Uma referência na oftalmologia a nível mundial

No âmbito do Dia Mundial da Visão, a Revista Business Portugal esteve em entrevista com o Professor Joaquim Murta, que coordena a Unidade de Oftalmologia de Coimbra (UOC), uma referência clínica da Oftalmologia Portuguesa.

 

Joaquim Neto Murta, Professor Catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra; Diretor de Centro Responsabilidade Integrado de Oftalmologia, CHUC; Coordenador da Unidade de Oftalmologia de Coimbra (UOC)

Coimbra continua a ser uma referência no campo da Oftalmologia?

Sem dúvida. Estamos envolvidos em inúmeros projetos internacionais nomeadamente europeus, mantemos parcerias com Universidades americanas (Harvard, McGill, UNIFESP entre outras) temos o serviço, a nível nacional, com maior produção científica, com o maior número de doutorados bem como de médicos no programa de doutoramento.

Existe em Coimbra um ambiente favorável, eficaz e dinâmico em termos de Oftalmologia. Temos um hospital com uma das maiores produções assistenciais e com  maior número de Centros de Referência (18), reconhecido em 10 Redes Europeias de Referência, temos unidades de investigação que permitem uma abordagem interdisciplinar, transversal e integrada da investigação em saúde (iCBR, CIBIT, etc), associadas à Universidade de Coimbra (UC), temos os melhores espaços de incubação de empresas de base tecnológica (IPN, Biocant), temos  inúmeras empresas privadas da indústria farmacêutica e de I&D. Enfim, Coimbra tem condições, quase únicas a nível europeu, para continuar a ser e se afirmar, cada vez mais, uma referência nas ciências da saúde.

O sucesso da Oftalmologia em Coimbra deve-se a esse trabalho conjunto que se tem desenvolvido e dinamizado.

 

O Professor Joaquim Murta dirigiu durante vários anos a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Considera que a UC se soube adaptar e que contínua a estar à altura das exigências do ensino do século XXI?

É fundamental que o Centro Académico Clínico de Coimbra (CAC) comece de facto a funcionar, para que a dinâmica seja cada vez maior. É capital haver uma sinergia entre CHUC, UC, Câmara Municipal de Coimbra e CCDRC considerando que as ciências da saúde são, definitivamente, uma, ou mesmo a mais importante, linha de desenvolvimento estratégico da cidade. Um apelo aos dirigentes e líderes da região para que não deixem perder esta oportunidade única, que se arrasta há anos demais.

 

É o único oftalmologista português a integrar a Academia Ophthalmologica Internationalis (AOI). É mais um sinal do reconhecimento do nível de excelência a que chegou a Oftalmologia em Coimbra?

Sou o único membro ativo português na AOI (o Prof Cunha-Vaz é membro emérito), uma Academia muito importante que reúne 100 individualidades a nível mundial. Fui eleito pelo desenvolvimento do trabalho realizado pelo grupo que lidero, portanto, trata-se mais do que o reconhecimento de uma pessoa. É o reconhecimento de um grupo muito grande de pessoas, envolvidas na Oftalmologia em Coimbra.

Claro que esta representação é um motivo de enorme honra e orgulho para mim, mas é também muito relevante para todos nós, pois a Academia tem funções importantes e influentes no que diz respeito à saúde oftalmológica a nível mundial.

 

Dirige o Centro de Responsabilidade Integrado de Oftalmologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra desde 2008. Como avalia a evolução da capacidade de resposta do SNS face à procura, nomeadamente no caso da Oftalmologia?

Hoje em dia, mais de metade dos Oftalmologistas trabalham no sector privado. As motivações para trabalhar no serviço público relacionam-se, fundamentalmente, com o facto de ter mais fácil acesso a novos tratamentos médicos e cirúrgicos, fazer investigação, participar em projectos nacionais e internacionais, bem como de um espírito de missão comunitária. No entanto, existe um défice tremendo de recursos humanos. Mesmo assim temos mantido a mesma produção (cerca de 10% das consultas e mais de 50% das cirurgias de todo o hospital)  e aumentámos a produção em termos científicos.

