“Ajudar as pessoas é o que me move”

José Ricardo Martins, presidente

Costa da Caparica, cidade portuguesa do concelho de Almada, é conhecida por ser um destino de férias por excelência. Porém, a freguesia oferece muito mais do que isso, tanto aos seus habitantes, como àqueles que estão de passagem. Quem nos assegura isso mesmo é José Ricardo Martins, presidente da Junta de Freguesia.

“Os próximos meses preveem-se ser de muito movimento” na Costa da Caparica, considera José Ricardo Martins, presidente da Junta de Freguesia. Este ano, o verão entra timidamente, mas já se antevê um elevado número de visitantes nesta cidade banhada pelo Atlântico, da mesma forma que tem acontecido nos anos anteriores.

O mês de junho inicia uma série de eventos, desde feiras de artesanato, às marchas populares no dia de São João, santo padroeiro, as quais são destinadas a miúdos e graúdos. O festival de música ‘Sol da Caparica’ (16 a 19 agosto) já é sobejamente conhecido e atrai milhares de fãs todos os anos. “Tentamos alargar a oferta de atividades de forma a incluir toda a gente e criar ocupação para as férias. Afinal, a Costa da Caparica não é só o sol e o mar”.

A Costa da Caparica é “uma terra com muita atividade física ligada ao areal”, predisposição que se pretende estimular. Os eventos de verão culminam na ‘Maior Aula de Surf do Mundo’, a 23 de junho, na praia da Fonte da Telha e, antes disso, entre os dias 15 e 17, no Mundialito de Futebol de Praia, para o qual foi erguido um estádio multiusos, o qual irá servir para outras ocorrências desportivas que decorrem até setembro, como por exemplo, para voleibol de praia.

Para quem as competições desportivas não são um atrativo, com certeza que o são uma das 17 praias galardoadas com “Qualidade de Ouro” pela Quercus (Associação Nacional de Conservação da Natureza), as quais apresentam qualidade da água excelente nas últimas cinco épocas balneares.

Preservação do areal

Em finais de 2013 e princípios de 2014, a Costa da Caparica teve de enfrentar uma tempestade que causou avanços do mar e levou à falta de parte do areal em algumas praias. Com o auxílio do Ministério do Ambiente, tencionam colmatar essa falta ainda este ano. Este tópico serviu de introdução ao tema da preservação do areal e do papel do litoral português: “O turismo de sol e mar é o principal desígnio e forma de arrecadação de riqueza em Portugal. Por isso, temos de começar a ponderar qual será o objetivo do litoral a médio e longo prazo”, admite o edil, acrescentando: “Estamos em crer que a areia é fundamental e há que passar esta mensagem. O preenchimento do areal é necessário para a segurança da população, de bens e da dinâmica de turismo. Não pode ser encarado como desperdício de dinheiro, mas sim como defesa e proteção da linha litoral”.

Esta é a política nacional e ambiental que José Ricardo Martins defende. “As alterações climatéricas são permanentes e temos de implementar práticas amigas do ambiente”. A Junta de Freguesia e a Câmara Municipal de Almada tomam iniciativas com esse foco, a começar pelo incutir de práticas ‘eco-friendly’ nas escolas, onde os mais novos podem gerar desde cedo hábitos benéficos ao ambiente e influenciar os pais.

“Viver em sociedade é pensar em como podemos interagir com o outro e com o planeta, que é de todos. Devemos contribuir para o bem-estar geral”. As políticas ambientais não são um tema fácil de discutir, mas é necessário: “É preciso mudar mentalidades e esperamos que as pessoas estejam abertas a isso”. Afinal, o futuro constrói-se no presente.

O papel do desporto

Tão próxima da capital, a Costa da Caparica é naturalmente influenciada por alguma da dinâmica que emana de Lisboa. Talvez esse facto tenha contribuído para a dinamização da cidade costeira, na qual a autarquia se tem esforçado e já vislumbra os resultados dos seus esforços. O crescimento do turismo gerou riqueza e permitiu intervir na qualidade de vida dos habitantes.

