QB Concept: “O QB Concept é um exemplo de superação”

O QB Concept é uma marca portuguesa, criada por Andreia e Sérgio Piscarreta, Daniela e João Piscarreta, dois casais, unidos por laços familiares, que se aventuraram na criação de um novo conceito de restauração em centros comerciais. Presentes em Tavira, Guia e Portimão, as lojas QB Concept são um sucesso, ao ponto de já se equacionar franchisar o projeto. Porém, antes disso, os quatro sócios passaram por um rigoroso e exigente processo de criação de marca e fidelização de clientes, que só ultrapassaram porque acreditaram sempre que o projeto seria vencedor.

Os quatro sócios receberam a Revista Business Portugal na primeira loja que abriram, localizada no centro comercial Tavira Gran-Plaza. Nenhum deles estava ligado a projetos de restauração – Andreia, Sérgio e João têm formação em Gestão, Daniela em Turismo e Marketing – mas o empreendedorismo falou mais alto.
O projeto pioneiro pertence a Andreia e Sérgio Piscarreta, que apostaram num franchising de uma marca de fast food Portuguesa já consolidada. “A Andreia já trabalhava na sede desta marca de fast food e foi lá que nos conhecemos, porque eu trabalhava para uma empresa associada a essa marca”, explica Sérgio. “Pouco tempo depois de começarmos a namorar, já pensávamos em abrir um negócio em conjunto, porque sempre fomos empreendedores e queríamos ter um projeto nosso. No início não foi fácil e deparamo-nos com algumas dificuldades”.
Porém, não desistiram e, numa passagem por Tavira, tomaram conhecimento de que o centro comercial estava em construção e havia vagas para lojas. “Contactámos imediatamente o centro comercial, que ficou interessado na nossa proposta. Apresentámos esta nova ideia à marca e conseguimos levar o projeto avante. Abrimos esta loja em 2009, com a ajuda de um Fundo Comunitário. O primeiro ano foi difícil, a mudança para uma nova cidade, a adaptação à gestão de um negócio, muitas horas de trabalho para garantir que tudo corria como nós queríamos, acompanhando de perto toda a operação para garantir o sucesso”. Daniela e João acabavam por passar muitos fins de semana em Tavira, para estarem mais próximos de Andreia e Sérgio: “foi um ano intenso, uma aposta grande do meu irmão e da minha cunhada e nós fomos acompanhando de perto a evolução do negócio”, lembra João.

O nascimento do QB Concept
Durante o primeiro ano de vida do projeto de Andreia e Sérgio, uma das lojas no food court do centro comercial ficou livre para comercialização. Viram aí uma oportunidade para trazer para perto de si João e Daniela. “Estávamos insatisfeitos com os nossos trabalhos. Não tínhamos mais por onde evoluir e queríamos mudar. Vimos uma oportunidade de trabalho para a Alemanha, que iria funcionar quer para mim, quer para o João e estávamos a pensar emigrar. O Sérgio e a Andreia não gostaram muito da ideia e, quando surgiu a vaga numa das lojas, propuseram-nos abertura de um projeto em conjunto”, explica Daniela.
Sérgio acrescenta que, além de querer o irmão e a cunhada por perto, acreditava também que haviam outras oportunidades de negócio naquele espaço comercial aliando a vinda deles para Tavira à oportunidade existente no food court nasceu o qb Concept. “Queríamos criar um conceito de comida caseira, com o qual as pessoas se identificassem, mas na verdade nem sabíamos muito bem o que isso representava. Começámos por querer fazer a comida em casa, para provarmos tudo e decidirmos o que iríamos vender, mas somos quatro e todos têm opiniões diferentes, por isso, acabámos por decidir ter ingredientes frescos e naturais e permitir aos clientes criar os seus próprios pratos”, relembra Daniela.
O conceito do qb Concept nasceu em março 2013 e passava por ter três opções – massas no wok, saladas e baguetes. Os clientes podiam escolher todos os ingredientes que usavam na confeção, quer do seu prato de massa, quer da sua salada, ou baguete, o que proporcionava uma escolha grande e uma variedade de combinações sem fim. “O nosso objetivo era que as pessoas que viessem comer regularmente ao centro comercial, pudessem construir os seus pratos e acabassem por nunca repetir uma refeição, mas essa ideia revelou-se um desafio”, recorda João. “A ideia não passava para o público. As pessoas chegavam à loja, viam os cerca de 40 ingredientes que tínhamos disponíveis – através de uma vitrina para expor os produtos, que também foi uma inovação neste espaço – e não entendiam o conceito”, conta Andreia. “Era uma frustração muito grande, porque investíamos muito tempo na preparação dos ingredientes. Todos os produtos eram frescos, cortados e preparados no próprio dia, na loja. Tínhamos dois momentos de preparação – de manhã e à tarde – e só parávamos para servir os almoços e os jantares e, depois, para as limpezas obrigatórias. Como o cliente tinha que construir o seu próprio prato e não dávamos sugestões, era frustrante que as pessoas não percebessem o conceito que nós achávamos inovador”, explica Andreia.
O primeiro ano de qb Concept foi muito duro para os quatro sócios. O investimento tinha sido grande e o retorno não estava a ser o esperado: “a sensação que tínhamos, no final do primeiro ano, era que ou mudávamos tudo, ou fechávamos. Não foi fácil, deu origem a muitas discussões, dificuldades, recebemos muitas críticas e sentíamos que não estávamos a comunicar a ideia como devíamos. Ainda assim, acreditávamos no projeto e foi, por isso mesmo, que voltámos a tentar”, recorda Sérgio.

