A maior empresa do sector armeiro em Portugal

O reconhecimento com o galdardão PME Excelência foi o mote para a conversa com Susana Silva, Administradora da Cacicambra, a maior empresa do sector armeiro em Portugal. Em entrevista, deu-nos a conhecer a génese da empresa e os pilares que ditaram o seu crescimento assinalável em mais de 30 anos de história.

Maria da Conceição Silva e Susana Silva na Gala PME Excelência

A Cacicambra comemora este ano 33 anos, mas como surgiu este projeto?

A empresa foi fundada em 28 de dezembro de 1990, dando continuidade a uma antecessora denominada Santos Silva, que funcionou, no fundo como incubadora do projeto da Cacicambra. Tratava-se de uma empresa de dois sócios, o Santos e o Silva, focada numa atividade muito próxima da nossa. Quando o Silva quis dar seguimento ao projeto, de uma forma profissional e a 100 por cento, a outra empresa cessou atividade, e o Silva seguiu sozinho, trilhando o caminho do que se haveria de denominar Cacicambra. Numa primeira fase, Cacicambra, Lda, começando como sociedade por quotas e, posteriormente, por força de lei de atividade, número de colaboradores e rácios atingidos, passou a Cacicambra, S.A.

 

O que faz desta a maior empresa do sector armeiro em Portugal?

Em primeiro lugar, continuamos a liderar o sector armeiro em Portugal. É um histórico de facto, e este ano iniciamos o nosso 33º aniversário, que será festejado no dia 28 de dezembro de 2023. Há uma base de evolução constante, ou seja, a nossa atividade, desde a fundação, foi sempre em crescendo e, hoje, a Cacicambra é uma empresa que representa muitas das principais marcas europeias de fabricantes de armas, munições, vestuário e acessórios específicos. Somos grossistas, fazemos distribuição, isto é compramos para distribuir no mercado nacional e além fronteiras, e esta é a base da nossa atividade.

Desde a génese da empresa que tivemos um líder que, essencialmente pelo conhecimento profundo do mercado, know-how, intuição e inteligência prática teve a capacidade de selecionar bem as marcas que representamos. Todas essas marcas em geral, salvo raríssimas exceções, também tiveram a mesma evolução e crescimento. Algumas começaram pequenas como a nossa empresa, mas hoje todas são marcas líderes na sua área de produção e as relações estabelecidas são muito sólidas. Posso dar um exemplo, que é a CZ, uma marca de origem checa, que começou por ser fabricante de carabinas, com um conceito ex-soviético e, hoje, é um colosso mundial, que vende armas para todas as áreas, desde a recreativa como é o caso do tiro desportivo, até à caça ou defesa, nomeadamente nas forças armadas e forças de segurança. É, à data de hoje, dominante também na parte de inovação e tecnologia, uma vez que partiu de uma base de indústria da revolução industrial com a manufatura e a metalúrgica e, hoje, é um colosso tecnológico, inclusivamente cotada em bolsa.

Em suma, o segredo para nos tornarmos na maior empresa do sector armeiro foi, realmente, a correta seleção dos nossos parceiros, o desenvolvimento de boas relações, tanto a nível nacional como internacional, no que diz respeito aos bancos, mas também ao nível do revisor oficial de contas, técnico oficial de contas, informáticos e todos os nossos stakeholders.

Houve também uma evolução importante ao nível de alvarás. O nosso sector é muito regulado, neste caso, pelo Ministério da Administração Interna e tem uma forte componente burocrática. Existem vários tipos de alvarás, no nosso caso, temos alvará de armeiro do Ministério da Administração Interna, que cobre este edificio e nos permite comprar e vender a nossa tipologia de produto, mas também somos credenciados pelo Ministério da Defesa Nacional para fornecer o Estado e, aí, entra a nossa unidade de negócio que trabalha diretamente com as forças de segurança e com as forças armadas do nosso país. Também temos o alvará de entidade formadora e, porque o nosso mercado é restrito, procuramos sempre trabalhar muito para fora, desde Espanha, um mercado natural de exportação, mas igualmente os países de língua e expressão portuguesa, que são mercados de expansão natural para as empresas portuguesas, onde estamos presentes e equipamos as empresas de segurança privada, e onde damos  muita formação de todos os produtos que comercializamos. O que temos que fazer num sector de nicho como este é aproveitar todas as oportunidades de negócio em que as marcas que representamos possam estar presentes.

