“Cada obra é uma pessoa, uma família, uma vida”

Sofia Dias

A Engª Sofia Dias explica o conceito da sua marca, Querida Sofia Dias, que tem como base o respeito, a dedicação e a relação de proximidade para com aqueles que a procuram.

 

Comecemos por conhecer um pouco mais sobre si. Enquanto mulher e profissional, quais são as principais características que a identificam?

O meu nome é Sofia e tenho 40 anos, nasci em Lisboa onde vivi até aos 26 anos. Sou a chamada “alfacinha de gema”. Cresci com a luz de Lisboa e vi a cidade a evoluir, mas sem nunca perder a sua delicadeza e beleza, e isso sempre me fascinou. Desde sempre que me lembro de ter de lutar pelos meus objetivos e isso fez de mim uma lutadora insaciável. Sou muito ambiciosa, lutadora e sonhadora. Persistente e muito assertiva perante o mundo que me rodeia. Cheguei à idade adulta rodeada de música, arte e dança, o que me fez desenvolver a parte criativa e delicada/sentimental perante praticamente tudo o que faço. Dancei cerca de 16 anos ballet clássico, e ainda hoje a dança é uma grande paixão. Se sou tão resiliente devo muito ao que o ballet me ensinou.

Não desisto de objetivos em que acredito e mantenho o foco até concretizar aquilo a que me proponho. Procuro ser disponível e atenta diariamente para com toda a equipa que me responde, e que hoje sem ela não conseguiria chegar a tanta gente.

 

Licenciada em engenharia civil, especializou-se em remodelação e reabilitação de edifícios e em design de interiores. O que é que a apaixona verdadeiramente nesta área?

A licenciatura em engenharia aparece sem grandes planos. Na realidade, na altura, não tinha certezas nenhumas, mas com o passar do tempo descobri o meu lugar neste mundo maravilhoso. A engenharia deu-me as bases necessárias na gestão e técnica para conseguir dominar um processo que pode ter mil e uma soluções dado que não há uma obra ou um problema igual. Todos os dias são diferentes e temos de ter soluções novas. Isto ensina-nos e faz-nos crescer e amadurecer. Mas rapidamente percebi que só a engenharia não seria suficiente para dar resposta a um nicho de mercado que não tinha resposta – a reabilitação e a remodelação. A técnica e a gestão são importantes, mas o respeito pelo património e pelo cliente que o vai habitar é tão ou mais importante que a técnica. Cada obra é uma pessoa, uma família, uma vida e temos de respeitar o espaço que será dela e não nosso. É aqui que entra a verdadeira essência de remodelar e reabilitar, dar nova vida ao património para quem vai usar aquele espaço e somando a isso estudar a sua funcionalidade, conforto e decoração.

 

Fez parte do projeto “Querido, Mudei a casa!”. Podemos afirmar que esta foi uma experiência muito enriquecedora a nível profissional?

A experiência de participação num programa televisivo foi muito enriquecedora a vários níveis. Na resistência humana, no rápido raciocínio, na gestão do dia a dia. Os projetos são realizados em 48h, que podem, por vezes, ser praticamente continuas, sem descanso. Isto veio desafiar a nossa resistência, tudo tinha de ser decidido em minutos e a vida continuava o seu rumo fora daquele mundo televisivo. Os nossos clientes foram todos atendidos, mesmo com semanas a dormir muito pouco, mas a experiência foi muito gratificante e valeu o sacrifício. Não me arrependo em nada da participação e cresci muito ao partilhar tanto com a equipa do “Querido, Mudei a Casa!”.

 

“A felicidade não se cria, constrói-se” é o lema da “Querida Sofia Dias”. Porque é que decidiu criar o seu próprio negócio e quais os serviços que disponibiliza aos clientes?

A criação do próprio negócio vem da minha falta de identificação com o que era “normal ser executado nas obras”. Este sector era visto como sendo um mundo de homens, onde dominava a regra do pedreiro, do servente e tudo era feito “porque sempre tinha sido assim”. Eu não me identificava e senti que conseguia mostrar e construir essa mudança. Oferecer ao cliente um serviço completo que começa por ouvir o que ele sente, passando por estudar o layout em função da sua vida/estilo/necessidades, seguindo-se a construção e remodelação do espaço e entregando sempre a obra limpa pronta a ser utilizada com uma equipa que lhe dá a cara e garantia em todas as situações.

É uma luta diária, infelizmente este mercado está muito “mal visto”, e a mão de obra que sabe trabalhar envelhecida o que dificulta, por vezes, que entendam e aceitem esta mudança.

Comigo o cliente pode executar o seu projeto de remodelação sempre personalizado, executar a obra de remodelação, construção de raiz ou simplesmente redecorar a sua casa. Garantimos o acompanhamento de todo o processo com uma equipa com tarefas definidas onde a marca Querida Sofia Dias tem a base do respeito e de uma relação próxima e dedicada a quem nos procura.

 

Nesta área que, aos olhos da sociedade, é destinada, sobretudo, aos homens, aguma vez se sentiu menosprezada por ser mulher? Que características considera serem fundamentais para as mulheres singrarem no meio empresarial?

