Solidariedade em forma de pintura

Margarida Martins é a Diretora da APBP Caldas da Rainha. Em entrevista à Revista Business Portugal, falou sobre os artistas que fazem parte da instituição e sobre o espírito solidário das pessoas.

 

Margarida Martins, Diretora

A APBP Caldas da Rainha é uma empresa que tem como fundamento a publicação, reprodução e divulgação de trabalhos de artistas que pintam com a boca e com os pés, por todo o mundo. Como é que os artistas se associam à instituição e de que forma é que trabalham com eles?

Os artistas provêm de todos os cantos do mundo e estão diretamente associados à Associação Internacional de Artistas que Pintam com a Boca e com os Pés. Em colaboração com a Associação trabalham várias editoras, localizadas em cerca de 60 países, e a APBP das Caldas da Rainha é a editora portuguesa. Funciona como uma “ponte” entre os artistas portugueses e a Associação, estabelecendo contacto com a mesma. Os artistas apresentam os trabalhos que realizam, e são avaliados por um júri da Associação Internacional. Independentemente das suas competências, por norma, ficam associados à instituição. Existem vários escalões para os artistas. Normalmente, estes começam como bolseiros e, ao longo do tempo, vão evoluindo, tendo em consideração o seu progresso artístico. Portanto, enquanto editora, a APBP, para além de estabelecer contactos entre os artistas e a Associação, divulga e comercializa artigos desenvolvidos a partir de obras originais, pintadas pelos seus membros.

 

E de que forma divulgam o trabalho dos artistas? Em que tipo de eventos participam?

A editora organiza duas campanhas anuais, sendo que a que tem mais destaque realiza-se no Natal. Estas funcionam através do envio de postais, pelo correio, para casa das pessoas, sem que estas necessitem de assumir qualquer compromisso, mas podem contribuir com um valor que considerem adequado.

Posteriormente, fazemos também visitas a escolas e organizamos exposições, acompanhados de alguns dos artistas e, quando possível, divulgamos os artigos nos meios de comunicação social, de modo a enaltecer, ainda mais, o reconhecimento deles.

Sabemos que a Associação Internacional de Artistas que Pintam com a Boca e os Pés foi criada, em 1957, com a premissa de rejeitar a caridade e, ao mesmo tempo, incitar a solidariedade. Na prática, o que é que isto significa? De que forma é que os artistas beneficiam da Associação?

Quando a Associação foi fundada, por Erich Stegmann, um pintor que não podia utilizar os braços, por ter sido vítima de poliomielite, este tinha o objetivo de mostrar às pessoas que não queria receber dinheiro em jeito de caridade, mas sim ser remunerado e recompensado pelo seu trabalho, assim como qualquer outra pessoa. Neste sentido, o nosso propósito é transmitir a ideia de que estes artistas estão a trabalhar, independentemente das suas limitações, e devem receber o retorno desse mesmo trabalho, o que acontece através da compra de artigos, por parte das outras pessoas. Os lucros anuais de cada editora revertem para a Associação Internacional, que os distribui pelos artistas, de acordo com o seu progresso na carreira artística.

A empresa já conta com quase 30 anos de existência em Portugal. Qual o balanço que faz das últimas décadas e quais é que são as expectativas para o futuro?

Faço um balanço muito positivo, acima de tudo. Obviamente que, como qualquer empresa, atravessámos alguns altos e baixos, mas conseguimos sempre ultrapassá-los. Surpreendentemente, o aparecimento da pandemia não nos abalou de uma forma muito acentuada, e sentimos que é em situações como esta que as pessoas se revelam mais solidárias.

Relativamente ao futuro, tenho grandes expectativas e acredito que vamos continuar a crescer. Tenho confiança na evolução da nossa empresa e no espírito de entreajuda das pessoas, especialmente daquelas que já são nossas clientes há vários anos.

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