Muito trabalho, dedicação e foco. Apenas aceito fazer o que gosto e realmente domino. Tudo o que me propõem que não seja do meu domínio, obrigo-me a aprender primeiro.

Tenho uma tendência natural para desenvolver negócios. Iniciei-me com uma loja de venda de artigos multimarca e, passado alguns anos, tive uma cadeia de lojas em franquia de uma marca italiana de lingerie. Tive ainda noutras áreas para além do retalho, como restauração, compra e venda de imóveis, ou hotelaria. O comum em todos os projetos são a entrega, a paixão e o trabalho árduo. Só assim conseguimos crescer e prosperar.

Quando olho para trás, vejo o quanto cresci, principalmente com os vários obstáculos e situações menos positivas. A busca de novos desafios, o arriscar, o estar fora da zona de conforto é uma grande aprendizagem e faz-nos subir patamares. Nada cai simplesmente do céu sem antes arregaçarmos as mangas e sem conseguirmos captar as oportunidades no timing certo, o que muitos chamam de sorte.

 

Empresária, CEO e fundadora da Win Coach, Vice-Presidente da FME CE-CPLP e única mulher na Comissão Executiva da Confederação Empresarial da CPLP. Como consegue criar um equilíbrio entre a esfera pessoal, social e profissional?

Essa parte, por mais incrível que pareça, é a mais fácil. Por vários aspetos: gestão muito eficaz do tempo; saber gerir prioridades; obviamente, ter uma boa rede de apoio, ou seja, criar e envolver equipas nas várias vertentes; e por último, e talvez o mais importante, a autenticidade. Assumir verdadeiramente o que somos, em todas as vertentes, elimina o desperdício de energia. O ser humano tem a tendência de colocar várias máscaras para cada situação, o que provoca um desgaste energético gigante. Vivo de uma forma plena a 360 graus. Isso é visível para os que me conhecem e tenho a grande sorte de ter uma família maravilhosa que me apoia.

 

Assume-se fascinada pelo desenvolvimento do potencial humano. Porquê esta paixão e de que forma é que isso a levou a abrir a Win Coach?

Realmente, tenho um fascínio especial pela “caixinha” comportamental humana. Tudo tem a sua lógica quando nos damos ao trabalho de perceber as motivações e emoções que impulsionam atitudes, comportamentos e ações.

A minha vontade era tanta que fiz várias especializações nessa vertente: Master trainer em Coaching, PNL, Bodydinamic (sistema de análise e psicologia somática, método pioneiro no desenvolvimento psicomotor e cognitivo, com especial ênfase na qualidade relacionar); Somatic Experience (focada no transtorno de stress pós-traumático, mental e físico); DiSC (avaliação de perfil comportamental); Linguagem Não Verbal; Constelação Empresarial; Neurociência; entre outras.

Quando pretendemos uma interação eficaz com os pares nos vários contextos – pessoal, profissional ou social –, é fundamental encontrar o ponto de harmonia confortável e vantajoso para ambas as partes. Apenas atingimos esse ponto quando trabalhamos a conexão para além da superfície.

 

A Win Coach presta serviços nas áreas de Coaching Executivo, Coaching Empresarial, Desenvolvimento Expansão e Internacionalização de Empresas. De que forma são estes segmentos essenciais para os indivíduos e empresas?

A Win Coach trabalha duas vertentes que são cruciais para as empresas. Crescimento de volume de negócios, baseada num estudo minucioso de estratégias direcionada a cada sector, onde analisamos a essência da empresa; aprimoramos, quando necessário, os seus serviços para que tenham uma oferta digna de qualidade; por último, a fidelização de clientes. Já não é suficiente a venda de um determinado produto ou serviço. Para que o nosso cliente seja fiel temos de dar mais e associar a venda a uma experiência única.

