Teresa Burnay, o rosto da Unilever. A mulher. A mãe. A Diretora. A Profissional.

 Teresa Burnay, Diretora de Unidades de Negócio e Media da Unilever, concedeu-nos uma entrevista especial, onde partilha o seu propósito e ideais, em forma de celebração deste Dia da Mãe.

Teresa Burnay, Business Unit & Media Director

Teresa, que características a definem, atualmente, enquanto mulher e profissional? Consegue a área do Marketing, cada vez mais valorizada nas empresas, continuar a desafiá-la e a surpreendê-la?

A polivalência resume bem o tipo de pessoa que sou, estando sempre assente no propósito de ter impacto positivo em todas as vidas que toco. Nunca me nego a novos desafios e acredito sempre que serei capaz de os conciliar com as minhas responsabilidades e entregar resultados com sucesso. Como mulher ou como profissional, estar disponível para os outros faz parte do meu ADN e é ver o seu crescimento e felicidade que me realiza.

A área do Marketing é um mundo! E a minha função ainda mais, pois inclui a gestão de três Business Units como um todo e ainda a direção de Media para a Unilever e para o Grupo Aliança. Isto permite-me ter novidades diariamente, pois nunca a liderança esteve em tão rápida mudança como hoje em dia – a pós-pandemia, as guerras, a instabilidade política, as crises social e económica eminentes e a vertiginosa evolução digital têm trazido significativas alterações nos hábitos de consumo e compra das pessoas. É necessária uma enorme resiliência e capacidade de adaptação para vencer neste contexto, e ajuda a minha facilidade de auto-motivação.

Neste momento, quais considera serem os maiores desafios para um profissional neste ramo? Que conselhos gostaria de deixar a alguém que está a dar os “primeiros passos” no Marketing?

O marketeer do futuro precisa de ter maior aptidão transformacional e altos níveis de energia, não temendo a disrupção e até ambicionando conquistá-la.

Os skills digitais são essenciais e muita atenção à Inteligência Artificial, veio para ficar – tem riscos, mas também grandes potencialidades. Como sou uma otimista, penso que a AI não vai substituir os profissionais atuais, pessoas que saibam utilizá-la vão!

Por fim, o sentido de propósito de um marketeer nunca foi tão importante! As marcas precisam de demonstrar consistentemente que as práticas éticas, os compromissos de sustentabilidade e as causas que defendem são parte da sua estratégia de longo prazo e não apenas uma moda.

Está ligada à Unilever há mais de duas décadas, onde atualmente é Diretora de Unidades de Negócio e Media e faz parte da Comissão Executiva. Qual é a análise que faz do seu percurso ao serviço desta multinacional?

O que pode soar monótono e rotineiro, é precisamente o oposto!

Em 21 anos de Unilever, sinto que construí uma carreira bastante diversificada, tendo passado por vendas, marketing, várias categorias, diversos canais, vivido em países diferentes com funções globais e locais. Dificilmente, teria tido tantas oportunidades de aprendizagem se me tivesse limitado ao mercado português, trocando apenas de empresas no contexto nacional.

Como adoro mudança, este percurso foi ideal para me sentir realizada, fazendo de mim uma profissional muito mais completa.

O facto de a Unilever demonstrar uma enorme preocupação com as pessoas é o que faz com que se identifique realmente com o projeto? O fator humano e social é, para si, fundamental?

É o que me mantém fiel, sem dúvida. A sua componente humana, com uma preocupação genuína pelas pessoas e pelo seu bem-estar, as relações interpessoais que facilmente vão para além do profissional num excelente ambiente de trabalho, e o mantra tão alinhado com o meu próprio: pessoas com propósito prosperam, marcas com propósito crescem, companhias com propósito duram!

Temos o exemplo da marca Dove, uma marca cujo propósito é de louvar e merece ser conhecido! Quer falar-nos um pouco sobre este assunto e sobre as mais recentes campanhas da marca?

O propósito de Dove é tornar a beleza uma fonte de confiança e não de ansiedade, trabalhando há 20 anos na desconstrução de estereótipos de beleza. Começámos por banir a manipulação digital em toda a nossa comunicação, mostrando mulheres reais, de todas as origens, formas e idades na nossa publicidade. Seguiu-se o compromisso de ajudar a educar os mais novos com o ‘Projecto pela Autoestima de Dove’, agora no 3º ano consecutivo em Portugal, que já chegou a 15 mil jovens em sala de aula e mais de 130 mil com os conteúdos disponibilizados também para pais e professores.

