Olho Seco e aparelhos digitais – cuidados a ter no Presente e no Futuro

Créditos Foto: Esfera das Ideias |  J. Salgado-Borges, Médico e Cirurgião Oftalmologista Diretor da Clinsborges e Embaixador em Portugal do TFOS (Tear Film & Ocular Surface Society) www.clinsborges.pt / www.salgadoborges.com

 

A utilização de aparelhos digitais tornou-se parte inerente no dia-a-dia da maioria das pessoas. Munidas com smartphone, tablet, laptop, TV ou outros dispositivos, a atenção visual é direcionada para os ecrãs e com o uso excessivo destes aparelhos, prevemos que a doença do olho seco venha a exacerbar nas próximas décadas.

A síndrome do olho seco é uma condição ocular caracterizada pelo desajuste entre a quantidade e a qualidade da secreção lacrimal e as necessidades de lubrificação da superfície do olho. Manifesta-se por um conjunto de sinais e sintomas inespecíficos, tais como:  sensação de picada, ardência, lacrimejo excessivo e pode ser causada por vários fatores: exposição prolongada aos ecrãs, exposição a poluentes ambientais, o tabaco, a humidificação deficiente e o aumento da evaporação da lágrima. Em casos extremos pode causar danos na córnea e cicatrizes, e eventualmente perda irreversível da visão.

Como a utilização de aparelhos digitais pode causar a síndrome do olho seco?

Vários estudos relacionam o uso dos aparelhos digitais com sintomas da síndrome do olho seco, sendo os seguintes fatores determinantes para a sua causa:

Redução da taxa de pestanejo

A taxa de pestanejo é reduzida em quase 66% quando a atenção está direcionada para um ecrã. Esta constatação é relevante porque pestanejar menos aumenta o risco de desenvolvimento do olho seco.

O pestanejar tem um papel fulcral na hidratação dos olhos. A lágrima forma uma película que recobre o globo ocular e a face interna das pálpebras, para que estas durante o pestanejo passem suavemente sobre o olho sem o “arranhar” ou danificar, funcionando como o óleo de uma máquina. 

Disfunção das Glândulas de Meibomius

As glândulas de Meibomius são pequenas glândulas que revestem o bordo das pálpebras e produzem ativamente lípidos e proteínas para as suas margens. 

A sua disfunção é o termo geral para complicações glandulares que podem levar a uma composição alterada da película lacrimal, desconforto ocular e palpebral – olho seco evaporativo.

Estudos demonstraram que pessoas que passam 4 ou mais horas diárias a olhar para um ecrã têm maior incidência de sintomas de disfunção da glândula de Meibomius e síndrome do olho seco.

Quais os cuidados a ter com os seus olhos em 2022

Algumas recomendações que ajudam a combater os sintomas de olho seco ao utilizar um equipamento digital:

• Faça pausas frequentes e aplique a regra 20-20-20 (parar a cada 20 minutos de uso, parar durante 20 segundos e olhar para uma distância de 20 pés, ou seja, cerca de seis metros);

• Manter a hidratação corporal e beber água ao longo do dia;

• Colocar o ecrã do computador a 50-55 cm, ao nível dos olhos ou ligeiramente abaixo;

• Trabalhar numa sala bem iluminada e usar, se necessário, um humidificador. 

• Fazer, quando possível, uma pausa no uso das lentes de contacto;

Comum no tratamento de todas as situações de olho seco é a administração de lágrimas artificiais. Em especial, há que ter cuidado com o uso de lágrimas artificiais com conservantes, uma vez que estes podem ter efeitos tóxicos e ser indutores de alergias, e por si só agravarem a situação de olho seco. 

Hoje, uma terapêutica mais adaptada a cada tipo de olho seco, foi disponibilizada pela investigação e desenvolvimento farmacológico (lágrimas artificiais sem conservantes ou geles fluídos).

Em conclusão, para prevenir e tratar um olho seco, para além da utilização de lágrimas artificiais, é fundamental alertar a população para a doença do olho seco, evitando o uso prolongado dos computadores e a permanência em ambientes adversos.

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