OFTALMOLOGIA “UMA ESPECIALIDADE IMINENTEMENTE TECNOLÓGICA”

A Revista Business Portugal esteve à conversa com o médico oftalmologista Nuno Campos, especialista na área de cirurgia implanto-refrativa e cirurgia laser, que partilhou connosco quais os concernes da atualidade relativos ao setor.

Relativamente à parte cirúrgica, descreva-nos as maiores inovações feitas neste âmbito.
Uma das grandes inovações nos últimos anos, na medicina de uma forma geral e na oftalmologia de uma forma muito evidente, é o facto da maior parte dos procedimentos cirúrgicos serem feitos em regime de ambulatório. Toda a patologia e carga de complicações associadas ao internamento do doente, dessa forma é fortemente diminuída. Os procedimentos, mesmo aqueles que são realizados com sedações profundas ou com anestesias gerais, são possíveis de ser feitos em regime ambulatório. Ou seja, o doente passa apenas algumas horas na unidade de saúde. Este regime (transversal na atividade privada e pública) é um ganho significativo para a qualidade da prestação do ato médico e para a segurança do doente. Mesmo os procedimentos anestésicos são cada vez menos invasivos, sendo acompanhados de uma série de metodologias que permitem atingir maior comodidade para os doentes, que regressam ao seu dia-a-dia mais cedo.
Outras inovações igualmente relevantes são o enorme aperfeiçoamento da cirurgia de catarata com técnica laser – denominada FEMTO cirurgia de catarata –, que permite maior precisão e recuperações mais rápidas; os novos tipos de lentes intraoculares adaptados a estilos de vida mais ativos; assim como, os procedimentos laser refrativos cada vez mais avançados. Mesmo a cirurgia vitreorretiniana – muito complexa –, é cada vez menos invasiva, podendo ser realizada em 3D, utilizando igualmente o laser, de forma cada vez mais abrangente. Por outro lado, a decisão diagnóstica diária é cada vez melhor apoiada em equipamentos tecnologicamente mais avançados que utilizam, muitas vezes, a inteligência artificial, permitindo suportar as melhores escolhas terapêuticas e cirúrgicas.

Sente que a educação para a Saúde Visual é um aspeto que deve ser trabalhado pelos portugueses?
É necessário, porque, por vezes, existe uma assimetria profunda entre o conhecimento que as pessoas têm da doença de uma forma generalista e a sua realidade. Nós consideramos os doentes como parceiros num determinado processo de cura e de tratamento e, por vezes, sentimos que por muito que transmitamos o enquadramento realista da sua situação clínica, existe alguma negação. Considero assim que, o passo correto para uma boa educação para a saúde e para a prevenção é existir sempre um enquadramento médico.
O oftalmologista na área da saúde visual tem a capacidade técnico-científica para diagnosticar, em tempo útil, situações que são passíveis de serem tratadas, evitando assim consequências graves e muitas vezes irreversíveis. Nesta área da prevenção destacam-se o glaucoma, a diabetes ocular e a degenerescência macular ligada à idade. É importante ainda que as pessoas que nos procuram cultivem ativamente conhecimentos, práticas de vida e comportamentos saudáveis, através da leitura de fontes científicas de grande divulgação que sejam credíveis e, em simultâneo, que compreendam que cada um de nós é uma individualidade biológica própria.

Como carateriza a área da oftalmologia em Portugal?
Estamos a viver um bom momento, tanto em termos de formação, como em termos dos cuidados de qualidade que são disponibilizados à população. Nesta área, raramente é necessário sair de Portugal para ser submetido a um procedimento cirúrgico, independentemente da sua complexidade. A área da formação da oftalmologia no nosso país é das melhores e das mais respeitadas a nível europeu.
A Sociedade Portuguesa de Oftalmologia e o Colégio da Especialidade de Oftalmologia têm trabalhado conjuntamente para assegurar uma qualidade superlativa nos cuidados oftalmológicos realizados diariamente em Portugal e na formação médica específica nesta especialidade.
Diariamente, temos pequenos clusters de trabalho de médicos, quer nos hospitais do SNS quer em instituições privadas de saúde a fazer investigação, e a realizar as melhores práticas clínicas para procurar novas soluções, podendo rapidamente propô-las e disponibilizá-las.

Na consequência da exposição constante dos olhos aos ecrãs digitais, o que é que as pessoas podem fazer para diminuírem a sensação de olho seco?
Os princípios são sempre os mesmos: bom senso e uma higiene de saúde visual. Devem procurar aconselhamento junto do oftalmologista sobre o número de horas de exposição que devem ser respeitadas, verificando simultaneamente quais os fatores ambientais e de iluminação que podem ser otimizados. Existe uma subespecialidade da oftalmologia denominada ergoftalmologia que se dedica a essa área, estudando e promovendo as melhores condições no trabalho, tanto do ponto de vista funcional como operacional. Do ponto de vista terapêutico é sempre possível ainda, com o apoio do Oftalmologista, ter prescritos princípios ativos, nomeadamente lágrimas artificiais – que podem ser um coadjuvante importante para equilibrar estes sintomas –. Mesmo na minha área de atuação principal que é a cirurgia implanto-refrativa e cirurgia laser, acabo por me confrontar com vários quadros sintomáticos nesta área, que devem ser otimizados e equilibrados antes de realizar procedimentos cirúrgicos.

O que são as doenças do Século XXI?
Estamos a viver um novo paradigma, para o qual já nos estamos ativamente a preparar para tratar, que são as doenças relacionadas com o processo do envelhecimento, sendo algumas delas oftalmológicas. Ao haver envelhecimento significa que houve um trabalho assistencial meritório feito durante anos que corresponde a uma evolução civilizacional e que permite transportar, com qualidade de saúde, as pessoas até idades mais avançadas. Mesmo assim, todos sabemos que a vida é finita e que nessa trajetória, há situações clínicas que importam cuidar para termos pessoas a viver muito mais e de forma ativa. A oftalmologia é uma das especialidades que tem apostado de forma mais veemente na investigação e nos meios de tratamento que são disponibilizadas às pessoas, destacando-se as evoluções nas técnicas cirúrgicas de laser e lentes intraoculares utilizadas na cirurgia de catarata; assim como, os novos fármacos disponibilizados para o tratamento da degenerescência macular ligada à idade, do glaucoma e das complicações da diabetes ocular.

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