“Queremos contribuir para a afirmação dos Politécnicos”

A Revista Business Portugal acompanhou de perto a trajetória de sucesso do Instituto Politécnico do Cávado e do Ave (IPCA). Com uma oferta formativa inovadora, foco na excelência e na pesquisa científica, o IPCA destaca-se no ensino, capacitando e qualificando os estudantes para os desafios do mundo em constante evolução. Para Maria José Fernandes, Presidente da instituição, o ensino é a chave que abre as portas para um futuro repleto de possibilidades.

Maria José Fernandes, Presidente

O IPCA iniciou a atividade letiva em 1996 com o objetivo de qualificar os jovens portugueses. Que balanço faz do progresso e evolução da instituição?

O IPCA é a instituição mais jovem do ensino superior público no país. A princípio, contava com apenas dois cursos e 74 estudantes, mas atualmente tem cerca de 6.800 estudantes. A instituição surgiu para cobrir as necessidades de formação da população adulta na região. Atualmente, dispomos de uma ampla oferta de ensino , não só diurno como em regime pós-laboral, para todos aqueles que estão inseridos no mercado de trabalho e procuram uma oportunidade de estudo. O impacto do IPCA é reconhecido pelas instituições, famílias e estudantes não só na região, mas também noutras áreas geográficas. Estamos presentes em seis concelhos: Barcelos, Guimarães, Famalicão, Esposende, Braga e Vila Verde. Além disso, o IPCA preenche lacunas na oferta de ensino, fornecendo um ensino orientado para a prática e em estreita relação com as empresas da região onde o IPCA se insere.

A oferta formativa de uma instituição de ensino superior desempenha um papel crucial na formação de profissionais capacitados. De que forma o IPCA promove a excelência e a inovação na sua oferta formativa? Quais os diferenciais que tornam os cursos oferecidos pela instituição tão relevantes no mercado?

A nossa oferta formativa é resultado de uma estreita colaboração com a região. Procuramos alinhar todos os cursos com as estratégias estabelecidas pelas empresas, evitando duplicações na oferta já existente noutras instituições. Além das licenciaturas, oferecemos cursos de mestrados e profissionais de curta duração, com a finalidade de reconhecer as competências que os candidatos já possuem na área específica onde trabalham. Para ingressar, é necessário ter cinco anos de experiência na área. Também são oferecidos cursos técnicos superiores profissionais, em parceria com empresas, visando formação prática e técnica. As entidades participam no desenho dos currículos, sendo que muitas delas pagam as propinas dos estudantes, muitos dos cursos são ministrados nas próprias empresas, aspirando a retenção de funcionários. A duração dos CTeSP´s é de dois anos, com um ano e meio em sala de aula e meio ano de estágio. Depois do estágio, o aluno obtém um diploma técnico, podendo prosseguir para uma licenciatura, se desejado. Como o IPCA oferece programas de ensino pós-laboral, muitos destes alunos (que já ficam no mercado de trabalho após o estágio) optam por continuar os estudos nessa modalidade. Esta oferta tem sido uma resposta muito positiva para as empresas da região e tem impactado positivamente os alunos.

A produção de conhecimento é um elemento essencial na educação. Como o IPCA incentiva e apoia a pesquisa científica entre os docentes e estudantes? De que maneira esta troca de conhecimento tem impactado positivamente a comunidade académica?

No IPCA, temos três centros de investigação que conduzem diversos projetos de Investigação & Inovação  com a participação ativa dos estudantes. Priorizamos a cocriação, com projetos multidisciplinares que englobam várias áreas do conhecimento, como a inteligência artificial, design, finanças, marketing, turismo, entre outras. Promovemos a inovação pedagógica, através de programas como o “50+10”, em que os alunos têm cinco disciplinas com cinquenta horas cada, durante um semestre. As dez horas restantes são dedicadas a um projeto transversal que envolve todas as disciplinas. Isso estimula o trabalho em equipa e promove uma perspetiva interdisciplinar entre os docentes e estudantes. Já o projeto “DEMOLA” é uma parceria com outras instituições politécnicas e empresas, onde formamos equipas multidisciplinares compostas por estudantes de diferentes níveis académicos. Trabalhamos em conjunto com professores para encontrar soluções para problemas reais apresentados pelas empresas. Posteriormente, estas soluções são apresentadas publicamente, envolvendo ativamente as empresas, promovendo a colaboração entre as instituições e transformando a nossa abordagem de ensino. Atualmente, oferecemos quatro Summer Schools em investigação, a nossa primeira escola de verão de investigação, sendo que a sua segunda edição já está a decorrer.

A transformação digital tem impulsionado mudanças profundas em diversos setores. Diante desta realidade, como o IPCA tem abraçado a transformação digital nas suas práticas educacionais?

Um dos nossos principais objetivos estratégicos para os próximos anos, impulsionado também pela pandemia, é a transformação das nossas metodologias de ensino. Reconhecemos a necessidade de novas formas de ensinar, considerando que os nossos estudantes são altamente conscientes das possibilidades e do potencial da tecnologia. Estamos empenhados em abordar todas estas áreas de desenvolvimento.

Além de ser Presidente do IPCA, também ocupa o cargo de Presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos, sendo a primeira mulher nesta posição. Quais as perspetivas que antevê para o avanço das instituições de ensino?

O Conselho Coordenador engloba todos os Institutos Superiores Politécnicos e o seu principal mérito está em reconhecer que juntos somos mais fortes. Tomar decisões em conjunto, como pressionar o Governo por financiamento, tem mais impacto do que agir individualmente. Na captação de estudantes estrangeiros, trabalhamos em conjunto, promovendo o sistema politécnico por inteiro nas feiras de ensino, como é o caso do projeto PPIN (Portugal Polytechnics International Network). O Conselho Coordenador tem a grande vantagem de transformar desafios em melhores soluções por meio da cooperação. Estamos aqui para trabalhar e queremos contribuir para a afirmação dos Politécnicos.

Num mundo em constante evolução, o Ensino Superior enfrenta desafios significativos. Quais os principais obstáculos que o IPCA tem enfrentado e como pretende superá-los, garantindo a qualidade no ensino? Como olha para o futuro do IPCA?

O subfinanciamento é o nosso maior desafio. Sendo a instituição mais jovem do país, surgimos num período de recursos limitados. Anteriormente, o financiamento público era baseado no número de estudantes, mas esta abordagem mudou em 2009. Atualmente, o nosso financiamento é baseado no histórico, se antes éramos 2 mil, agora já somos mais de 6 mil. Para o futuro, estamos empenhados na internacionalização e na expansão do nosso campus. Além disso, temos em curso um projeto em Guimarães, a Escola-Hotel, em parceria com o município, que estará operacional em breve, desempenhando um papel fundamental na oferta formativa futura nas áreas de hotelaria, gastronomia e inovação alimentar. Em Esposende estão já em curso as obras de construção do LISA (Laboratório de Inovação e Sustentabilidade Alimentar), assim como em Barcelos, o B-CRIC (Barcelos Collaborative Research and Innovation Center) já ganha forma e a Escola Superior de Design passa em setembro para o centro da cidade para o renovado edifício da antiga Escola Gonçalo Pereira. O IPCA enfrenta o desafio contínuo de crescer  de forma sustentada com uma abordagem consciente das dificuldades.

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