“Ser enfermeira é a melhor profissão do mundo”

Guadalupe Simões, dirigente nacional do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), esteve à conversa com a Business Portugal onde mostrou a sua preocupação para com a falta de valorização dos enfermeiros, pois também eles têm sido verdadeiros heróis em tempos tão difíceis como estes que enfrentamos, tendo em conta a atual crise pandémica mundial da Covid-19.

Numa altura em que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) está a ser posto à prova como nunca antes se tinha visto, que desafios é que têm sido enfrentados diariamente pelos enfermeiros e como é que estes estão a lidar com a questão da pandemia?
É verdade que o SNS, nos últimos dois anos, foi colocado à prova. Mas, conseguiu reorganizar-se para dar as respostas em cuidados de saúde, no âmbito da pandemia e, ainda assim, continuar a responder no âmbito da atividade assistencial programada.
Todos reconhecemos que aumentaram as listas de espera para intervenções cirúrgicas e consultas de especialidade, no entanto, a esta data, os números disponibilizados demonstram que já estamos com números de intervenções cirúrgicas realizadas iguais ao período pré-pandemia. E, tudo isto, feito com uma carência de profissionais de saúde e, concretamente, de enfermeiros.
Foram dois anos em que os enfermeiros tiveram que lidar com o medo do desconhecido, com a falta de equipamentos de proteção, com o aumento da mortalidade e do sofrimento dos que cuidam e das suas famílias, entre outros, ou seja, a penosidade inerente à natureza da profissão aprofundou-se, razão pela qual os índices de burnout são muito elevados no seio das equipas de enfermagem. Estando agora numa fase em que a pandemia, dizem, vai passar a endemia, está na hora de finalmente o Governo e o Ministério da Saúde se preocuparem com os enfermeiros e melhorem as suas condições de trabalho.

No dia 16 de fevereiro lançaram uma campanha que visa a alteração do Decreto de Lei da Carreira de Enfermagem. Em que é que consiste? Quais são as principais reivindicações destes profissionais?
A principal reivindicação prende-se com a valorização profissional e salarial dos enfermeiros, para além da resolução de problemas antigos como, por exemplo, a contabilização de pontos para efeitos de progressão na carreira de todos os enfermeiros com contrato individual de trabalho. Esta é uma injustiça gritante que atira cerca de 50% dos enfermeiros que trabalham no Serviço Nacional de Saúde para um imobilismo na carreira que determina a sua saída. É imperiosa a adoção de medidas de retenção de enfermeiros que, no essencial, garantam estabilidade e perspetivas de desenvolvimento ao longo da vida profissional dos enfermeiros.

Sente que este sector tem sido menosprezado por parte do Governo? Considera que devia haver uma maior intervenção começando, por exemplo, pela contratação de mais enfermeiros?
Tem sido menosprezado na exata medida em que, como referido, existem problemas, cujas soluções têm vindo a ser proteladas, traduzindo-se no aumento do desgaste, da desmotivação e da revolta dos enfermeiros.

Os enfermeiros da Região Autónoma da Madeira já viram produzida legislação para corrigir o descongelamento com a contagem de todos os pontos. Será finalmente hora para que todos os enfermeiros do país tenham exatamente os mesmos direitos?
Naturalmente. Se não fosse dramático, era hilariante. Não temos um país. Temos 3 “países”. Nos Açores, contaram todo o tempo de serviço logo em 2012 e agora fizeram outros ajustes. Na Madeira, contaram todos os pontos e até atribuíram a menção de Excelente a todos os enfermeiros nos anos pandémicos. No Continente, nada! O atual Primeiro-ministro, na proposta de Orçamento do Estado para 2022, assumiu a decisão política de contar os pontos. Exige-se que cumpra e, já agora, entendemos que o pode fazer de imediato apesar de estarmos a ser “geridos em duodécimos”.

Considera que ser enfermeiro, pela missão que têm de ajudar a salvar vidas, continua a ser uma profissão pela qual vale a pena lutar ainda que mereça mais reconhecimento?
Claro, é a melhor profissão do mundo! Temos o reconhecimento da população, dos doentes, utentes e suas famílias. Apenas o poder político recusa materializar esse reconhecimento em medidas concretas de valorização dos enfermeiros.

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