 

A Cacicambra trabalha com marcas que garantem qualidade. Neste sentido, e tendo em consideração que “escolhem as marcas certas”, de que forma o fazem?

Procuramos que todas as nossas marcas tenham uma base de produção, porque, ao longo destes anos, muitas marcas passaram a ser só marca, por si só, sem uma base de produção, ou seja, são produzidas por outros fabricantes. A Cacicambra não representa nenhuma marca cuja base não esteja na origem e, praticamente, todas as nossas marcas têm a produção totalmente integrada. No caso dos cartuchos, em que representamos a marca Rio, a empresa produz desde o plástico ao fulminante e à pólvora, e nós valorizamos bastante este aspeto, porque é uma base de solidez e de confiança na qualidade. E esta segurança acaba por passar para os clientes.

E, em concreto, que tipo de produtos é que a Cacicambra disponibiliza aos clientes e que o público, de forma geral, pode não conhecer?

A Cacicambra trabalha a parte da caça e do tiro desportivo com arma de caça, onde Portugal tem vários palmarés, desde campeões do mundo, campeões da Europa. Na modalidade de tiro aos pratos, temos uma única medalha olímpica, mas tivemos vários atiradores em projetos olímpicos com resultados próximos do pódio. Depois, temos também o tiro desportivo com cano estriado, no ano passado fomos campeões do mundo por equipas, fomos galardoados no Luxemburgo e, entre muitos, destacamos o Major João Costa, uma figura ao mais alto nível internacional e Miguel Ramos em tiro dinâmico de pistola. No entanto, nós trabalhamos com todas as modalidades de tiro desportivo e respetivos materiais. E daí que também, pelas representadas que temos, fornecemos todos os ramos do Exército, a GNR, a PSP, a Polícia Judiciária e a Guarda Prisional.

Ao longo destes anos integramos projectos estimulantes e de reconhecimento na nossa área de actividade. Mais recentemente participamos enquanto fornecedores na construção do Banco Nacional de Provas, implementado em Viana do Castelo, que irá permitir a adesão de Portugal à Convenção Internacional de Prova (CIP). Os países que pertencem à convenção têm um Banco de Provas Oficial que certifica que as medidas, as resistências e as pressões das armas e munições estão em conformidade com essa convenção. Envolveu equipamento altamente tecnológico e de vanguarda que permitirá a Portugal tornar-se membro, podendo inclusivamente desenvolver um cluster industrial que está latente no nosso país.

 

Como se dá a entrada da Susana na empresa? Como avalia o crescimento e desenvolvimento da empresa?

Licenciei-me em Gestão de Empresas na Universidade Católica do Porto, pós-graduei-me em Marketing pela mesma escola e em Gestão de Vendas pela Porto Business School.

Integrei a empresa de forma definitiva em 2003, assumindo a função sempre ligadas às vendas. Foi uma evolução natural, porque a Cacicambra tem muita vitalidade, estamos num espaço com 2.000 metros quadrados, construído de raiz para o efeito e contempla uma excelente casa forte, mais de 1.300 metros quadrados em espaços de armazenagem, uma oficina totalmente equipada para serviços de assistência técnica e uma exclusiva carreira de tiro subterrânea insonorizada (adequada à afinação de carabinas com fogo real). Para além dos bem equipados espaços administrativos, possui armazém independente para vestuário e calçado, sala de exposições com 300 metros quadrados e sala de formação. Temos a maior capacidade de armazenamento do país.

 

Há pouco tempo, foram distinguidos com o estatuto de PME Excelência. Sentem que este é o resultado do trabalho que têm desenvolvido ao longo dos anos?

Sim. Os prémios que recebemos, PME Líder e PME Excelência, não eram um objetivo nosso, mas são, naturalmente, o reflexo do nosso trabalho e esforço e é bastante gratificante. A evolução da empresa, nos últimos anos, aumentou a nossa solidez e fez com que atingíssemos bons resultados, que nos deram a oportunidade de receber estes prémios e foi uma mais-valia para a empresa.

 

Para terminar, como é que olha para o futuro da Cacicambra?

O futuro da empresa terá de passar pela chamada transição digital! Precisamente pelo nosso modelo de negócio, esta é uma vertente que ainda não exploramos muito, e até agora não se revelava crucial, mas a verdade é que é cada vez mais importante e vamos investir nessa componente, para nos tornarmos, ainda mais, próximos dos clientes e dos jovens.

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