Foram vários os motivos que contribuíram para esse crescimento: o surf, que já existia, foi potencializado através de eventos como o ‘Caparica Primavera Surf Fest’, um festival que alia a música à competição, desporto e cultura reunidos em 10 dias primaveris que fazem as delícias de quem vem para disfrutar deste evento.

Conhecendo a importância deste desporto, foram feitos protocolos sociais para colaborar com as famílias mais carenciadas e permitir aos mais novos experimentarem o surf, algo que de outra forma não teriam condições de o fazer. Este auxílio financeiro também já foi aplicado ao futebol, apesar de o presidente pretender alargar esses protocolos a mais modalidades.

“Considero que consegui transmitir a potencialidade da nossa frente de mar para a aprendizagem e prática do surf”, folga o nosso interlocutor, “estamos a 10 quilómetros de Lisboa, o que permite a quem lá trabalha deslocar-se até aqui na hora de almoço para surfar, por exemplo”. Talvez a prática de desporto associado à praia sirva como mais um reforço de sensibilidade em relação à importância da frente Atlântica, “o mais importante património que temos”, refere José Ricardo Martins.

Outro benefício do desporto é a aprendizagem que advém do convívio em equipa: “No desporto, eu sei por experiência própria, aprendemos os valores da sociedade e a trabalhar em equipa. É também uma aprendizagem de nós próprios e da nossa capacidade de atingir objetivos”.

Sempre em prol dos habitantes e dos visitantes, assim se criaram outras ofertas para quem “não quer estar só a relaxar na praia”. Entre elas é também de referir o cinema ao ar livre.

Arte Xávega: Património Cultural Imaterial

Património Cultural Imaterial desde fevereiro de 2017, a Arte Xávega é um tipo de pesca tradicional da Costa da Caparica, que consiste na utilização de uma rede de cerco que é lançada ao mar. A obtenção desta distinção foi árdua, tanto por parte do edil, como dos pescadores da cidade. “Estamos a tentar valorizar todos os produtos do mar como parte integrante do setor económico.

O encontro ‘Arte Xávega: Lançar Redes para a Economia’, que se realizou no passado dia 9 de maio, contou com a presença do Secretário de Estado do Ambiente, Carlos Martins. José Ricardo Martins considerou o encontro “muito produtivo”: “Estamos a criar raízes para depois colher os frutos. Não nos podemos esquecer de que a costa não vive só do turismo, temos o setor primário da agricultura e da pesca, que tem impacto na economia local e que envolve cerca de 300 pessoas. Não podemos perder a nossa génese da cultura da Costa da Caparica”.

Mais qualidade de vida

“O trabalho nunca se esgota numa autarquia. Durante muitos anos a costa esteve parada, é preciso progredir e atualizar pequenos procedimentos do quotidiano que mexem com a qualidade de vida da população”, deu-nos conta o presidente da Junta de Freguesia da Costa da Caparica.

Entre as prioridades encontra-se a mobilidade: “Temos problemas transversais a todo o concelho no que se refere à mobilidade, tanto em termos pedonais, como nos transportes. O ideal é num futuro mais ou menos próximo o uso do transporte público seja escolhido em detrimento do veículo próprio, todavia isso é uma questão de mentalidade que está muito enraizada na sociedade. Esse é um dos principais ‘calcanhares de Aquiles’ da Costa da Caparica”, admite.

São mais de 20 mil habitantes efetivos da cidade, número que no verão extrapola para perto do milhão, o que interfere com a limpeza dos locais públicos, causa desgaste do património e, acima de tudo, impede a mobilização rápida e eficaz dentro da cidade. “A falta de visão estratégica ao longo do crescimento da Costa levou-nos a esta realidade que, apesar de não permitir alterações de fundo, é passível de aperfeiçoamentos” para uma deslocação mais confortável.

