Sustentabilidade, uma oportunidade para Portugal

Alexandre Meireles, Presidente da ANJE

A ressaca da pandemia, a instabilidade geopolítica e as crises energética e inflacionista não podem fazer abrandar os esforços mundiais para acudir à emergência climática. A degradação das condições de vida no planeta é evidente, provocando enormes custos humanos, sociais e económicos. Calcula-se que, até 2050, as alterações climáticas vão levar à perda de 4% do PIB mundial. Aliás, os eventos meteorológicos extremos causaram, nos últimos 40 anos, um prejuízo superior a 487 mil milhões de euros na União Europeia.

O bem-estar da humanidade e também o crescimento, a produtividade e a competitividade económica dependem fortemente da sustentabilidade ambiental. Isto significa que, para lá do dever ético de promover um desenvolvimento sustentável, há um claro interesse económico na descarbonização do planeta. Interesse, esse, que poderá ser game changer e impulsionar o investimento mundial no combate às alterações climáticas, na preservação dos recursos naturais e na promoção da biodiversidade.

O Governo português parece estar comprometido com a transição climática, tendo incluído no Plano de Recuperação e Resiliência um avultado investimento nesta área. Estão previstos cerca de 2,7 mil milhões para projetos de mobilidade sustentável, descarbonização, bioeconomia, energias renováveis e eficiência energética, sendo uma boa parte desta verba dirigida às PME. Também o novo quadro comunitário, Portugal 2030, trará mais investimento em duas prioridades ambientais: a diminuição da dependência energética e a adaptação dos territórios às alterações climáticas.

Há, pois, um contexto favorável quer ao desenvolvimento sustentável da economia portuguesa, quer ao crescimento dos chamados “negócios verdes”. Cabe agora aos empresários responder ao desafio da transição climática, adaptando as suas PME aos princípios da economia circular ou lançando projetos empresariais que, a partir da inovação e da tecnologia, promovam a preservação e valorização de recursos naturais. Novas oportunidades de negócio vão surgir no crescente sector do ambiente, sobretudo em áreas decisivas para uma economia mais eficiente, como as energias renováveis, o tratamento e reciclagem de resíduos, a mobilidade sustentável, o mar, a biodiversidade ou as tecnologias verdes.

Perante a atual crise energética, Portugal deve aumentar o recurso às energias renováveis não poluentes, tirando partido das excelentes condições naturais para o desenvolvimento da energia solar, eólica, geotérmica, de biomassa e biogás, maremotriz e hídrica. Além disso, é fundamental investir na racionalização, a todos os níveis, do uso da energia, o que pressupõe o desenvolvimento e aplicação de tecnologias que promovam a eficiência energética nas empresas, nos organismos públicos e nos lares das famílias.

A aceleração da transição energética na Europa pode, de resto, ser economicamente favorável a Portugal. Lembro, a propósito, que somos o quarto país da União Europeia que mais consome energia produzida por fontes renováveis. Em 2021, as energias renováveis abasteceram 59% do consumo de eletricidade do país, podendo este indicador chegar aos 80% já em 2025.

As energias renováveis são um fator crítico de crescimento, investimento, emprego, inovação e sustentabilidade. E o nosso país goza de uma situação geográfica e meteorológica que favorece a produção de energia renovável. Acresce que existe hoje, no tecido empresarial português e no nosso sistema científico e de inovação, massa crítica para o desenvolvimento de sistemas e tecnologias energéticas de vanguarda.

Em suma, a sustentabilidade é uma boa oportunidade económica para Portugal. O país deve apostar na economia sustentável, na ecologia industrial e nos “negócios verdes”, não só para cumprir as suas metas de redução das emissões de gases com efeito de estufa, mas também para criar mais valor económico e social.

Alexandre Meireles

Presidente da ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresários

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