Nada disso acontece sem a outra componente que a Win Coach trabalha. Capacitar o recurso humano, PESSOAS. Conseguimos transformar pessoas em humanos com recursos. Só esses conseguem dar determinadas respostas. Estão, efetivamente, formados e alinhados para o efeito. Capacitar um colaborador é ter ferramentas necessárias para extrair o melhor que tem para oferecer. O resultado deste processo dentro das organizações não tem preço. É, sem dúvida alguma, altamente rentável.

É isso que fazemos na Win Coach, criamos raízes fortes e sólidas nas empresas, para que a árvore possa dar muitos e bons frutos.

 

A Nelma é gestora de empresas e empreendedora em várias áreas de negócio. O que as une?

O que descrevi anteriormente é o que faço nas empresas parceiras que procuram os serviços da Win Coach, alimentá-las de forma saudável.

A maioria dos negócios têm uma base comum, tais como:

  • Ser criada com base na necessidade. Vendemos o que o mercado efetivamente precisa e não aquilo que achamos que é bom para o mercado;
  • É obrigatório adquirir um conhecimento profundo na nossa área de atuação e neste campo temos poucas opções: tornarmo-nos especialistas no que pretendemos desenvolver. Numa escala de zero a dez, para atingirmos o sucesso é obrigatório chegar ao nível dez. A outra alternativa é rodearmo-nos de pessoas que estão na escala dez;
  • O timing de implementação é outro fator essencial. O momento pode determinar o sucesso ou fracasso de qualquer negócio;
  • A equipa com que te associas para fazer algo e a sua capacidade de trabalho, resiliência, risco, paixão e garra são igualmente importantes.

Tendo estas bases, podemos variar e é possível criar várias vertentes. A variedade numa base sólida permite minimizar riscos.

 

Como se define enquanto empresária e gestora?

Para mim, o trabalho é algo muito sério. Aceito projetos e novos desafios apenas quando sinto que tenho algo de positivo para contribuir, caso contrário, declino o convite. Sou extremamente atenta aos pequenos pormenores e ao detalhe. Na minha opinião, só os pequenos detalhes nos permitem atingir um grande resultado. Sei muito bem o que quero e faço questão de trabalhar para o conseguir.

 

Que sentimento lhe suscita ser a Vice-Presidente da FME CE-CPLP e a única mulher na Comissão Executiva da Confederação Empresarial da CPLP?

Grande responsabilidade e um profundo agradecimento pelo voto de confiança. São projetos que abraço com imenso carinho e profissionalismo, com a certeza que faço o meu melhor.

Dentro da Federação de Mulheres Empresárias da CE-CPLP apoiamos e alavancamos o negócio no feminino. É de conhecimento comum o crescimento e desenvolvimento gigante do empreendedorismo feminino. O mundo mudou em vários aspetos: revolução tecnológica; questões ambientais; inteligência artificial; entre outros. Outra grande mudança acontece no feminino. O regresso das mulheres ao trono, na gestão, dentro e fora de casa, e com muito sucesso. O que fazemos na FME é um trabalho de suporte e orientação na busca de melhores condições para desenvolver e alavancar negócios das empresas nossas associadas.

 

A liderança no feminino centra-se na capacidade de resolução de problemas de forma criativa e inovadora, autoconfiança, espírito de iniciativa, influência e resiliência, sem esquecer o poder da comunicação. Revê-se nestas palavras e características?

Com toda a certeza. Aliás, a liderança tanto no feminino como no masculino, sem estas características, simplesmente não existe. E ainda acrescento outro fator que, na minha opinião, é fundamental: a capacidade de adaptação às mudanças.

 

Existem cada vez mais casos de sucesso de mulheres de negócios e empreendedoras. Mas o caminho continua a ser bastante dificultado?

Infelizmente não o pudemos negar, mas também temos de salientar as melhorias nos últimos anos. Na minha opinião, estamos num bom caminho e é fundamental continuar a caminhada. Devemos apoiar, cada vez mais, mulheres a empreender, dar suporte, fazer um trabalho coletivo e é por isso existe a FME-CE-CPLP. Estamos de braços abertos para todas as mulheres que estão nesta caminha e para outras que se queiram juntar a nós.

