Dermatite Atópica na infância – uma revolução no tratamento
A Dermatite (ou eczema) Atópica é uma das doenças crónicas de pele mais comuns, estimando-se que afete 4,4% da população em Portugal. A sua prevalência na idade pediátrica é particularmente elevada, afetando cerca de 10 a 20% das crianças e adolescentes. Embora a dermatite atópica melhore numa proporção significativa, as lesões e os sintomas persistem para a idade adulta em muitos casos, podendo até agravar.
A Dermatite Atópica é uma doença pautada por dor e prurido (comichão) diário. As lesões resultam da inflamação da pele – vermelhidão (eritema), descamação, exsudação e escoriações – e, quando a inflamação é prolongada, espessamento da pele (liquenificação). As lesões localizam-se, tipicamente, na face e superfície extensora (“parte de fora”) dos braços e pernas dos bebés e crianças muito jovens. Nas crianças mais velhas e adolescentes são mais frequentes lesões nas pregas dos cotovelos, dos joelhos e no pescoço. Ocasionalmente, esta doença pode afetar toda a pele e motivar internamento hospitalar.
Esta é uma doença física e emocionalmente debilitante quer para os doentes quer para os familiares. Apesar das lesões de eczema e do prurido serem o mais visível, estes são apenas o topo de um iceberg, o qual esconde outras manifestações como exclusão social e escolar, bullying, baixa autoestima e evicção de exercício físico. A seleção do vestuário é também impactada, com alguns jovens preferindo usar roupas compridas de modo a esconder as suas lesões. As noites mal dormidas são também frequentes, o que leva a fadiga e prejudica a capacidade de concentração e aprendizagem. Apesar disto, a Dermatite Atópica é ainda desvalorizada como “só uma doença de pele”, o que em nada ajuda o sofrimento daqueles que dela padecem.
A causa exata da Dermatite Atópica não é conhecida, mas parece tratar-se de uma combinação de fatores genéticos e ambientais – frequentemente, estes doentes têm um historial familiar da doença, e podem também ter outras doenças do espetro da atopia, como a asma ou rinite alérgica.
O tratamento da Dermatite Atópica é complexo e envolve vários eixos terapêuticos. Emolientes e produtos de banho adequados, evicção de alguns estimuladores do eczema, associado ao uso pontual de antiinflamatórios tópicos podem ser suficientes nos casos ligeiros.
Nos doentes que apresentam doença moderada a grave estas medidas não são suficientes e são necessários medicamentos sistémicos. Felizmente, hoje vivemos uma era muito gratificante no tratamento da Dermatite Atópica. Esta revolução terapêutica iniciou-se em 2017 com a aprovação, pela Agência Europeia do Medicamento, do primeiro biotecnológico para a Dermatite Atópica moderada e grave em adultos. Desde então outros fármacos inovadores se seguiram, que contam igualmente com dados robustos de eficácia e segurança. Alguns destes fármacos inovadores estão já disponíveis, através Sistema Nacional de Saúde, para doentes em idade pediátrica com Dermatite Atópica grave, inclusive a partir dos 6 anos de idade. No caso dos Estados Unidos da América, uma destas terapêuticas inovadoras já está aprovada a partir dos 6 meses de idade, esperando-se também que futuramente receba aprovação na Europa. A maioria dos doentes com Dermatite Atópica começa com sintomas logo nos primeiros meses de vida e progride ao longo dos anos. Sendo a 1ª infância um período fulcral no desenvolvimento físico, cognitivo, social e emocional, enaltecem-se estas novidades terapêuticas, mais eficazes e seguras, para o tratamento dos casos mais graves em idade pediátrica.
A Dermatite Atópica pode ter um impacto significativo na qualidade de vida dos doentes, mas atualmente dispomos de armas terapêuticas que controlam eficazmente a doença. Relatos como “durmo a noite toda, já não me coço!” e “consigo ir à natação!” são testemunhos reais que traduzem o sucesso do tratamento atual nesta doença.
Se tem Dermatite Atópica ou conhece quem tenha, saiba que há tratamento. Não hesite em pedir ajuda ao seu dermatologista.