Wiñk: Olhar empreendedor

Nesta edição da Revista Business Portugal, damos a conhecer Filipa Muñoz de Oliveira, mentora da marca portuguesa, pioneira no método de threading (depilação com fio). A Wiñk pretende dar a todas as mulheres a possibilidade de terem um olhar mais marcante, adaptado às suas feições. Criativa desde tenra idade, a empreendedora conta-nos que a Wiñk acabou por surgir de uma necessidade própria, assim como o HairBar, a mais recente marca lançada, que promete revolucionar o mundo dos cabelos.

Em que momento decide arriscar e introduzir este método inovador em Portugal?
Apesar de ter cursado Gestão na Universidade Católica, a área de Marketing sempre me interessou bastante. Quando terminei o curso, trabalhei na Jerónimo Martins, uma ótima escola, tendo depois uma passagem de dois anos na área de marketing do antigo Feira Nova. Depois de casar, acompanhei o meu marido, que entrou na Columbia Business School, em Nova Iorque. Nesse período, tirei alguns cursos, entre os quais em Marketing Digital e Espanhol, tendo tido mais tarde a oportunidade de entrar no Client Advisory Department da Christie’s, uma das maiores leiloeiras do mundo. Quando o meu marido terminou o MBA, recebeu uma proposta para ir trabalhar para Londres e lá fomos nós em mais uma aventura. Em Londres trabalhei na BSkyB, onde comecei por ser assistente de marketing, tendo alcançado a posição de chefia, após algum tempo no projeto. Foi durante a nossa passagem por Londres que conheci o método de threading. A verdade é que esta técnica me prendeu o olhar desde o primeiro segundo, fiquei horas a ver duas senhoras indianas a fazer aquilo. Quando experimentei, fiquei apaixonada pelo resultado final e nunca mais fiz as minhas sobrancelhas de outra maneira.
Entretanto, o meu marido recebeu uma proposta de emprego em Portugal. Sabíamos que era uma boa altura para regressarmos ao nosso país, mas apesar do meu marido ter emprego garantido, o meu futuro profissional estava incerto. Foi então que um dia, enquanto estava a fazer as sobrancelhas, dei por mim a pensar: ‘Onde é que vou arranjar assim as sobrancelhas?’ e, naquele momento, juntei um mais um e pensei: ‘Vou levar isto para Lisboa’. Quando revelei as minhas intenções as pessoas diziam que eu era louca, mas a verdade é que toda a gente que experimentava este método de depilação gostava. Após algumas pesquisas, percebi que em Portugal não havia este tipo de mercado e o grande desafio que tinha pela frente. Mas como estava tão certa que era um método com grande aceitação, só precisava fazer com que experimentassem pela primeira vez. Foi então que, ainda a viver em Londres, pedi uma reunião nas Amoreiras, local onde considerei que o tipo de público se encaixava no modelo do negócio. Estava perante um enorme desafio: mostrar as mais-valias deste negócio para o espaço. Apresentei o método threading e o seu diferencial: uma técnica muito mais saudável, muito mais higiénica e que faz muito melhor à pele. Uma tendência que iria chegar à Europa. A verdade é que eles não tinham nada a perder ao aceitarem a minha proposta e assim foi, aceitaram. O grande desafio que se seguiu foi encontrar pessoas que conhecessem a técnica e falassem português, para darem formação às colaboradoras. Quando finalmente encontrei uma mulher, indiana, que preenchia os requisitos fui buscar jovens a escolas de estética e colocamos mãos-à-obra, em fevereiro de 2007.

O mercado português, e sobretudo as mulheres portuguesas, acolheram bem esta técnica de depilação inovadora?
No início, as pessoas ficaram um pouco surpreendidas porque não conheciam a técnica. Tivemos de andar a convidar pessoas a experimentar o que tínhamos para oferecer. Fomos ter com uma senhora e convidamo-la a experimentar, ela sentou-se numa das nossas cadeiras, às 12h30, e até hoje nunca mais parámos. As pessoas ficaram curiosas com o que tínhamos para oferecer e começaram a querer experimentar. Nesse dia pensei: ‘Isto vai correr bem, isto vai funcionar’. E a pouco e pouco fomos conquistando o mercado. A verdade é que a maioria das pessoas estava insatisfeita com o tipo de serviço existente, porque as esteticistas não estão focadas nisto e utilizam técnicas mais tradicionais, como a pinça e cera, que são piores para a pele e, normalmente, são mais dolorosas. O certo é que desde aquele dia as coisas foram sempre crescendo, organicamente.

