Leishmaniose Canina: Prevenção e Saúde Pública
Leishmaniose Canina: Em Portugal, referimo-nos especialmente a um tipo de leishmaniose designada por Leishmaniose Visceral Zoonótica (LVZ) que afeta vários órgãos internos (fígado, baço, linfonodos, medula óssea, etc.) e a pele, sendo causada sobretudo por Leishmania infantum.
Este protozoário é transmitido pelas fêmeas de pequenos insetos de cor amarela clara do género Phlebotomus (vulgo flebótomos) que, estando infetadas, transmitem o parasita durante a refeição que efetuam na pele dos nossos animais de companhia. Os flebótomos têm maior atividade entre Março e Outubro, vivem nos jardins, florestas, abrigos dos animais, caixotes de lixo, entre outros, proporcionando-se um fácil contacto com os cães. Existem, ainda, outras vias de transmissão de L. infantum como através de transfusão sanguínea, transmissão venérea e transmissão mãe-filho.
A LVZ é considerada uma zoonose porque, através dos flebótomos, pode ser transmitida dos cães e gatos (entre outros animais) aos seres humanos. No Mundo, a LVZ distribui-se por mais de 70 países, em quatro continentes.
Após a infeção, o desenvolvimento (ou não) de sinais clínicos depende do tipo de resposta imunitária de cada cão sendo esta caraterística geneticamente determinada. Existem cães que conseguem controlar a infeção e outros em que a doença evolui surgindo perda de peso, aumento dos linfonodos e do crescimento das unhas, feridas de difícil cicatrização e sinais de doença hepática e renal, entre outros. Após o diagnóstico clínico e laboratorial, e feito o estadiamento da doença, o tratamento deverá ser implementado o mais cedo possível para reduzir a taxa de mortalidade.
Prevenção: A prevenção é feita recorrendo a estratégias de controlo dos flebótomos (aplicação de repelentes sob a forma de coleiras ou em pipeta de preferência durante todo o ano) e à estimulação da imunidade do cão (vacinação anual e, em casos específicos, medicação com imunomoduladores). De realçar que os repelentes devem ser sempre aplicados mesmo em animais vacinados.
A salientar, também, que a manutenção de um bom estado de saúde do animal, os rastreios regulares da infeção, a não utilização, como reprodutores, de animais que se encontram infetados ou que já tiveram LVZ, e a implementação de cuidados de higiene ambiental para eliminar os locais de criação dos flebótomos são medidas fundamentais.
Contexto em Saúde Pública: No caso da LVZ, a infeção só é transmitida aos humanos após a picada do flebótomo sendo improvável que um ser humano se infete por contacto direto com um cão (ou gato) infetado ou doente.
De salientar que, nos humanos, esta doença ocorre, maioritariamente, nas populações mais carenciadas em áreas rurais e suburbanas – associadas a higiene deficitária que facilita a proliferação dos insetos transmissores – ou em indivíduos imunodeficientes e em crianças até aos 5 anos. Regra geral, os sinais são cutâneos e facilmente controláveis.
Como nota final, relativamente à LVZ, os tutores dos animais devem aconselhar-se com o médico veterinário, que esclarecerá qualquer dúvida adicional e definirá qual o melhor plano de prevenção para cada caso, preservando os importantes benefícios que resultam do convívio entre cães saudáveis e humanos.