O Direito como um todo focado no acompanhamento do cliente
Em entrevista à Revista Business Portugal, Rita Cardoso desvenda o percurso que a levou à criação do próprio projeto – Rita Cardoso & Associados -, bem como as suas áreas de atuação, destacando o Direito Imobiliário, como o ramo mais procurado e mais dinâmico na atualidade.
Primeiramente, gostaríamos de conhecer melhor o escritório Rita Cardoso & Associados. Criar o seu próprio projeto sempre fez parte dos objetivos?
Sim e não. Sempre me vi a trabalhar para mim e por conta própria o que não significava, necessariamente, vir a ter o meu próprio projeto, quando terminei o curso.
Sempre soube o quê, como queria ser e porquê, que tipo de profissional me queria tornar, e no escritório onde estagiei tive a liberdade de evoluir neste sentido e com advogados de excelência, tanto a nível de conhecimento e experiência, na área do imobiliário e fiscalidade e na barra, mas também na vertente humana de priorizar e entender as necessidades específicas do cliente.
Com essa dinâmica tão enriquecida vêm formas de organização e gestão próprias nos processos e nos negócios que enriquece o próprio trabalho e que traz a valorização e reconhecimento dos clientes e que, depois, naturalmente, conduz à necessidade de abraçar um projeto próprio que reflita a nossa essência e que tem vindo a progredir e a consolidar-se, até porque nesta área, como em tantas outras, acredito que atraímos o tipo de cliente mais próximo ao tipo de profissional que somos e à medida que nos vamos estabelecendo no mercado isso é cada vez mais notório.
Como tem sido o percurso traçado?
Como referi, o percurso foi-se traçando por si só e foi uma consequência natural da evolução pessoal e profissional e da experiência entretanto adquirida. Esse percurso vai sendo orientado pelos princípios basilares que cada um estipula na sua forma de viver e que se manifestam na esfera profissional. Quando atuamos com dignidade, honestidade e integridade, respeitamos o cliente e salvaguardamos os seus interesses como se dos nossos se tratassem, a consequência é a evolução dos nossos projetos e o avanço neste maravilhoso percurso e tudo o que o compõe, desde a estrutura, equipa e carteira de clientes.
A paixão pelo Direito está no sangue e nasceu comigo, o meu pai é juíz desembargador jubilado e, desde que ingressei na área, a discussão de temas ou processos mais complexos sempre foi um dos grandes pilares da nossa boa relação pai-filha e, em grande parte, a maior responsável por procurar sempre expandir horizontes além do que o Direito, à primeira vista, oferece.
Enquanto líder, que cunho procura imprimir na sua liderança e que valores pretende transmitir à equipa que a acompanha?
Na minha opinião, e é assim que procuro gerir a sociedade, o principal é que percebam que as relações, sejam elas de que natureza forem, têm uma grande componente de reciprocidade e, como tal, a nossa profissão e a forma como desempenhamos o nosso trabalho são uma extensão do que somos a nível pessoal e que o resultado dos serviço e aconselhamento prestados irá refletir isso mesmo. A equipa tem que se ir formando e crescendo com pessoas de carácter forte e com princípios bem estabelecidos, porque só pessoas dedicadas, honestas e organizadas conseguem integrar uma estrutura e equipa motivada, focada e responsável.
No seu escritório são abrangidas várias áreas dentro do Direito, entre elas, a do Direito Imobiliário. Que tipo de serviços prestam neste âmbito?
Eu vejo o Direito como um todo e o acompanhamento do cliente é sempre feito nesses moldes, e o Direito Imobiliário não é excepção.
Somos responsáveis, nessa área, pelo aconselhamento personalizado na compra ou na venda do imóvel. Este aconselhamento incide, além da análise da documentação para verificar se o imóvel tem quaisquer ónus ou encargos que, à primeira vista, possam passar despercebidos, no planeamento fiscal e respetiva tributação, que sempre se pretende minimizar, inerente à operação, registos e celebração de contratos. Incide também sobre o tipo de investimento de acordo com as oscilações e tendência do mercado imobiliário, preços, tipologia e propósito do investimento e aptidões do negócio.
O acompanhamento e aconselhamento feito por profissionais com experiência e responsabilidade é, na minha opinião, o fator determinante na capacidade de criar património e gerar rendimento, pois afetam diretamente a potencialidade e maximização de retorno desses investimentos e a capacidade de prosperar dos negócios e das empresas, que idealmente se prolongarão no tempo.
Considera que este ramo do Direito é cada vez mais procurado em Portugal?
