“Temos de preparar os vinhos ao gosto do consumidor”
Através de um empreendedorismo intrínseco e uma paixão pelo vinho que se estende por cinco décadas, Victor Matos, o proprietário da Herdade de Outeiro Diniz e Santiago, trilhou um caminho notável no mundo dos negócios vinícolas. À medida que a Herdade se prepara para enfrentar novos desafios e oportunidades, fica claro que Victor Matos e sua visão inovadora são elementos essenciais nesta jornada de crescimento no mundo dos vinhos, moldando o caminho para um futuro promissor e distinto.
Seguindo os passos do pai, proprietário de uma mercearia que comercializava vinhos, Victor Matos começou, aos 15 anos, a vender vinhos de porta em porta. Este modesto trabalho sinalizou o ponto de partida de uma carreira voltada para a indústria vinícola. Em 1976, Victor Matos estabeleceu-se por conta própria e, foi então, em 1988, que fundou a firma Victor Matos, Lda, adquirindo instalações que, com o tempo, provaram ser insuficientes para a expansão do seu negócio.
Aos 50 anos, quando planeava uma retirada do mercado de vinhos, surgiu uma oportunidade única. As antigas instalações da empresa Carvalho Ribeiro e Ferreira, localizadas na Vala do Carregado e com valor sentimental devido ao envolvimento do seu avô com a empresa, estavam à venda. Movido pela memória do avô, Victor Matos decidiu comprá-las, dando continuidade a uma história de família no mundo dos vinhos. Assim, a sua trajetória de sucesso continuou com a criação da Sociedade de Vinhos Victor Matos II, S.A., em 1996, uma empresa de destaque tanto no mercado nacional quanto internacional.
Esta decisão marcou um ponto crucial na sua carreira, levando-o a criar a HODS – Herdade do Outeiro Diniz e Santiago, S.A. (HODS) em 1997, em Vendas Novas, nomeando-a em homenagem aos seus dois netos. Com visão estratégica, responsabilidade e paixão, Victor Matos consolidou-se como uma das maiores referências nacionais na produção de vinhos. Assim, a sua história é um exemplo de como a determinação pode transformar um simples vendedor de vinhos num magnata do setor vinícola.
O ponto de partida nas vinhas
A missão da HODS é nítida: produzir vinhos que se destaquem, criem uma impressão duradoura e representem a excelência em qualidade. Para alcançar este compromisso, a equipa da HODS faz escolhas criteriosas em cada etapa do processo, começando pela seleção rigorosa de castas certificadas da região do Alentejo e empregando técnicas de vinificação mais modernas e de ponta.
Segundo Victor Matos, o cerne da qualidade do vinho reside nas próprias vinhas. Assim, cada metro quadrado de vinha recebe uma atenção meticulosa. Esta ciência começa com a escolha cuidadosa dos porta-enxertos, adaptados ao solo e ao tipo de casta. As faixas de solo são minuciosamente analisadas, e os porta-enxertos são plantados com precisão, criando as condições ideais para o crescimento da vinha e a produção das melhores uvas. “Quando as uvas atingem a maturação ideal, de acordo com os rigorosos padrões estabelecidos pelos nossos técnicos, incluindo o grau de acidez e o teor de açúcar, é hora da vindima”, explica o empresário. Posteriormente, as uvas são colhidas e encaminhadas para tanques onde a fermentação ocorre utilizando tecnologia de ponta. “As nossas terras são produtivas. No entanto, enfrentamos o desafio de que o custo de estabelecer e manter uma vinha é elevado, enquanto os preços dos vinhos no mercado estão baixos. Mas acreditamos na qualidade da nossa região e dos nossos vinhos”, explica.
Victor Matos também enfatiza a riqueza da diversidade de castas na Herdade: “Temos diversas castas e fazemos um uso sábio dessa diversidade”. A Herdade abriga 16 diferentes castas, incluindo oito tintas e oito brancas, que contribuem, com as suas características únicas, para a produção de vinhos distintos.
Revitalização tecnológica para a qualidade vinícola
A dedicação e atenção aos detalhes são claramente visíveis não apenas nos 230 hectares de terra, mas também nas instalações de Vendas Novas, resultando em vinhos de excelência que deixam uma marca em todos que têm o privilégio de degustá-los.
