Caçar fantasmas na ASMA
Cláudia Chaves Loureiro, MD, PhD (Assistente Graduada de Pneumologia, S. Pneumologia Centro Hospitalar Universitário de Coimbra; Docente Pneumologia, Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra)
Por ter uma apresentação heterogénea há que desmistificar alguns fantasmas na asma que teimam em não desaparecer.
1. As asmas são todas iguais. Não! A asma é uma doença com várias caras!1
Porquê? Primeiro porque resulta de uma interação complexa entre cada indivíduo com o ambiente a que se expõe ao longo da vida. Isto significa que as características e especificidades de cada indivíduo (genéticas e adquiridas) vão interagir com as várias exposições que cada um tem ao longo da vida, que incluem não só as exposições ao ambiente natural (como os alergenos, mas também aos agentes microbianos e às alterações climáticas) como ao ambiente artificial (exposição ocupacional, fumos, etc).
Depois, porque os sintomas respiratórios da asma são múltiplos, não se apresentam da mesma forma em todos os doentes, nem incomodam da mesma forma cada um deles. O que para uns pode constituir um fator de dificuldade no controlo nos seus sintomas, para outros pode ser indiferente.
Isto resulta numa multiplicidade de variáveis que faz de cada asma uma doença singular que deve ser abordada de forma personalizada.
2. A asma tem cura. Por enquanto não!1
A asma pode ser controlada na grande maioria dos casos e, felizmente, temos hoje à disposição vários tipos de terapêuticas que podem controlar a doença de forma muito mais eficaz do que o que acontecia há alguns anos. Algumas delas podem modificar o curso da doença, como é o caso da imunoterapia específica, outras são particularmente decisivas nos casos de maior gravidade, como é o caso dos agentes biológicos. No entanto, não podemos ainda dizer que existe uma maneira de curar a asma.
3. Estou bem! Não preciso de fazer o meu inalador (vulgarmente conhecido por “bomba”). Uma pessoa está bem…. até deixar de estar.1
O tratamento da asma não se resume ao inalador, mas, a não ser que tenha sintomas menos do que duas vezes por mês – nesse caso pode-o fazer apenas em SOS – o inalador deve fazer parte da medicação habitual, no esquema que tiver combinado com o médico que o acompanha. Para isso há três coisas muito importantes a considerar:
a) é imprescindível que saiba reconhecer bem os seus sintomas;
b) o inalador deve incluir sempre dois medicamentos: o corticoide inalado, que reduz a inflamação nos brônquios e os sintomas de asma, e o broncodilatador, que alivia os sintomas porque dilata os brônquios, mas não tem qualquer ação na inflamação da asma que é o que causa os sintomas;
c) se apenas faz medicação de SOS, ela tem de incluir no mesmo inalador estes dois medicamentos. O uso isolado do broncodilatador na asma não está recomendado.
4. Tenho asma, não posso praticar exercício físico. A resposta é: Rosa Mota! 1
O objetivo no tratamento da asma é alcançar o controlo da doença, de forma a que o asmático possa ter um estilo de vida igual a um indivíduo saudável e isso implica fazer exercício físico. Claro que nem todos precisam de treinar para vir a ser como a Rosa Mota, mas fazer exercício físico deve ser um objetivo a alcançar nos asmáticos e é perfeitamente possível na grande maioria dos casos. Por isso mesmo, quando a asma está tratada e controlada, tomando as medidas necessárias (que inclui um aquecimento inicial moderado e, se necessário, medicação prévia ao exercício) o asmático deve promover a atividade física (natação, bicicleta, caminhadas…).
5. Os corticoides inalados engordam. Um elegante NÃO!1
A fobia aos corticoides inalados – que consiste na aversão ao uso desse medicamento- é muitas vezes responsável pela não adesão do asmático ao tratamento fundamental para o controlo da doença. Apesar de não ser perfeito e poder causar alguns efeitos secundários, o aumento de peso certamente não é um deles! A maioria dos efeitos secundários dos corticoides inalados são locais e podem ser ultrapassados com uma correta técnica inalatória ou com a alteração do tipo de inalador. Se precisar de fazer doses elevadas deve esclarecer com o seu médico os potenciais efeitos sistémicos, mas o aumento de peso não se encontra entre esses efeitos. Atenção que o mesmo não se aplica aos corticoides orais e sistémicos que têm muitos efeitos tóxicos e que apenas devem ser utilizados quando a situação clínica o justifica. Também esse é um assunto que deve conversar com o seu médico.
1 – Global Strategy for Asthma Management and Prevention , updated 2020. Global Initiative for Asthma. Disponível em https://ginasthma.org/wp-content/uploads/2020/04/GINA-2020-full-report_-final-_wms.pdf consultado a 17 de abril de 2021.