A revolução da impressão 3D em Portugal

A AMCubed, uma empresa que se destaca na área da impressão 3D em Portugal foi fundada por Luís Miguel Oliveira (Engenheiro Mecânico) e Rui Órfão (Engenheiro Eletrotécnico) em março de 2012. A ideia de fundar a empresa surgiu a partir do trabalho conjunto de uma inovação, desenvolvida durante a tese de doutoramento em Engenharia Química. Desde então, a empresa tem-se afirmado como uma das pioneiras em investigação científica, desenvolvimento e inovação na área da impressão 3D, diversificando a sua oferta e adaptando-se às necessidades do mercado.

 

 

 

 

 

A história da AMCubed

A origem da AMCubed remonta à tese de doutoramento em Engenharia Química de Luís, onde a ideia inicial era criar uma impressora de micro-estereolitografia multi-material. Este conceito rapidamente ganhou forma graças à colaboração entre si e um colega, dando origem a uma proposta ousada que integrava impressão 3D, maquinação CNC e sistemas híbridos. Localizada em Leiria, com um Centro de Engenharia na Marinha Grande, esta empresa tem-se destacado pela sua tecnologia de ponta e pela sua estratégia pró-ativa de colaborações com centros de investigação, tanto nacionais como internacionais. “O nosso compromisso com a academia começou com a colaboração no Centro para o Desenvolvimento Rápido e Sustentado de Produto (CDRSP) do Politécnico de Leiria e da Universidade de Coimbra”, comenta. Originalmente focada na investigação científica, a AMCubed expandiu a sua atuação, superando as barreiras entre o conhecimento académico e a prática industrial. “Estamos atentos às necessidades do mercado, estabelecendo parcerias com várias empresas para testar os nossos equipamentos em ambientes reais”, referindo-se a iniciativas como o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) ,nomeadamente na agenda INOV.AM.

A revolução da impressão 3D

A impressão 3D, que outrora parecia uma tecnologia restrita a indústrias de ponta, transformou-se numa ferramenta acessível, impulsionando a inovação e a criatividade a um nível sem precedentes. As primeiras máquinas da 3D Systems e Stratasys deram o pontapé de saída para a era da prototipagem rápida em 1987, mas foi entre 2007 e 2009 que o verdadeiro salto aconteceu. Com o fim de patentes-chave, os preços das impressoras 3D caíram, drasticamente, democratizando a tecnologia. “Antigamente, uma impressora 3D podia custar centenas de milhares de euros. Atualmente, qualquer pessoa pode comprar uma por cerca de 500 ou mil euros”, observa Luís.

No entanto, no universo industrial, uma batalha silenciosa, mas impactante está a desenrolar-se entre duas técnicas de produção: a impressão 3D e a injeção de plástico. Ambas desempenham papéis fundamentais na criação e conceção de produtos, mas com abordagens e resultados bastante distintos.

O co-funder aponta as principais diferenças que não só moldam a produção, mas também a resistência e a qualidade das peças. A injeção de plástico, um processo consolidado onde o plástico líquido se solidifica numa única peça, é a escolha preferida quando a uniformidade, grandes séries e resistência mecânica são cruciais: “Este método é ideal para a produção de componentes de alta qualidade, uma vez que minimiza as fragilidades e garante uma resistência superior”. A injeção de plástico é, assim, sinónimo de eficiência e durabilidade, sendo amplamente utilizada em setores que exigem alta precisão, confiabilidade e grandes séries de produção.

Por outro lado, a impressão 3D destaca-se pela sua versatilidade e agilidade na produção de protótipo, pequenas séries de peças e de ferramentas. “Funciona através da deposição de material em camadas, o que permite a criação de designs complexos e personalizados”, esclarece Luís. Contudo, esse mesmo processo pode resultar em pontos fracos na estrutura das peças, um trade-off que muitos designers e engenheiros devem considerar.

Com os avanços tecnológicos, o tempo de produção na impressão 3D tem diminuído drasticamente, com a eficiência a aumentar de forma notável. Assim, o fundador revela que este método pode agora ser até três a quatro vezes mais rápido do que as técnicas anteriores, tornando-o uma opção cada vez mais atrativa para o desenvolvimento ágil de produtos. Embora que, a escolha entre impressão 3D e injeção de plástico, transcende questões de custo e eficiência: “Cada técnica possui as suas vantagens em nichos específicos. A verdadeira inovação ocorre quando conseguimos integrar estas duas abordagens de forma inteligente”, concluindo que este entrelaçar de técnicas poderá ampliar os horizontes da indústria e levar à criação de produtos que combinam o melhor de ambos os mundos.

 

 

 

 

 

A impressão 3D nos vários setores de atividade

A impressão 3D, uma realidade já consolidada nos Estados Unidos, está a ganhar rapidamente força na Europa, transformando a forma como diferentes setores operam.

