Leishmaniose canina: algumas noções importantes

Dr.ª Marta Monteiro, Médica Veterinária, estudante de Doutoramento na Faculdade de Medicina Veterinária – Universidade de Lisboa

Leishmaniose: uma doença com impacto global

A Leishmaniose é uma doença que afeta diversas espécies animais, como o cão, o gato e o ser humano, sendo endémica (isto é, com uma presença constante) em cerca de 90 países. É uma doença mais comum em regiões com elevada taxa de pobreza, onde as condições de salubridade e acesso à saúde são reduzidas, mas tem-se disseminado a nível global e é alvo de preocupação pela Organização Mundial de Saúde. A disseminação tem sido associada às alterações climáticas e à globalização, com transporte de animais infetados de países endémicos para não endémicos.

Como se transmite?

O agente causador da Leishmaniose é um parasita do género Leishmania. A transmissão é geralmente feita através de um inseto: uma fêmea de flebótomo (género Phlebotomus, na Europa) que, quando infetada, inocula o parasita na pele do hospedeiro, durante a sua refeição. Contrariamente ao mosquito, o flebótomo não necessita de água para se reproduzir, depositando os seus ovos nos mais variados locais terrestres, desde que suficientemente húmidos, como sob pedras, em abrigos de animais ou em árvores.

A Leishmaniose canina: porque é tão importante prevenir?

A Leishmaniose canina é endémica em Portugal e é provocada sobretudo pela espécie Leishmania infantum. Trata-se de uma espécie zoonótica (ou seja, transmissível entre animais e humanos), sendo o cão a principal fonte de infeção para o Homem, embora a transmissão seja feita através do flebótomo.

O parasita afeta o sistema imunitário do hospedeiro, podendo desencadear diversas respostas. Um cão infetado pode conseguir controlar a infeção e manter-se clinicamente saudável, ou desenvolver sinais clínicos variados, que podem culminar na sua morte. Alguns dos sinais clínicos são a perda de peso, o aumento dos gânglios linfáticos, alterações da pele e do pêlo ou o crescimento acelerado das unhas. As alterações laboratoriais podem consistir em anemia, alteração das proteínas do sangue, de parâmetros renais e hepáticos, entre outras.

Aumento do crescimento das unhas num cão com leishmaniose

Um dos maiores desafios da Leishmaniose canina tem sido a dificuldade em eliminar totalmente o parasita do animal, após infeção. O tratamento pode até permitir a cura clínica do animal, mas este manter-se portador do parasita e transmitir a infeção a outros animais ou mostrar sinais de doença, novamente, mais tarde. Por isso, é fundamental investir na prevenção da disseminação da infeção.

 

Como posso prevenir a Leishmaniose canina?

 As estratégias de prevenção baseiam-se em dois princípios: por um lado, reduzir a probabilidade de infeção via flebótomo; por outro, prevenir o desenvolvimento de doença no caso de infeção.

Leishmania ao microscópio

Para reduzir a probabilidade de infeção, recomenda-se sobretudo a utilização de produtos com ação repelente, como pipetas, spray e coleiras. Outras estratégias incluem manter o animal dentro de casa nas horas de maior atividade do flebótomo (ao anoitecer), utilizar redes mosquiteiras e reduzir os microhabitats favoráveis ao mesmo, podendo também aplicar-se nesses locais inseticidas apropriados. Importa ressalvar que os comprimidos desparasitantes não têm ação repelente contra a Leishmaniose, sendo necessário associar um dos produtos referidos anteriormente. Este protocolo deve ser, por isso, cuidadosamente estabelecido em conjunto com o Médico Veterinário.

Por fim, para prevenir o desenvolvimento de doença num animal infetado, pode estimular-se o seu sistema imunitário, tornando-o mais competente no combate à infeção. Para tal, destacam-se a vacinação anual e a administração de imunomoduladores. A vacinação é recomendada apenas em animais não infetados, pelo que se deve testar primeiramente o animal para a presença do parasita. Também a utilização de imunomoduladores deve ser ponderada caso a caso, considerando o historial clínico do animal.

Estas duas linhas de prevenção não são mutuamente exclusivas e devem ser associadas num protocolo a determinar em conjunto com o Médico Veterinário.

Na dúvida, já sabe: prevenir é sempre o melhor remédio.

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