A grandiosidade das instalações e a avançada tecnologia adotada pela Herdade impressionam a todos que as visitam. As adegas de produção merecem destaque especial, pois tem a capacidade de armazenar 29 milhões de litros de vinho. Para além disso, a herdade está totalmente preparada para receber até 500 toneladas de uvas por dia. Victor Matos revela que a adega passou por três intervenções ao longo do tempo, pois inicialmente era pequena demais para a quantidade de produção que a empresa alcançou, o que levou à necessidade de construir uma segunda adega. Atualmente, a HODS possui duas adegas, cada uma com a sua função específica: uma dedicada à produção de vinhos tintos e a outra destinada aos brancos e rosés.
As adegas são verdadeiras extensões da própria vinha da HODS, não apenas pela sua magnitude, mas também pela tecnologia de ponta que abraçam. Esta tecnologia de última geração, como os tanques de aço inoxidável e controlo de temperatura, permite que a empresa atenda às necessidades do mercado, mantendo-se fiel à procura pela excelência que os clientes desejam. “É importante destacar que estas instalações foram construídas do zero e equipadas com a mais recente tecnologia disponível, sendo a inovação a palavra de ordem”, salienta Victor Matos.
O que torna um vinho verdadeiramente bom?
Após um cuidadoso processo de vinificação, emerge o momento aguardado em que o vinho atinge a sua plenitude e está pronto para ser apreciado. Para Victor Matos, a qualidade de um bom vinho é uma combinação da natureza e da habilidade humana. Na herdade, os vinhos tintos são robustos e repletos de aromas, que capturam a autenticidade da região, onde as vinhas se desenvolvem. Victor Matos acredita que um vinho tinto de destaque deve apresentar um teor alcoólico entre 13 e 14 graus e ostentar uma cor viva. Quanto aos vinhos brancos, estes são marcados pela sua frescura, perfumes envolventes e suavidade, resultado de um processo de fermentação cuidadoso, conduzido a uma temperatura ideal de 14 graus.
“Temos de preparar os vinhos ao gosto do consumidor”, vinca o empresário, salientando também a importância de manter vinhos de qualidade em stock, especialmente em anos difíceis, a fim de possibilitar a sua combinação para manter uma base de qualidade consistente. Além disso, o proprietário é um defensor da tradição de apreciar vinho durante as refeições, acreditando que o vinho é a melhor bebida para acompanhar a comida. Na HODS, cada garrafa produzida é uma manifestação do seu compromisso inabalável, paixão e determinação incansável para criar vinhos verdadeiramente excecionais.
Expansão e enoturismo no horizonte
No que se refere ao futuro da HODS, a empresa mantém uma firme determinação em ser uma referência no setor vinícola, tanto no mercado nacional quanto internacional. Victor Matos, com a sua visão empreendedora, revela um dos seus planos ambiciosos para o futuro da HODS: “a empresa adquiriu dois lotes de terreno próximos às adegas, localizados em Vendas Novas, visando a expansão da sua estrutura e herdade”. A intenção é construir uma central de enchimento de grande porte, com cerca de seis mil metros quadrados, focada principalmente na produção de vinhos regionais das regiões do Alentejo e Lisboa.
Atualmente, a HODS concentra-se em vender a maior parte da produção a granel para engarrafadores regionais. No entanto, a central terá como principal objetivo a produção de vinhos engarrafados, com 80% da sua produção destinada à exportação. Victor Matos explica: “Vamos alocar três mil metros para a central de enchimento e envelhecimento de vinhos, e outros três mil metros para o armazenamento de vinhos já engarrafados”. Além disso, a localização estratégica dos terrenos, junto ao parque industrial e às vinhas da empresa, oferece condições ideais para o lançamento e venda dos vinhos alentejanos e da região de Lisboa no mercado. “Este projeto representa uma importante aposta no desenvolvimento da HODS e na promoção dos vinhos regionais portugueses”, reforça.
Para complementar o investimento, o empresário acumulou ao longo dos anos uma notável coleção de maquinaria vinícola. A sua visão inclui a criação de uma sala de degustação para oferecer experiências vínicas completas aos visitantes, juntamente com uma área de exposição que se assemelha a um museu de peças antigas. “Esta coleção de máquinas, que fui adquirindo de armazéns em Lisboa, pode desempenhar um papel importante no enoturismo, proporcionando aos visitantes uma oportunidade única de explorar a história das tecnologias utilizadas na produção de vinho”, salienta. Este projeto representa um compromisso sólido com o enoturismo e a preservação da rica herança vinícola da região. Recorrendo à expansão e modernização, a empresa permanece comprometida em continuar a sua trajetória como uma referência no cenário vinícola, oferecendo vinhos de qualidade excecional aos amantes de vinho de todo o mundo.