Leishmaniose Canina: Prevenção e Saúde Pública

 

 

Isabel Pereira da Fonseca, Médica Veterinária, Professora Associada com Agregação de Parasitologia e Doenças Parasitárias na Faculdade de Medicina Veterinária – Universidade de Lisboa

 

 

Leishmaniose Canina: Em Portugal, referimo-nos especialmente a um tipo de leishmaniose designada por Leishmaniose Visceral Zoonótica (LVZ) que afeta vários órgãos internos (fígado, baço, linfonodos, medula óssea, etc.) e a pele, sendo causada sobretudo por Leishmania infantum.  

Este protozoário é transmitido pelas fêmeas de pequenos insetos de cor amarela clara do género Phlebotomus (vulgo flebótomos) que, estando infetadas, transmitem o parasita durante a refeição que efetuam na pele dos nossos animais de companhia. Os flebótomos têm maior atividade entre Março e Outubro, vivem nos jardins, florestas, abrigos dos animais, caixotes de lixo, entre outros, proporcionando-se um fácil contacto com os cães.  Existem, ainda, outras vias de transmissão de L. infantum como através de transfusão sanguínea, transmissão venérea e transmissão mãe-filho.  

A LVZ é considerada uma zoonose porque, através dos flebótomos, pode ser transmitida dos cães e gatos (entre outros animais) aos seres humanos. No Mundo, a LVZ distribui-se por mais de 70 países, em quatro continentes. 

Após a infeção, o desenvolvimento (ou não) de sinais clínicos depende do tipo de resposta imunitária de cada cão sendo esta caraterística geneticamente determinada. Existem cães que conseguem controlar a infeção e outros em que a doença evolui surgindo perda de peso, aumento dos linfonodos e do crescimento das unhas, feridas de difícil cicatrização e sinais de doença hepática e renal, entre outros. Após o diagnóstico clínico e laboratorial, e feito o estadiamento da doença, o tratamento deverá ser implementado o mais cedo possível para reduzir a taxa de mortalidade. 

 

Formas de Leishmania infantum dentro de um macrófago na medula óssea de cão.​

 

Prevenção: A prevenção é feita recorrendo a estratégias de controlo dos flebótomos (aplicação de repelentes sob a forma de coleiras ou em pipeta de preferência durante todo o ano) e à estimulação da imunidade do cão (vacinação anual e, em casos específicos, medicação com imunomoduladores). De realçar que os repelentes devem ser sempre aplicados mesmo em animais vacinados.  

A salientar, também, que a manutenção de um bom estado de saúde do animal, os rastreios regulares da infeção, a não utilização, como reprodutores, de animais que se encontram infetados ou que já tiveram LVZ, e a implementação de cuidados de higiene ambiental para eliminar os locais de criação dos flebótomos são medidas fundamentais.  

Contexto em Saúde Pública: No caso da LVZ, a infeção só é transmitida aos humanos após a picada do flebótomo sendo improvável que um ser humano se infete por contacto direto com um cão (ou gato) infetado ou doente.  

 

 

Lesões cutâneas peri-oculares em cães com leishmaniose

 

De salientar que, nos humanos, esta doença ocorre, maioritariamente, nas populações mais carenciadas em áreas rurais e suburbanas – associadas a higiene deficitária que facilita a proliferação dos insetos transmissores – ou em indivíduos imunodeficientes e em crianças até aos 5 anos. Regra geral, os sinais são cutâneos e facilmente controláveis.   

Como nota final, relativamente à LVZ, os tutores dos animais devem aconselhar-se com o médico veterinário, que esclarecerá qualquer dúvida adicional e definirá qual o melhor plano de prevenção para cada caso, preservando os importantes benefícios que resultam do convívio entre cães saudáveis e humanos. 

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