O renascimento do QB Concept
Depois de muitas noites sem dormir e algumas desilusões pelo caminho por não saberem como se posicionar no mercado, os quatro sócios resolveram não desistir do projeto com que tinham sonhado. “Em 2014, com o apoio de um vale empreendedorismo fizemos uma nova aposta na marca. Após várias reuniões, concluímos que a grande falha estava na comunicação. Por isso, resolvemos redesenhar a marca, incluindo o logótipo, mudar as cores e fazer as pessoas perceberem que não queríamos estar associados à ideia de comida light, mas sim a uma comida criativa, de qualidade, com a qual dava para inovar”, conta Daniela. De verde e branco, o logótipo passou para laranja e castanho, cores associadas à terra e à naturalidade e origem dos produtos que vendem. “Além desta mudança, percebemos também que precisávamos de criar menus com sugestões, receitas testadas e aprovadas por nós, para ajudar o cliente na sua escolha. Propostas simples mas igualmente saborosas e com a mesma qualidade”, diz João.
Assim, o qb Concept passou a ter dois tipos de menus distintos – o qb Menu, onde o cliente continua a poder escolher os ingredientes e, em três passos, montar o seu prato, ou o Go Menu, onde o cliente pode escolher entre as sugestões de receitas já preparadas e sugeridas pela equipa qb Concept. “A ideia seria manter a essência da nossa marca, mas também facilitar o cliente no processo de escolha, através das nossas sugestões – Go Menu. A mudança foi um sucesso e, finalmente conseguimos ter uma posição clara junto do público e dar a conhecer às pessoas a marca qb”, esclarece Andreia.
As massas utilizadas na cozinha das lojas qb Concept são todas preparadas num wok, de acordo com os padrões de cozinha portugueses, o que garante um sabor único ao prato. “Não queremos ser associados ao conceito asiático na preparação das massas, mas sim a uma comida caseira, com sabor português confecionada no wok. Estas são, aliás, o nosso ex-libris”, clarifica Sérgio.
“Percebemos no verão, mesmo com outras opções, nomeadamente as saladas, que o nosso produto ‘estrela’ eram as massas, porque nem nessa época de maior calor o seu consumo diminuiu”, diz Andreia.

O Go Menu tem seis opções já preparadas. Nas massas, pode escolher entre Carbonara, Italiana, Nápoles,4 Queijos, Oriental e Campestre. Nas saladas, também existem seis opções – Mediterrânea, Atum, Americana, Algarve, Nórdica e Vegetariana. Se optar por uma baguete, existe a de Atum, Delícias, Frango, Clássica e Salmão.

Se preferir montar o seu próprio prato, é só seguir três passos: escolher a base (o tipo de massa, salada ou pão), optar por cinco dos mais de 40 ingredientes existentes (quatro verdes e um vermelho) e escolher o molho frio ou quente que quer que acompanhe o seu prato. Os molhos que acompanham os pratos são outra particularidade do qb Concept, pois são todos feitos na loja e originais. “Inicialmente, tínhamos optado por encomendar os molhos a empresas externas, mas eram tão maus que decidimos prepará-los em casa. Fomos fazendo experiências, até que os molhos estivessem do nosso agrado. Foi mais de um ano de trabalho, desde o início do projeto, até à sua reformulação. Agora, temos as receitas oficializadas e não existem molhos iguais aos nossos no mercado”.