No setor automóvel, marcas icónicas como Ferrari e Porsche estão a abraçar a impressão 3D para o fabrico de componentes únicos, permitindo uma personalização sem precedentes nos seus veículos. Luís sublinha a importância dessa personalização, afirmando que “o mercado da personalização tem sido profundamente impactado pela impressão 3D”. Embora os custos sejam ainda mais elevados do que os da produção em massa, a flexibilidade e a exclusividade proporcionadas por esta tecnologia atraem tanto grandes marcas, como consumidores que desejam veículos verdadeiramente singulares.

Mas a influência da impressão 3D não se limita à indústria automóvel. No setor naval, a capacidade de criar peças grandes e resistentes marca uma nova era no desenvolvimento tecnológico. O empresário explica que “na produção industrial, a resistência e a durabilidade são cruciais”, enquanto que “no design decorativo o foco é no acabamento e nos pormenores visuais”. Esta diferença é fundamental para adaptar os processos de impressão às especificidades de cada aplicação, garantindo que as peças atendam às exigências industriais.

Além disso, vê um futuro promissor para a impressão 3D na medicina, especialmente no que toca à substituição de órgãos e membros. “O conceito de um hospital que funcione como uma oficina para trocar peças do corpo humano não é assim tão distante”, referindo avanços como corações impressos em 3D e próteses controladas pelo cérebro. Estas inovações podem transformar a forma como tratamos problemas de saúde, aumentando a qualidade de vida de muitas pessoas.
Outro ponto a destacar é a relação crescente entre a inteligência artificial e a impressão 3D: “A combinação de diversas técnicas e a partilha de informações são cruciais para evitar erros no desenvolvimento de novos produtos”, aponta o co-founder, para a necessidade de integrar boas práticas que enriqueçam o produto final. Além disso, a AMCubed está a explorar a impressão 3D de alimentos, desenvolvendo um equipamento que permitirá criar produtos adaptados às necessidades de diferentes consumidores, incluindo idosos que enfrentam dificuldades alimentares. “O objetivo é criar produtos que sejam visualmente atraentes e saborosos”, destacando o potencial da impressão 3D para personalizar a alimentação de forma inovadora.

 

 

 

 

 

Desafios e oportunidades da impressão 3D

Luis está convencido de que a impressão 3D pode revolucionar diversos setores, sendo a imaginação o único limite para a inovação. “Costumo dizer que, na impressão 3D, a imaginação é o limite. Cada um de nós pode olhar para um problema de uma forma diferente e encontrar soluções criativas”.

A AMCubed está na vanguarda desta revolução, participando em projetos que prometem transformar mercados ainda pouco explorados. A empresa dedica-se, por exemplo, à impressão de scaffolds para aplicações médicas e ortóteses, áreas onde a inovação é fundamental para melhorar a qualidade de vida dos pacientes. “A nossa visibilidade está a aumentar, o que é importante para nós. Fomos classificados em 56.º lugar entre 110 empresas de construção de máquinas não especializadas, o que demonstra a crescente notoriedade do nosso trabalho”, destaca. No entanto, a empresa não está isenta de obstáculos. O empresário revela que a relação com o Estado tem sido complicada, e sente que a empresa muitas vezes é subestimada. “A falta de conhecimento por parte das instituições públicas cria barreiras ao nosso progresso”, lamenta. Esse desconhecimento impede que inovações promissoras encontrem o apoio necessário para se desenvolverem plenamente.

Metas futuras da AMCubed

Em termos de metas futuras, Luís Miguel Oliveira destaca a importância de manter o foco nas vendas convencionais: “Queremos focar em soluções mais acessíveis, mantendo a qualidade. A nossa estratégia passa por apresentar produtos que sejam ligeiramente mais baratos do que os disponíveis no mercado”. Para além disso, a empresa apresenta um serviço de aluguer de impressoras 3D, para necessidades temporárias; serviços de manutenção e montagem dos equipamentos e, dá também formação e apoio para uma boa utilização da impressora. Esta combinação de serviços tem como objetivo conquistar novos clientes e solidificar a relação de confiança com aqueles que já conhecem a marca. A empresa está também decidida a continuar a liderar a revolução da impressão 3D em Portugal, investindo em investigação científica e desenvolvimento, assim como em parcerias estratégicas que fortalecerão a sua posição no mercado. “Não queremos abandonar a parte de investigação e desenvolvimento, que é a nossa vocação. Decidimos especializar-nos em produtos personalizados, onde a concorrência é menor e o potencial de inovação é maior”, conclui. A AMCubed, que começou como um projeto numa garagem, evoluiu para um centro de excelência em tecnologia de impressão 3D, pronta para enfrentar os desafios que se avizinham e contribuir para a inovação em diversas indústrias.

You may also like...