Para além disso, os principais problemas prendem-se com as instalações e principalmente com a falta de organização estratégica dos cuidados de Oftalmologia. Já foram elaboradas, ao longo dos anos, redes de referenciação de Oftalmologia que nunca houve a coragem de as implementar.

Nós somos o único Centro de Onco-Oftalmologia a nível nacional (melanomas e retinoblastomas).  Temos dado uma resposta eficaz, ao nível do que melhor se faz no mundo e evitando a saída de doentes e familiares para o estrangeiro, que acarretavam custos financeiros e sociais enormes. Somos igualmente membros de Redes Europeias de Referência dedicadas a tumores bem como a doenças raras.

 

O que distingue a UOC de outras clínicas oftalmológicas nacionais?

Replicámos, de alguma maneira, o modelo funcional do CRIO na Unidade de Oftalmologia de Coimbra (UOC). Possui um corpo clínico constituído por especialistas altamente diferenciados, líderes nacionais e internacionais em patologias diversas, apoiado por tecnologia extremamente sofisticada, alguma única a nível nacional. Prevenimos, diagnosticamos e tratamos de acordo com o que se realiza nos melhores Centros de Oftalmologia espalhados pelo Mundo. Só assim se explica a vinda de doentes de todo o território nacional bem como de muitos doentes estrangeiros.

Fazemos todo o tipo de tratamentos diferenciados e inovadores, alguns únicos a nível nacional, desde as doenças da superfície ocular e córnea (transplantes), cirurgia de catarata e a correcção da presbiopia com a tecnologia mais avançada que existe, as doenças da retina (área médica e cirúrgica), oftalmologia pediátrica, oculoplástica e rejuvenescimento oculo-facial, glaucoma, doenças raras, etc.  Temos para todas as áreas clínicas equipas extremamente diferenciadas.

Estamos também envolvidos em projectos diferenciadores de cuidados de prestação dos cuidados de saúde com o intuito de promover a sua qualidade, envolvendo o doente na avaliação dos resultados.

Por outro lado, a questão da segurança dos doentes e profissionais de saúde é para nós, no momento que vivemos, um aspecto capital. Elaborámos logo, no início da pandemia, um guia de boas práticas COVID, que cumprimos intransigentemente, e que nos obrigou a contratar pessoal. Os doentes que recorrem à UOC são rastreados e estão completamente protegidos, bem como os profissionais de saúde e os técnicos que lá trabalham.

 

Esta pandemia tem interferido na nossa visão?

Sim, porque há milhares de doentes que não têm acesso aos cuidados de saúde. Economicamente, as pessoas estão mais frágeis e houve uma enorme quebra nos cuidados de saúde. Temos realizado um enorme esforço a tentar compensar este deficit, com trabalho adicional e com teleconsultas.

No Dia Mundial da Visão também chamei a atenção à problemática relacionada com as crianças e o uso em excesso dos telemóveis. Em 2050, 50% das pessoas em todo o mundo serão míopes, ou seja, uma em cada duas pessoas vão sofrer desta doença (5 biliões) e cerca de 1 bilião sofrerá de miopia elevada, com todas as complicações que daqui resultam. Trata-se de uma verdadeira “pandemia” que cresce a nível global.

 

Ainda no âmbito do Dia Mundial da Visão, que conselho gostaria de deixar?

A cada cinco segundos, há uma pessoa que cega no mundo, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Mas, hoje em dia, 80 % de todas as causas de deficiência visual são evitáveis ou podem ser tratáveis mediante prevenção adequada. Existe em Portugal  um número de Oftalmologistas acima da média europeia. Os Portugueses têm de prevenir e tratar as doenças oculares.

As pessoas têm de cuidar da visão, pois muitas das doenças são silenciosas. Existem agora tratamentos, que não havia outrora, que possibilitam evitar e tratar situações que poderão tornar-se irreversíveis, com todas as consequências sociais e financeiras associadas. Consulte regularmente o seu Oftalmologista. Não facilite!

 

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