Dermatite Atópica na infância – uma revolução no tratamento

Dr. Bruno Duarte
Assistente Hospitalar de Dermatovenereologia no Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central

Dr.ª Ana Clara Valente
Interna de Formação Especifica em Dermatovenereologia no Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central

A Dermatite (ou eczema) Atópica é uma das doenças crónicas de pele mais comuns, estimando-se que afete 4,4% da população em Portugal. A sua prevalência na idade pediátrica é particularmente elevada, afetando cerca de 10 a 20% das crianças e adolescentes. Embora a dermatite atópica melhore numa proporção significativa, as lesões e os sintomas persistem para a idade adulta em muitos casos, podendo até agravar.

A Dermatite Atópica é uma doença pautada por dor e prurido (comichão) diário. As lesões resultam da inflamação da pele – vermelhidão (eritema), descamação, exsudação e escoriações – e, quando a inflamação é prolongada, espessamento da pele (liquenificação). As lesões localizam-se, tipicamente, na face e superfície extensora (“parte de fora”) dos braços e pernas dos bebés e crianças muito jovens. Nas crianças mais velhas e adolescentes são mais frequentes lesões nas pregas dos cotovelos, dos joelhos e no pescoço. Ocasionalmente, esta doença pode afetar toda a pele e motivar internamento hospitalar.

Esta é uma doença física e emocionalmente debilitante quer para os doentes quer para os familiares. Apesar das lesões de eczema e do prurido serem o mais visível, estes são apenas o topo de um iceberg, o qual esconde outras manifestações como exclusão social e escolar, bullying, baixa autoestima e evicção de exercício físico. A seleção do vestuário é também impactada, com alguns jovens preferindo usar roupas compridas de modo a esconder as suas lesões. As noites mal dormidas são também frequentes, o que leva a fadiga e prejudica a capacidade de concentração e aprendizagem. Apesar disto, a Dermatite Atópica é ainda desvalorizada como “só uma doença de pele”, o que em nada ajuda o sofrimento daqueles que dela padecem.

A causa exata da Dermatite Atópica não é conhecida, mas parece tratar-se de uma combinação de fatores genéticos e ambientais – frequentemente, estes doentes têm um historial familiar da doença, e podem também ter outras doenças do espetro da atopia, como a asma ou rinite alérgica.

O tratamento da Dermatite Atópica é complexo e envolve vários eixos terapêuticos. Emolientes e produtos de banho adequados, evicção de alguns estimuladores do eczema, associado ao uso pontual de antiinflamatórios tópicos podem ser suficientes nos casos ligeiros.

Nos doentes que apresentam doença moderada a grave estas medidas não são suficientes e são necessários medicamentos sistémicos. Felizmente, hoje vivemos uma era muito gratificante no tratamento da Dermatite Atópica. Esta revolução terapêutica iniciou-se em 2017 com a aprovação, pela Agência Europeia do Medicamento, do primeiro biotecnológico para a Dermatite Atópica moderada e grave em adultos. Desde então outros fármacos inovadores se seguiram, que contam igualmente com dados robustos de eficácia e segurança. Alguns destes fármacos inovadores estão já disponíveis, através Sistema Nacional de Saúde, para doentes em idade pediátrica com Dermatite Atópica grave, inclusive a partir dos 6 anos de idade.  No caso dos Estados Unidos da América, uma destas terapêuticas inovadoras já está aprovada a partir dos 6 meses de idade, esperando-se também que futuramente receba aprovação na Europa. A maioria dos doentes com Dermatite Atópica começa com sintomas logo nos primeiros meses de vida e progride ao longo dos anos.  Sendo a 1ª infância um período fulcral no desenvolvimento físico, cognitivo, social e emocional, enaltecem-se estas novidades terapêuticas, mais eficazes e seguras, para o tratamento dos casos mais graves em idade pediátrica.

A Dermatite Atópica pode ter um impacto significativo na qualidade de vida dos doentes, mas atualmente dispomos de armas terapêuticas que controlam eficazmente a doença. Relatos como “durmo a noite toda, já não me coço!” e “consigo ir à natação!” são testemunhos reais que traduzem o sucesso do tratamento atual nesta doença.

Se tem Dermatite Atópica ou conhece quem tenha, saiba que há tratamento. Não hesite em pedir ajuda ao seu dermatologista.

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