Ser mulher num mundo de homens é algo a que nos vamos habituando desde a época de faculdade, e não é fácil. Ainda assim, é necessária alguma resiliência e firmeza para nos destacarmos, porque nos querem fazer acreditar que somos o “sexo fraco” e que temos mais a provar que os homens. Felizmente, sinto que este estigma tende a dissipar-se na sociedade atual. Nos dias que correm, ainda é desafiante coordenar equipas masculinas habituadas a serem os alfas das suas famílias e equipas profissionais. A visão da mulher empreendedora, empoderada, decidida é ainda algo em valorização na sociedade em geral. Mas basta parar e olhar com atenção e rapidamente identificamos que temos grandes mulheres a mudar este paradigma. Gosto de me ver como uma delas, que luta diariamente pela valorização da mulher enquanto pessoa tão capaz de ser vencedora num meio que era dominado pelos homens.

Tive situações caricatas, vivi muitos desconfortos, e até aconteceu ter de me “refugiar”, pois enquanto mulher era “fraca” e, por isso, um bom alvo.

Ao longo destes 16 anos também fui uma sortuda, pois encontrei homens muito especiais que me deram a mão e acreditaram que eu seria igual a qualquer um deles, e foi a isso que me agarrei. Por muito que sentisse desdenho, também senti muita compaixão e apoio. Hoje alguns destes ainda trabalham comigo e isso é a prova que em equipa, com objetivos bem traçados, com amadurecimento e estrutura de partilha de conhecimentos tudo é possível.

Costumo dizer que eu não acredito que sou uma mulher no mundo dos homens. Eu acredito que o mundo dos homens é feito também por grandes mulheres.

As mulheres não têm de ser super heroínas para vingar num meio que é dominado por homens.  Se formos confiantes no nosso conhecimento e na nossa filosofia, ser homem ou mulher é completamente indiferente.

O nosso know-how é tão importante quanto o deles, até consegue ser mais abrangente, por vezes, pois conseguimos ver ao pormenor. Não quer dizer que eles não consigam, mas a mulher talvez por ser estimulada a dar resposta a todo um mundo de ações na sociedade, desde ser mulher, dona de casa, mãe, trabalhadora, entre outros, acaba por ter uma visão abrangente e, ao mesmo tempo, de um pormenor minucioso que o homem precisa de mais tempo para “lá chegar”.

Por isso, nunca duvidar de si mesmas, desenvolverem as suas capacidades únicas e trabalhar com muita dedicação, resiliência e foco são para mim as ferramentas base para que o caminho seja feito atingindo objetivos.

 

Que palavras gostaria de deixar àquelas que têm medo de arriscar e criar a sua própria empresa? E a título pessoal, o que espera concretizar neste novo ano de 2023?

Quando me pedem “conselhos para vingar num sector (ainda e sobretudo) de homens”, eu prefiro apenas referenciar algumas máximas, sobretudo, aquelas que eu vivencio diariamente e que me dão provas de estar no caminho certo. Ser mulher não é ser menos sábia, menos forte nem menos capaz, apenas temos de usar a nossa força naquilo que nos faz ser bons no que fazemos todos os dias.

Enquanto engenheira civil, gerente de uma empresa, eu diria que valorizar-nos e acreditarmos que somos capazes é a chave do nosso sucesso pessoal. Este selo traz consigo os valores que defendemos e que nos faz ser diferenciadores no mercado: desenvolver boas práticas no serviço prestado; ser humilde, sendo capaz de crescer e a aprender todos os dias, e munindo-nos de novas ferramentas e conhecimentos para continuarmos a nossa jornada; sermos profissionais capacitados e honestos pois o nosso cliente precisa de quem lhe construa sonhos e não de quem lhe apresente dificuldades.

Aconselho a que procurem fortalecer a vossa inteligência emocional, pois é, sem dúvida, uma das armas mais fortes, assim como o autoconhecimento e a capacidade de gestão. Temos de estar em constante alerta, pois gerir pessoas e prestar serviços é um desafio constante. Conhecermo-nos e acreditarmos que somos capazes é fulcral para tomarmos decisões de forma mais segura. Saber tomar uma decisão e sermos responsáveis pelas suas consequências faz toda a diferença e transmite segurança a todos os que nos rodeiam. Ter uma atitude firme e de partilha de liderança torna o grupo mais coeso e assim os objetivos alcançam-se com mais facilidade. Nada se faz sem humildade, ser humilde em tudo é essencial, pois é assim que somos verdadeiros para connosco e para com os outros.

Este ano de 2023 será um ano desafiante. Estamos a recuperar lentamente de uma pandemia e de uma guerra que trouxe consequências a toda a estrutura económica e teremos de ser muito cautelosos. Será um ano de muito trabalho e de afirmação. Procuro que este ano seja o ano de consolidação daquilo por que acredito, de valorização pessoal e espero conseguir chegar a muitas mulheres para que se levantem e sintam-se capazes de acreditar que é possível.

É possível ser feliz a fazer aquilo que mais gostamos, a viver a nossa filosofia de vida e a dar o que sabemos ao mundo.

É possível viver e ser-se verdadeiramente feliz sem termos de ser aquilo que a sociedade nos impõe, mas sim sendo nós próprias.

Cada uma de nós é uma grande mulher na sociedade em que estamos inseridos, apenas temos de olhar para o nosso reflexo no espelho e ver o que ele nos quer dizer. Acreditar.

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