Existem seis molhos qb – carbonara, 4 queijos, agridoce, tomate, cogumelos e natas – pontualmente aparecem novas criações.

 

A família qb Concept
Uma marca é feita das pessoas que nela acreditam e trabalham. No caso do qb Concept, os colaboradores são fundamentais e os quatro sócios reconhecem a sua importância: “a todos os colaboradores que formamos, tentamos sempre explicar o quão fundamental são determinados valores para podermos oferecer um serviço de excelência ao cliente. A simpatia, o brio profissional, o ‘vestir a camisola’, fazem parte dos padrões de serviço do qb”.
Com três lojas abertas, os colaboradores já são cerca de 30, o que aumenta a complexidade da gestão dos recursos humanos. “Nós temos sempre o processo de recrutamento aberto, porque o facto de trabalharmos em shoppings obriga-nos a uma rotação de pessoal muito grande, para cumprir todos os turnos. No verão, há a necessidade de aumentar substancialmente os colaboradores e, se não os tivermos já preparados, torna-se muito complicado”, revela João.
Aliado à dificuldade na gestão diária dos colaboradores, existe ainda a grande carga fiscal aplicada às empresas portuguesas, que cria ainda maiores desafios. “Gostamos que os nossos colaboradores se sintam estimados e queremos reconhecer o trabalho que fazem. Um exemplo sobre a carga fiscal elevada são as taxas sobre os prémios e incentivos. Os prémios de produtividade não deveriam ser taxados, a carga fiscal que inside sobre os mesmos torna-se desmotivante para ambas as partes. Temos muitos casos em que, apesar de pagarmos mais, a pessoa acaba por receber menos, devido aos descontos”. “As margens para quem trabalha na restauração em shoppings são muito pequenas e os impostos a que estamos sujeitos são muito elevados o que cria um obstáculo ao crescimento das empresas”, esclarece Sérgio.

O crescimento do projeto e a aposta no franchising
Depois da reformulação da loja de Tavira, o conceito começou finalmente a ganhar público fidelizado, o que fez com que os sócios desenvolvessem uma ação de marketing através de um cartão de fidelização. Quando o cartão estiver totalmente carimbado, têm direito a uma refeição gratuita. “As pessoas começaram finalmente a reconhecer-nos, enquanto marca e enquanto mais-valia na alimentação de um centro comercial. Trazemos boas opções, saudáveis no que respeita à qualidade e frescura dos ingredientes e com opções que agradam a toda a família. Essa fidelização dos clientes foi fantástica. Neste momento, as pessoas já vêm à praça da alimentação para vir comer ao qb Concept, e dizem mesmo que vão comer às massas, e é desta forma que nos temos vindo a destacar com este produto diferenciador”, revela, orgulhosa, Daniela.
Graças ao sucesso e aos bons resultados da marca, em 2016 receberam propostas de outros centros comerciais para que pudessem dar a conhecer o qb noutros locais. Assim, em maio de 2016 abriu a loja qb Concept no AlgarveShopping situado na Guia – Albufeira, e em setembro, do mesmo ano, nasceu outra unidade no Centro Comercial Continente em Portimão. “Desde então não abrimos mais nenhuma loja, não por não termos oportunidades, mas sim porque decidimos que a marca precisava de amadurecer. Neste momento, a nossa estratégia de negócio passa por um crescimento sustentado, com a abertura de mais unidades próprias, de forma a testar a marca noutros contextos, para de seguida avançar com um modelo de negócio em franchising. Já temos o manual e o plano de negócios para franchisados preparados, no entanto, acreditamos que ainda conseguimos simplificar e definir melhor os processos de forma a tornar o negócio mais simples e rentável para quem vier a apostar na marca qb Concept. Queremos que os nossos parceiros sejam um de nós e que tenham um negócio pensado ao pormenor”. Um dos objetivos passa por centralizar a preparação dos alimentos, para depois os distribuir pelas lojas. Sérgio explica que este passo requer algum investimento, mas para isso será necessário a abertura de mais lojas: “estamos a estudar várias hipóteses para no próximo ano estarmos presentes em Lisboa e Porto. Dois mercados que são, para nós, fundamentais para o crescimento do qb. Perspetivamos até 2024 chegarmos às 20 lojas. Por enquanto, a curto prazo vamos continuar a consolidar a marca, tendo sempre presente os valores, qualidade, frescura, rapidez e simpatia qb Concept”.

You may also like...