A Wiñk é hoje especialista em serviços de pestanas e sobrancelhas. Quais os serviços que têm para oferecer a quem vos procura?
Hoje, já realizamos todo o tipo de depilação facial, recorrendo a este método. No entanto, o nosso foco são os serviços direcionados para as pestanas e sobrancelhas. No que diz respeito às pestanas, realizamos extensão de pestanas, pestanas express, lifting de pestanas, permanentes e tinturas. Em sobrancelhas também temos um vasto leque de serviços, que vão desde a depilação, henna, tintura e permanente, dermopigmentação, ou seja, temos todo o tipo de serviços.
Mais recentemente, apostamos na venda de produtos. Esta aposta surgiu em resposta às inúmeras solicitações de clientes, que chegavam até nós em busca dos mais variados produtos. Como à altura não tínhamos esses produtos para venda, acabávamos por indicar às nossas clientes outros estabelecimentos. Foi então que percebemos que poderíamos aproveitar também este mercado e que a venda de produtos poderia ser uma mais-valia para a Wiñk. Fomos começando pouco a pouco e fomos criando uma gama de produtos dedicados apenas às sobrancelhas. Hoje em dia, já temos uma gama diversificada de produtos de grande qualidade, todos produzidos na Europa, inclusive alguns em Portugal.

Com um percurso marcado por um crescimento orgânico e sustentável foram abrindo vários outros espaços dentro e fora do país. Atualmente, qual é a dimensão da Wiñk?
Fomos crescendo de forma muito sustentada, introduzindo gradualmente novos serviços que vieram colmatar as necessidades dos nossos clientes. Tornou-se importante avançar para a abertura de lojas que nos permitissem ter outro tipo de serviços, que os quiosques não permitiam, e que, acima de tudo, dessem aos clientes maior privacidade. A abertura de lojas foi um sucesso e hoje já contamos com 35 em todo o país, sendo que, brevemente, iremos abrir a 16ª loja no Brasil, mais especificamente no Rio de Janeiro. Curiosamente, o Rio foi uma surpresa boa. Quando lá chegámos a concorrência era imensa, no entanto, uma marca como a nossa, com esta qualidade e a fazer linha do princípio ao fim, não existia. Conseguimos, de forma sólida e gradual, entrar no mercado e ir conquistando terreno. Sinto-me muito orgulhosa por ter conseguido alcançar esta posição naquele mercado tão específico e continuar em força.
Atualmente, também estamos em Espanha, que sempre foi um mercado onde queríamos entrar. Há dois anos, recebi um convite do responsável do El Corte Inglés da Galiza para abrir um espaço no El Corte Inglés de Vigo, o que me pareceu uma ótima ideia porque, para uma marca estrangeira, dá um selo de qualidade. Decidimos arriscar e fomos para Vigo, muito posicionados em sobrancelhas, que era o que funcionava aqui e que funcionou durante estes anos todos, mas em Espanha as mulheres gostam mais de pestanas e estavam menos preocupadas com sobrancelhas. Perante este diferencial, tivemos de nos reposicionar. Para além disso, as pessoas acharam caro o nosso serviço e tivemos que baixar o valor e ao fim de dois anos parece que, finalmente, estamos a crescer. Mais recentemente, o El Corte Inglés apresentou-me uma proposta para Madrid, mas queriam que colocássemos o serviço de unhas. Uma proposta que inicialmente recusei, por desvirtuar o nosso conceito. A verdade é que a ideia acabou por me convencer e muito em breve iremos abrir um espaço em Getafe – Madrid, com esse novo serviço, feito em parceria com a Nails4Us.

Apostou recentemente na criação de uma nova marca. Fale-nos um pouco deste novo projeto, que promete revolucionar o mercado.
Lancei um novo negócio no Centro Comercial Colombo, que tem apenas como foco penteados. O HairBar, curiosamente, é outra marca que surgiu de uma necessidade minha. Este novo projeto vai ser outra batalha, porque mais uma vez vou ter de criar necessidade nas pessoas. O HairBar foca-se nos serviços de lavar e secar o cabelo e pretende ser uma solução para todas as pessoas que não querem perder horas em filas nos cabeleireiros, à espera de algo tão simples. Espero que as pessoas visitem a nossa lindíssima loja e aproveitem este serviço tão simples, mas que ao mesmo tempo pode revolucionar a vida de qualquer mulher. Para garantir um serviço de excelência trabalhamos com marcas de elevada qualidade, sem que o preço seja elevado. Aliás, o nosso serviço destaca-se também por ter uma ótima relação qualidade-preço: 14,90€ por pentear e lavar.