 

Uma sociedade equilibrada contempla a integração de homens e mulheres com igualdade de oportunidades. O que é para si ser um bom líder?

É essa a minha convicção. O fator X é a competência e não género, cor, raça ou religião.

Um bom líder é aquele que sabe que a palavra liderança significa servir e não alimentar o próprio ego. Aquele que consegue mover equipas pelo exemplo, motivação e nunca pelo medo ou subserviência. O verdadeiro líder capacita-se a si próprio em primeiro, para conseguir extrair de outros o seu melhor. É aquele que percebe rapidamente que, para ir mais longe em equipa, o seu lugar é no final da fila e jamais à frente. Só no final da fila consegue observar se todos os passos estão coordenados.

 

O atual contexto de pandemia vem acrescentar novos desafios para as empresas e para os seus líderes. Como encara este desafio?

Esta pandemia trouxe-nos privações e oportunidades. É real que alguns sectores de atividade, tais como aviação, turismo e outros que têm por inerência aglomerado de pessoas ficaram sem grandes recursos e alternativas e o impacto nas suas estruturas e economias foram devastadoras. E essa cadeia afetou outras vertentes de negócio com alguma especulação.

Existem outros grupos de empresas que, efetivamente, não estavam devidamente estruturadas, muito antes da pandemia. Diante de um evento traumático, que é o caso, o ser humano apenas tem três respostas: fuga, luta ou paralisação. A maioria das empresas, na minha opinião, optou pela paralisação, de forma consciente ou não, descurando completamente a capacidade de adaptação rápida que qualquer empresário deve ter. O Governo não vai conseguir salvar todas as empresas e também não é essa a sua função. O risco faz parte de qualquer negócio. Acontece que, para algumas mentalidades, o encerrar significa fracasso, quando, na realidade, representa uma profunda maturidade. É fundamental para qualquer empresário captar o momento certo de viragem.

Na Win Coach ajudamos os nossos clientes a encontrar novas soluções ou mesmo outras viabilidades de negócio. Temos exemplos reais de empresas que estavam numa situação de puro desespero e que neste momento estão lotados de trabalho, porque conseguimos, em conjunto, desviar a rota para o que é a necessidade do mercado. Entra aqui a capacidade de analise rápida e lei de adaptação.

 

Que características considera necessárias que as mulheres imprimam nos cargos de direção que ocupam?

Todos nós tomamos decisões com base nas emoções, quer sejam positivas ou negativas. Apesar de, muitas vezes, acharmos que não. As emoções, no fim da linha, geram um comportamento ou uma ação. Para todos os gestores, ter algumas bases ou noções de Inteligência Emocional é meio caminho para conseguir uma gestão eficaz.

 

Quais sãos os desafios que espera para o futuro?

Para mim, o futuro é hoje. Nós, seres humanos, temos sempre a prepotência de achar que o nosso futuro é longínquo e isso não é verdade. Temos de cultivar o prazer de viver e semear o hoje. Conforme disse anteriormente, apenas aceito fazer o que sei, com consciência de contribuir como uma mais-valia. Tudo o resto carece primeiro de uma aprendizagem. Trabalho, diariamente, para a minha felicidade e crescimento pessoal e para superar as metas impostas por mim. Implementar parcerias, com base na confiança e partilha de ganhos para as partes. O resultado é proporcional à nossa dedicação, empenho e trabalho. Dou extrema importância à aquisição e renovação de conhecimento. Sempre que posso, dedico-me a uma pós-graduação, quer na área empresarial ou estudo comportamental. É fundamental, para mim, investir no meu up grade. Como diz o provérbio: ‘o saber não ocupa lugar’. Quanto mais aprendemos, mais humildes nos tornamos.

 

Agradecimentos:

Local: Museu de Lisboa – Palácio Pimenta

Fotografo: Nuno Mousinho. www.LXPHOTO.pt

Produção: ExecutiveStylish. info@executiveandstylish.com

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