Saúde Feminina: Síndrome Geniturinária da Menopausa (SGUM)

A Revista Business Portugal esteve à conversa com Fernanda Geraldes, Presidente da Secção Portuguesa de Menopausa da Sociedade Portuguesa de Ginecologia (SPG), para transmitir as questões mais importantes sobre atrofia vulvovaginal.

Para que os nossos leitores possam entender, como caracteriza a atrofia vulvovaginal (AVV)?
Conjunto de sinais e sintomas associados à redução dos estrogénios devido à cessação da função ovárica que ocorre na menopausa. Inclui alterações dos pequenos e grandes lábios, clítoris, vestíbulo, intróito vaginal, vagina, uretra e bexiga traduzindo-se em secura vaginal, dores nas relações e urgência miccional pelo que passou a denominar-se desde 2014, síndrome genito-urinária da menopausa (SGUM) por também incluir a uretra e bexiga.

Qual a estimativa de mulheres portuguesas que sofrem com esta patologia?
A SGUM da qual faz parte a atrofia vulvovaginal tem uma prevalência elevada, sendo o segundo sintoma mais frequentemente associado à menopausa logo a seguir à sintomatologia vasomotora. É reportado por mais de 60% das mulheres na pós-menopausa e 40% das mulheres a efetuar terapêutica hormonal sistémica mantém essa queixa. Segundo o REVIVE (Real Women’s VIews of Treatment Options for Menopausal Vaginal Changes), apenas cerca de 7% das mulheres com sintomas estão a ser tratadas.
Em Portugal, a percentagem de mulheres aumentou para 52,2%, sendo que a população feminina entre os 30 e 69 anos cresceu 9% e para idades superiores a 69 anos, o crescimento foi da ordem dos 26% (INE Censos 2011) pelo que extrapolando os dados referidos poderemos afirmar que esta patologia tem uma prevalência elevada em Portugal.

Quais os principais sintomas?
• Secura genital
• Irritação/ardor/prurido vulvar
• Diminuição da lubrificação que condiciona desconforto/dor sexual
• Hemorragia pós-coital
• Diminuição da excitação/desejo/orgasmo12
• Frequência urinária/urgência
• Pode condicionar as atividades básicas diárias como andar, sentar e a prática do exercício físico
• Forte impacto na sexualidade, redefinindo o papel de ser mulher
Todos estes sintomas provocam stress emocional e diminuição da qualidade de vida que se estende ao companheiro.

Como é feito o diagnóstico?
Exame objetivo – Vulva descorada, seca, reabsorção dos pequenos lábios, diminuição da elasticidade, proeminência do meato uretral, retração do intróito, atrofia da superfície epitelial da mucosa vaginal, diminuição do pregueamento vaginal, redução da secreção do fluído vaginal.
Índice de maturação/Exame microscópico a fresco – Aumento do pH vaginal >5, aumento das células parabasais, diminuição das células superficiais e de lactobacilos.

O que se deve fazer no caso das mulheres apresentarem estes sintomas?
A mulher deve estar esclarecida sobre os sintomas e tomar a decisão de pedir ajuda ao seu médico de família ou ginecologista. Em causa está a qualidade de vida e a sua vida de relação pela insegurança, no que diz respeito à sexualidade e assim sentir que pode comprometer o relacionamento.
Por outro lado, o médico deve estar sensibilizado, criar um ambiente favorável para poder questionar sobre os sintomas vulvovaginais, dar uma oportunidade para a mulher falar sobre a sua sexualidade, integrando-a num paradigma global de saúde e bem-estar. Deve ainda informar que existe solução para os sintomas e alterar o conceito de inevitabilidade associado ao envelhecimento. As mulheres têm que investir em si próprias e os médicos têm que ter a perceção de que a sociedade mudou.

Que tratamentos estão disponíveis?
Os tratamentos que temos à nossa disposição são de fácil aquisição e aplicação, já que temos disponíveis no mercado tópicos vaginais em forma de cremes/gel e comprimidos com dosagens diferentes de estrogénios e também não hormonais que levam a um rápido alívio dos sintomas e recuperação da mucosa da vulva e da vagina, contribuindo para uma melhoria significativa da qualidade de vida.
Têm surgido vários estudos sobre aplicação do LASER na atrofia vulvovaginal. É um método que, em vários países, tem vindo a expandir-se e também em Portugal. Apesar de ser uma técnica invasiva é bem tolerada com resultados satisfatórios necessitando ainda de mais estudos que nos assegurem a segurança e eficácia. O ácido hialurónico que promove a hidratação da mucosa da vulva e da vagina não apresenta contraindicações, mas tal como o LASER é um método invasivo implicando intervenção médica. Nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, entre os quais a Espanha, têm à disposição comprimidos por via oral para o tratamento da atrofia vulvovaginal. Brevemente, teremos em Portugal uma nova formulação tópica com DHEA.

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