Podemos, portanto, afirmar que o futuro da Filipa e das suas marcas vai sempre passar pela criatividade e inovação?
Certamente. Não sou o tipo de pessoa que deseja inventar algo surpreendente e sem precedentes. Prefiro coisas mais simples e que surgem naturalmente, mas que sejam uma mais-valia para os seus utilizadores. Nunca estive presa à ideia: ‘Tenho que criar algo que não existe’. A verdade é que o sucesso por vezes está em reinventar. Agarrar uma ideia e trabalhá-la de forma mais criativa, diferente e inovadora. Eu não sou cabeleireira, não sou esteticista, mas sou consumidora e foi nessa ótica que criei estes dois negócios. Às vezes é importante vermos pela ótica do consumidor e perceber quais são as suas necessidades atuais. É importante não estagnar, pensar em serviços novos, mas mais importante do que isso é perceber o que o mercado e os consumidores precisam e dar resposta às suas necessidades.

É esta ótica, assente nas necessidades do consumidor, que faz de si uma boa líder?
Eu tento, sobretudo, liderar pelo exemplo. Digo muitas vezes às minhas gerentes de loja que se querem uma equipa flexível, elas têm que ser flexíveis. Se querem que a sua equipa tenha o melhor atendimento, elas têm que ter o melhor atendimento. A nossa equipa faz o que nós, líderes, fazemos. Portanto, tudo o que começa em mim, passa para a supervisão e depois para as gerentes de loja e depois para as equipas. É importantíssimo transmitir estes valores às nossas gerentes de loja, porque são elas que lideram as diversas equipas que temos, são elas que são responsáveis pela loja e pelo serviço prestado dentro dela. Por isso, tento transmitir às gerentes de loja este conceito e procuramos que elas vejam aquele espaço como um mini negócio delas. Procuramos que sejam boas ‘professoras’, porque um bom líder tem de saber ensinar a sua equipa a ser melhor.

É este, também, um dos vossos diferenciais?
Sim, sem dúvida. Nós oferecemos uma experiência, não prestamos apenas um serviço. As nossas lojas oferecem conforto, as nossas funcionárias são extremamente profissionais, porque somos muito exigentes e apostamos em formações de qualidade. Acredito que criamos uma experiência inconsciente. A pessoa vai à nossa loja, sente-se bem e nem percebe bem porquê. Nós temos uma regra de ouro que é tão importante quanto simples: ‘Faz aos outros o que gostarias que fizessem a ti’, por isso, somos muito exigentes na forma como as nossas funcionárias tratam os clientes. A Wiñk cresceu porque nós não nos limitamos a prestar o serviço. São todos os cuidados que temos, que vão desde o conforto, ao atendimento e à apresentação dos nossos espaços e das nossas colaboradoras que fazem a diferença.

Sendo uma mulher empreendedora, que mensagem gostaria de deixar a todas as mulheres que pretendem arriscar e criar o seu próprio negócio?
Nem toda a gente tem perfil para ser empreendedor. Por vezes, as pessoas têm boas ideias, mas têm medo de arriscar e não são boas a executar. Há sempre risco, não há negócio nenhum sem risco. Se estivermos a ver tudo ao pormenor antes de criar o negócio, porque não queremos correr riscos, nunca vamos sair do lugar. Há sempre coisas a melhorar e se estivermos à espera que tudo esteja perfeito para finalmente nos lançarmos no mercado, nunca o vamos conseguir. Temos que nos lançar, sem medos. Há uma parte muito difícil, que é conjugar a nossa vida profissional com a vida familiar, porque ser empreendedor dá muito trabalho e exige muito sacrifício, mas não nos podemos esquecer que não há sucesso sem sacrifício pessoal. É fundamental encontramos o nosso equilíbrio, arriscar e executar. Vejam onde está o vosso fator diferenciador, tem sempre que haver algo que vos diferencie dos restantes projetos. Se considerarem que existem falhas na parte de execução, peçam ajuda. Mas arrisquem e sejam fiéis àquilo que projetaram. Há muitas pessoas que vos vão chamar de loucas, mas se não experimentarmos nunca iremos saber.

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