Diria, que não apenas mais procurado, como bastante mais dinâmico. As sucessivas alterações legislativas ao regime do alojamento local e tributação, os regimes fiscais bastante apelativos direcionados a estrangeiros, a facilidade de entrada e permanência no país a as regalias associadas ao investimento imobiliário para privados e empresas, aliados ao clima, custo de vida e segurança, comparativamente com outros países, fazem de Portugal um país paradisíaco para viver com qualidade e isso reflete-se no mercado imobiliário. O maior exemplo disto, diria eu, é o Regime do Residente não habitual.
No entanto, temo que as últimas regras estabelecidas pelo Governo relativas à habitação, sejam suscetíveis de afetar, irremediavelmente, a confiança dos investidores, nacionais e estrangeiros e, consequentemente, os investimentos no sector.
Para a Rita, que fatores distinguem o Direito Imobiliário das restantes áreas em que atua?
A falta de estabilidade legislativa que, só por si, requer um cuidado acrescido na análise desses investimentos e documentação conexa e que traz consequências diretas e nefastas para o investimento estrangeiro e para a estabilidade e confiança do mercado imobiliário e tem um impacto brutal no Regime de Alojamento Local e no Arrendamento Habitacional, o que faz do acompanhamento e aconselhamento jurídicos uma ferramenta essencial nos tempos que correm para determinar a real viabilidade dos investimentos no sector imobiliário.
Este exige uma atenção redobrada ao envolvimento do mercado português?
Eu considero que o envolvimento do mercado português é que requer uma atenção redobrada da evolução deste mercado pelo impacto de uma eventual retração no investimento estrangeiro e no turismo.
Na sua ótica, quais são os principais desafios do trabalho como advogada?
Penso que o principal desafio seja alterar a mentalidade que a advocacia e os advogados servem apenas para resolver problemas e a conotação negativa ainda a eles associados.
Os advogados são, eu diria, o melhor recurso e salvaguarda para qualquer decisão importante na nossa vida e o seu contributo, conhecimento e experiência não deve ser menosprezado, porque escolhendo o profissional adequado ao propósito, o retorno será sempre o melhor resultado possível da decisão tomada. Isto porque uma decisão informada e cuidadosa e previamente analisada por alguém competente é uma aposta num futuro de sucesso e numa vida melhor.
Por outro lado, o que mais aprecia na profissão?
Sem dúvida, a possibilidade de fazer uma grande diferença na vida das pessoas e poder fazê-lo com liberdade e autonomia e o impacto que o nosso trabalho quando é bem feito tem em todo o percurso de vida das pessoas. Influenciando positivamente as suas relações, conjugais e laborais, a relação com o dinheiro, nos seus problemas e na apresentação de soluções para os seus negócios e investimentos pessoais e profissionais porque, como já referi, um é o reflexo do outro.
A possibilidade de expansão infinita de conhecimento e melhoramento quando olhamos para o Direito como um todo e, havendo esta ligação entre a esfera privada e a profissional, nós somos a nossa casa, a nossa família, o nosso trabalho e criamos a nossa própria definição de sucesso.
A respeito do futuro, como é que se imagina daqui a dez anos, a nível pessoal e profissional?
Esta é uma pergunta sensível. Não vejo a vida dessa forma, tenho projetos e objetivos a médio e longo prazo como todos, mas a minha experiência diz-me que, o que considero, neste momento, que pretendo alcançar daqui a dez anos não será aquilo que, com muita probabilidade, corresponde às expectativas da mulher que serei daqui a dez anos, porque a evolução e a ambição tornam-nos mais exigentes.
O que quero daqui a dez anos é o que quero daqui a 20 ou 50, manter a essência: continuar casada com o meu marido, ser a mãe das nossas três crianças maravilhosas e, sempre na sua companhia, continuar a trabalhar, a investir (também no ramo imobiliário como sempre fiz) e a criar projetos e negócios, ter a liberdade de aproveitar as oportunidades que vão surgindo e as portas que se vão abrindo, honrando a vida para que consiga sempre manter este sentimento de realização pessoal e profissional que me tem acompanhado enquanto percorro o meu caminho, e disfrutar do que a vida me deu e do que vou construindo e consolidando, fazendo a minha parte de servir e acrescentar valor aos outros naquilo que é a minha vocação e profissão. O próximo passo será continuar a transmitir, através do exercício de uma advocacia essencialmente preventiva, a importância de um bom advogado, e para os jovens, através de cursos dinâmicos de negócios e investimentos, a importância da relação com o dinheiro, do conhecimento da lei e literacia financeira e desenvolver, a partir dessas gerações, métodos de trabalho e estipulação de metas que lhes permita diversificar opções de negócio, de profissão e de criação de património e rendimento, mais uma vez e sempre, mantendo a essência, porque sou uma advogada de profissão e de coração.