Telemonitorização de Doentes em Risco

Professor Miguel Castelo-Branco Craveiro de Sousa, Médico Internista e Intensivista, Coordenador de Serviço de Medicina Intensiva no Centro Hospitalar Universitário Cova da Beira

 

O Centro Hospitalar Universitário Cova da Beira submeteu, em abril de 2020, um projeto ao Sistema de Apoio à Modernização e Capacitação da Administração Pública (SAMA), do Portugal 2020, para desenvolvimento de uma solução de telemonitorização de doentes de risco em regime de internamento e urgência, no hospital e em mobilidade intra e inter-hospitalar; assim como em regime de Hospitalização Domiciliária. Este projeto foi aprovado para financiamento e a implementação iniciou-se em dezembro do mesmo ano.

Necessidade

Nos tempos recentes, reconheceu-se que há doentes que apresentam disfunções fisiológicas que precedem catástrofes clínicas. Com o intuito de organizar cuidados que possam ter em atenção esses aspetos, desenvolveu-se o conceito de Early Warning Alarm Scores. Estes scores partem, geralmente, de avaliações feitas por profissionais, à cabeceira do doente e depois da aplicação de algoritmos e árvores de decisão, que permitem a identificação de situações de risco acrescido e necessidade de alocação de recursos de apoio adicional. O processo é muito recurso-humano dependente e, por outro lado, o software disponibilizado, quer pelos equipamentos de monitorização, quer pelas centrais de telemonitorização atualmente existentes, não é suficientemente flexível, e em vários aspetos, antiquado. Uma das vias para evoluir passa pelo desenvolvimento de uma plataforma moderna de software, construída de raiz, de acesso aberto.

Objetivos do Projeto

Com o TERI objetiva-se reduzir os episódios de paragem cardiorrespiratória intra-hospitalar, as complicações por atraso nas intervenções terapêuticas, a mortalidade intra-hospitalar e os incidentes, aumentando a segurança do doente. Ao mesmo tempo cria-se um laboratório de investigação em várias vertentes:

  • Monitorização contínua e descontínua dos doentes;
  • Coordenação de equipas de intervenção em doentes críticos;
  • Telecomunicações em situações críticas;
  • Gestão de unidades de Telemonitorização;
  • Novas modalidades de sensores e de monitorização;
  • Sistemas de deteção de descompensação.

A solução

Para a implementação do TERI, o CHUCB definiu uma equipa interna, liderada pelo Professor Miguel Castelo-Branco; e celebrou um contrato de cooperação interadministrativa com a Universidade da Beira Interior, com vista a reforçar a massa crítica da equipa com consultores para as diversas fases de projeto: desde o levantamento das especificações funcionais e técnicas; desenvolvimento; implementação e divulgação de resultados. A contratação das empresas para a implementação do projeto respeitou as regras da contratação pública.

A solução projetada passou pela criação de um software totalmente web, desenhado e construído de raiz para o CHUCB, tendo sido selecionada a empresa Quidgest como responsável pelo desenho e desenvolvimento do software, assim como pelo desenho e criação de raiz de uma arquitetura robusta e dedicada ao processamento de mensagens em tempo real, assente na infraestrutura de suporte necessária ao funcionamento do TERI. A Quidgest foi ainda responsável pelo fornecimento dos monitores multiparamétricos, workstations, monitores de 43″ e routers para a comunicação a partir das ambulâncias e dos domicílios. Para esta parte, bem como para a integração dos equipamentos na solução, a Quidgest contou com a ajuda da Dynasys.

O Software desenvolvido é bastante complexo, acompanha todo o processo de monitorização de um doente: que vai desde o momento da identificação do doente como sendo de risco; passando pela recolha e armazenamento de diversos parâmetros de saúde de forma automática, com recurso a monitores de sinais vitais ligados ao TERI, assim como integração de resultados laboratoriais. O TERI, como base nos indicadores recolhidos, vai gerar um score de risco e alertas para as equipas que acompanham o doente.

TERI, página de análise de tendências, dados fisiológicos (inclui alarmes), variando, neste caso, o gráfico de detalhe sobre parâmetro SpO2.

TERI, versão mobile, parâmetros de saúde de um doente (fictício).

A análise contínua da informação processada pelo TERI abre novas perspetivas no tratamento personalizado, assim como a adoção e desenvolvimento de modelos preditivos de Early Warning Alarm Scores. Com recurso à deteção precoce de deterioração do estado de saúde, bem como a facilidade de leitura em tempo real, e de histórico, do impacto de cada terapêutica no estado do doente, permitem ajustar os planos de tratamento, quando a eficácia não é a desejada ou a prevista.

Ainda no decorrer do projeto foi realizado, pelo Instituto das Telecomunicações e Departamento Engenharia Eletromecânica, da Universidade da Beira Interior, análise da cobertura das redes móveis celulares, no contexto hospitalar e envolvente, objetivando-se identificar as zonas que necessitam de melhoria da potência do sinal disponibilizado, por exemplo, através da introdução de pequenas células, por exemplo, femtocélulas no interior das instalações do Hospital.

Potencial disseminador

O TERI poderá ser replicado noutros Hospitais do SNS a custos que se prevêem ser competitivos, uma vez que o CHUCB é proprietário da solução desenvolvida. Também terá um impacto ao nível do ensino superior na área da saúde, nas vertentes de gestão clínica do doente crítico, de coordenação de equipas interdisciplinares e de Telemonitorização de doença crítica.

O projeto está ainda perfeitamente alinhado com aquelas que são, segundo a consultora Accenture, as três tendências que guiam a inovação e criam oportunidades de gerar informação e conhecimento para investigadores no domínio da colaboração entre o humano e a máquina, na área dos cuidados de saúde: novos produtos e dispositivos inteligentes; novas funcionalidades para os aparelhos; e novos desenvolvimentos da inteligência artificial.

Professor Miguel Castelo-Branco Craveiro de Sousa, Médico Internista e Intensivista, Coordenador de Serviço de Medicina Intensiva no Centro Hospitalar Universitário Cova da Beira.

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