O papel do Enfermeiro Obstetra
O papel do Enfermeiro Obstetra é um alicerce no sistema de saúde, sendo globalmente reconhecido como essencial para a saúde das populações.
Os Enfermeiros Especialistas em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica, também conhecidos por EEESMO, Parteiras ou Enfermeiros Obstetras, são profissionais de saúde treinados e qualificados para prestar cuidados de saúde e apoio a mulheres durante todo o seu ciclo sexual e reprodutivo, incluindo cuidados de saúde menstrual, apoio para o planeamento familiar, acompanhamento durante a gravidez, o parto e o período pós-parto, assim como apoio para uma vivência mais positiva da menopausa.
A Organização Mundial da Saúde e outras entidades de saúde defendem a implementação ao nível mundial de modelos de cuidados liderados por Enfermeiros Obstetras. A recomendação deve-se aos comprovados benefícios maternos e neonatais, à redução de intervenções desnecessárias, à satisfação das mulheres com a experiência de gravidez e parto e à segurança demonstrada por este modelo de cuidados. Os enfermeiros obstetras empoderam as mulheres, promovem a sua autonomia e literacia e acompanham-nas ao longo do seu ciclo vital, otimizando os seus processos fisiológicos de saúde. Isto contribui para que os serviços de saúde possam canalizar as intervenções médicas e dispendiosos recursos hospitalares para os casos de necessidade específica, tornando-se mais eficazes e sustentáveis.
Vários estudos analisados numa revisão sistemática publicada em 2024 pela conceituada biblioteca científica médica Cochrane demonstram que, por exemplo, quando mulheres saudáveis são acompanhadas ao longo da gravidez, parto e pós-parto por Enfermeiros Obstetras têm mais probabilidade de terem partos vaginais espontâneos e passarem por experiências mais positivas de parto, assim como menos probabilidade de ter episiotomias, ventosas, fórceps ou cesarianas (aceda aqui ao estudo completo: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/18843666/).
Para alcançar estes resultados, o Enfermeiro Obstetra realiza uma formação extensa que lhe certifica o conhecimento e as competências, tornando-o no profissional de saúde mais especializado para promover e cuidar da saúde da mulher, com um acompanhamento salutogénico, holístico e humanizado. São ainda reconhecidos como defensores e ativistas pela promoção da igualdade de género e dos direitos da mulher.
Para além do seu trabalho autónomo e independente, de avaliação de saúde, orientação, educação e otimização dos processos fisiológicos da saúde da mulher e do recém-nascido saudável, estão também treinados para trabalhar em complementaridade com outros profissionais de saúde, sempre que existam riscos acrescidos ou doenças, assim como em situação de emergência, como por exemplo na reanimação materna e neonatal.
São fundamentais na otimização da saúde menstrual, no rastreio de doenças, na promoção da saúde e bem-estar durante o período da menopausa e no apoio psicossocial. São ainda essenciais no âmbito do planeamento familiar, estando habilitados para a colocação de dispositivos contracetivos e a realização de rastreios ginecológicos (como a colpocitologia – Papanicolau), entre outros.
Para além dos cuidados clínicos individualizados, os Enfermeiros Obstetras contribuem para a promoção da saúde pública, com programas de intervenção comunitária no âmbito da sexualidade, planeamento familiar, preparação para parto e parentalidade, amamentação, apoio ao luto perinatal, prevenção do cancro do colo do útero e da mama, menopausa, entre outros.
Um estudo de avaliação económica realizado em Portugal em 2024 estimou que se todas as mulheres grávidas saudáveis fossem acompanhadas por Enfermeiros Obstetras, de forma autónoma e independente, reduziria os custos do Serviço Nacional de Saúde em cerca de €26,3 milhões, com potencial para melhorar os resultados obstétricos e neonatais e representando uma redução de 26% nos gastos totais de saúde em comparação com o modelo atual.
Apesar da sua inegável contribuição, os Enfermeiros Obstetras em Portugal enfrentam vários desafios, incluindo salários reduzidos, acesso limitado a formação contínua e restrições políticas que limitam a sua prática.
O investimento e aproveitamento do potencial destes profissionais para a saúde da população em Portugal é urgente para ajudar a ultrapassar os desafios atuais relacionados com as falhas de resposta de alguns centros de saúde e o encerramento de maternidades.
Os Enfermeiros Obstetras desempenham um papel indispensável no sistema de saúde, com impacto cientificamente comprovado nos resultados de saúde das mulheres e recém-nascidos, que se estendem à população em geral. Ao fornecer cuidados de alta qualidade e centrados nas pessoas que cuidam, os Enfermeiros Obstetras contribuem significativamente para melhorar a saúde e o bem-estar de mulheres, crianças e famílias. Expandir o seu papel em iniciativas de saúde comunitária e integrar o seu trabalho equitativamente com outros profissionais de saúde poderia ser a solução para a resolução de grande parte dos problemas de acesso à saúde que muitas mulheres em Portugal enfrentam na atualidade.