Queremos conhecer tudo o que impacta a autoestima feminina e trabalhar para a fortalecer. Em 2022, abordámos os efeitos do Body Shaming e em 2023 o  impacto do envelhecimento. Lançámos, recentemente, uma campanha fortíssima sobre a toxicidade das redes sociais e como afeta a autoconfiança. 40% das jovens portuguesas sente-se impelida a mudar a sua imagem, fruto dos conteúdos que consome em redes sociais, comprovando-se o seu impacto negativo na saúde mental das mesmas. Apelamos à alteração legislativa para uma maior segurança online, com um filme que mostra a história real de uma jovem em recuperação de dismorfia corporal na sequência dos conteúdos tóxicos de beleza que seguiu na sua adolescência. Convidamos a que assinem a petição em Dove.com para tornarmos a navegação em redes sociais mais segura.

Quanto à Liderança no Feminino, do seu ponto de vista, em Portugal, as mulheres têm mais dificuldade em alcançar cargos de liderança? Tendo vivido e trabalhado vários anos em Inglaterra, considera que existem diferenças no que diz respeito à paridade de direitos?

Seria hipócrita se não admitisse que sou uma exceção. É certo que tem havido uma evolução positiva e que cada vez há mais mulheres em cargos de liderança, mas estamos ainda muito longe de alcançar a igualdade de géneros na gestão de topo. Se pensarmos em cargos de CEO, o rácio em Portugal é de 6 em 100, sendo nós um dos países com a maior taxa de emprego entre mulheres (+80%)! Em Inglaterra, este rácio não é assim tão diferente, mas a percentagem de mulheres nos boards de companhias e a abertura para as promover até aí é maior, fazendo parte integrante das estratégias de Recursos Humanos.

 

Aproxima-se o Dia da Mãe. Conte-nos o segredo para conseguir uma carreira de sucesso e, em simultâneo, ser mãe de seis filhas?

Gosto de pensar ao contrário. Ser mãe de 6 filhas faz de mim uma gestora muito melhor! Criar tantas personalidades diferentes, assegurando que cada uma tem a atenção devida, adaptando a forma de relacionamento aos distintos graus de necessidade emocional, apoiando de acordo com a maior ou menor autonomia de cada uma… e tudo isto garantindo que há um equilíbrio familiar, que vivemos organizados e que somos uma família onde há total união e transparência. Que forma melhor de me preparar para a seguir liderar um negócio de sucesso e ter uma equipa coesa e motivada a trabalhar para o mesmo fim?!

Como é óbvio, ter um grande foco mental e capacidade de “separar as águas” ajuda muito. Trabalho muito e quando o faço tenho o apoio do meu marido para conseguir estar centrada apenas nisso. Contudo, quando estou em família, evito ver emails ou responder a telefonemas, por pouco tempo que seja tem de ser de qualidade. Assim como quando estou num voluntariado, é para me dedicar 100% a ele. Só assim se consegue chegar a tudo!

Afirma ser casada com um “super-herói”. O apoio do seu parceiro continua a ser fundamental ao longo deste percurso?

É crucial! O sucesso da minha carreira é totalmente partilhado com ele, que abdicou da sua própria na área comercial para que um de nós tivesse mais disponibilidade de tempo para a família. Encontrou, entretanto, o seu propósito e consegue conciliar o apoio à mulher e às 6 filhas com a profissão de treinador de futebol de crianças, que adora e onde é adorado. Um verdadeiro super-herói!

“It’s only impossible if you don’t try”, esta é a frase que melhor define a sua vida? Relativamente ao futuro, o que ainda lhe falta concretizar?

Esta frase tem muito a ver com a minha apetência para mudar, aceitar novos desafios e aprender continuamente. Há quem se sinta mais seguro com a estabilidade… Não é o meu caso, quando me sinto em “zonas de conforto” é sinal que está na hora de seguir em frente, dar lugar a outros e avançar para novas aventuras que me proporcionem desenvolvimento, pessoal ou profissional. Para isso é preciso não ter medo de arriscar e gostar de sentir “borboletas na barriga”, sem grandes certezas sobre como vai correr… mas só quem o faz consegue ir mais longe e conquistar objetivos que à partida parecem inalcançáveis.

Em relação ao futuro, crente que ainda me falta mais de metade da vida para viver, tenho imensas coisas que adorava fazer. Profissionalmente, onde me vejo a médio prazo é em cargos de direção geral onde consiga concretizar o meu propósito, impactando equipas multifuncionais e a comunidade à volta da organização. A longo prazo, quiçá na frente de uma ONG onde toda a minha experiência empresarial possa ser posta ao serviço de quem mais precisa. A nível pessoal, com tantas filhas, conto vir a ter uma enorme prol de netos e bisnetos para apoiar e mimar ao longo dos anos…

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