José Ricardo Martins fez questão de sublinhar o progresso que tem sido feito num projeto de rentabilização da freguesia, denominado ‘Costa todo o ano’, ou seja, redução da sazonalidade turística e amenização da grande diferença entre as dinâmicas de inverno e de verão.

Outra prioridade, um tópico já referido, são as alterações climáticas: “O ideal seria criar na Costa da Caparica uma ‘eco-cidade’, tal como foi referido pela Inês de Medeiros, presidente da Câmara Municipal de Almada. Isso implica mudança de mentalidades e todo um percurso que tem de ser feito, iniciado por mim e, provavelmente, concluído por outra pessoa. Criar mais debate na sociedade poderá só ser benéfico para as gerações futuras, mas a estratégia deve ser definida desde cedo: delinear um objetivo e um percurso eficaz para lá chegar. É um desafio”.

 E por falar em desafios…

“O turismo massificado, do qual vivemos muito, também nos traz problemas, já se começa a sentir a nível de habitação arrendada”, admite o edil. Questionado acerca do quão difícil é gerir o capital humano, uma vez que está numa cidade com uma densidade populacional tão elevada e tão próxima da capital, o nosso entrevistado confessa existirem situações difíceis de gerir, como o aumento da população que afeta as estruturas viárias e as vagas de estacionamento: “Não temos para onde crescer porque estamos entre o mar e a arriba”.

Quando uma nova vereação assume o poder de um município, tem de lidar com a dinâmica deixada pela equipa anterior, que é o que está a acontecer na Câmara Municipal de Almada. Para facilitar a transição que tem apenas pouco mais de meio ano, a Junta de Freguesia de Costa da Caparica “encontra-se disposta a ajudar sempre que possível”. “Temos boas relações e objetivos em comum, só faz sentido colaborar uns com os outros. Já trabalhamos conjuntamente em alguns projetos”.

José Ricardo Martins esclarece que este ano e o próximo há grande probabilidade de os esforços autárquicos se concentrarem nas pequenas obras, algumas das quais são urgentes, como a estrada florestal, que liga toda a zona sul da Costa da Caparica e, de momento, não tem qualquer tipo de segurança nem para peões, nem para automóveis. Outra das obras iminentes será a requalificação da Rua dos Pescadores, “que é a nossa rua mais emblemática”, reitera.

Comissões sociais de freguesia

Antes de terminar a nossa entrevista, José Ricardo Martins quis referir que este ano se lançou as comissões sociais de freguesia, para que haja uma maior valorização dos esforços que têm sido feitos até então.

“Na comissão social de freguesia traçamos quatro eixos, um dos quais é a empregabilidade e que vai nascer, se tudo correr bem, para o ano. Permitam-me que não revele já tudo, mas serão criadas novas dinâmicas a nível de oferta de emprego, muito baseadas no nosso mar”.

“Ainda há muito a fazer”

Essa foi das frases mais vezes pronunciadas pelo presidente no decorrer da entrevista. Se olharmos para a costa que era há quatro anos atrás, vamos reparar que está completamente diferente. Muito trabalho se fez nos últimos quatro anos, mas ainda há muito a fazer, nunca está tudo feito. Assim, quisemos saber se isso seria o presságio de um terceiro mandato para José Ricardo Martins, o qual referiu ser demasiado cedo para pensar nisso. O foco é outro: “Aqui no executivo estamos focados no que é preciso fazer e no que é preciso mudar, futuramente se verá”.

Apesar de serem mais de 13 mil eleitores, a proximidade com a população é um dos desígnios da Junta de Freguesia, uma tarefa que acarreta alguns desafios, “mas vale a pena”, diz-nos. “Ajudar as pessoas é o que me move, foi por isso que me candidatei. Por esse motivo, pelo amor que sinto pela terra onde nasci e pela vontade de poder mudar algo para melhor”, conclui.

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