Mais de 100 anos de Educação para a Saúde
A farmácia é muito mais do que um simples local de compra e venda de produtos, tem um papel ativo e importante na sociedade. Exemplo disso mesmo é esta centenária de Albufeira, a Farmácia Alves de Sousa, que está ao serviço da população, não só em termos de produtos e serviços, como também ao nível da Educação para a Saúde. Em conversa com Isabel Rosa, diretora técnica, ficámos a conhecer mais de 100 anos de história.
Fale-nos do percurso da Farmácia Alves de Sousa.
Esta foi a primeira farmácia de Albufeira, sempre no âmbito da minha família e conta já com mais de 100 anos de atividade. Inicialmente, estávamos localizados na zona central de Albufeira, mas atendendo ao trânsito e à difícil acessibilidade ao centro, mudámos de instalações, em 2007. A nova localização é muito mais acessível e estas instalações são modernas, atualizadas e adequadas às novas necessidades e diversos interesses dos utentes.
Qual é o tipo de cliente da Farmácia Alves de Sousa?
Temos os residentes ao longo do ano, mas também os turistas de todos os continentes, na altura do grande afluxo turístico, entre março e outubro, sendo o maior pico entre junho e setembro. Este ano, como sabem, foi muito diferente. Houve menos turistas e, portanto, a vertente de apoio ao turista internacional não foi tão evidente, mas, em contrapartida, tivemos bastantes turistas nacionais.
Tendo em conta a sua experiência, como vê a evolução da carreira do farmacêutico?
O farmacêutico comunitário sempre interveio com uma forte vertente de apoio e de diálogo com as pessoas e, em simultâneo, com a vertente de tentar resolver as questões de saúde que se colocavam, no entanto, era uma intervenção, talvez, menos científica e menos fundamentada, centrada na dispensa de medicamentos.
Ao longo do tempo, esta vertente de apoio e de diálogo – por vezes até de apoio social, desviando-se da estrita área da saúde –, foi-se transformando e aumentando aos poucos. Paralelamente a vertente da dispensa e do aconselhamento em relação ao medicamento, bem como a área da prestação de serviços foram-se também desenvolvendo. Agora, de forma mais consistente, conseguimos disponibilizar aos utentes várias valências, como os testes para determinação do colesterol e da glicémia, os serviços de nutrição, de podologia, de controlo do pé diabético, da hipertensão e da diabetes, de combate ao tabagismo, ou de apoio ao nível da toxicodependência.
As pessoas acabam por nem ter uma ideia exata, mas, a título de exemplo, na questão do apoio a toxicodependentes, a farmácia teve um papel muito importante. No caso concreto de Albufeira, havia o grave problema das seringas deixadas na praia. Quando, por iniciativa da Associação Nacional das Farmácias, a farmácia passou a fornecer os kit’s – com um toalhete, um preservativo, um filtro, uma nova seringa e um desinfetante – em troca das seringas usadas, conseguiu-se controlar o enorme perigo do abandono das seringas, proteger a saúde pública e oferecer uma via de diálogo e de confiança a estes doentes.
E, tendo em conta a atualidade do ano 2020, como está a ser a adaptação?
Na altura do confinamento, passámos por uma situação muito complicada. Acabámos por nunca encerrar, tivemos sempre a farmácia a trabalhar, mas, durante mais de dois meses, fizemos o atendimento ao postigo. Foi muito desagradável para todos, mas principalmente para os utentes, que tinham de estar à espera na rua, em fila. No entanto, não deixámos de dar apoio e de securizar quem nos procurou. Chegámos mesmo a entregar medicamentos em casa de quem não podia, ou tinha receio, de sair. Não podemos deixar de realçar o enorme civismo demonstrado pela população de Albufeira nestes tempos complicados que temos vivido.
Tomámos as medidas possíveis para manter o acompanhamento aos utentes e para garantir a dispensa dos medicamentos necessários, numa altura em que as pessoas estavam com receio que deixasse de haver medicamentos.
Por outro lado, a nível interno, passámos a funcionar em espelho, ou seja, tínhamos colaboradores que só vinham da parte da manhã e outros que só vinham da parte da tarde, para evitar cruzamentos e possibilidades de contágio. Adicionalmente, implementámos as medidas de segurança que, agora, fazem parte do nosso dia a dia: acrílicos, máscaras, viseiras, luvas, desinfetantes, marcação de distâncias, cartazes de alerta.
Com a entrada no outono, considera que se avizinham tempos difíceis?
Penso que o facto de usarmos várias proteções individuais e coletivas, apesar de ser desagradável, vai ajudar-nos, pois irá defender-nos melhor dos contágios por via respiratória. De qualquer modo, a “época” das gripes é sempre uma altura complicada.
Este ano, em algumas zonas do país, as farmácias também vão apoiar o Serviço Nacional de Saúde (SNS), realizando a vacinação. Em articulação com diversos municípios muitos dos utentes, que deveriam ser vacinados através dos serviços do SNS, poderão, também, ser vacinados nas farmácias, gratuitamente.
Passados mais de 100 anos, o que considera que ainda distingue esta farmácia das outras?
Penso que um dos aspetos que nos distingue verdadeiramente é o facto de fazermos diversas atividades de Educação para a Saúde. Há muito que promovemos debates, encontros, caminhadas, rastreios, com o apoio de outros profissionais (médicos, enfermeiros, nutricionistas).
Desenvolvemos também uma vertente de dinamização cultural. Já tivemos, por exemplo, uma exposição sobre o Museu da Farmácia, onde estavam expostas fotografias de peças do Museu. Anualmente, em maio, realizamos “A Festa do Coração”, com música ao vivo e baile, já que os nossos utentes precisam de se “mexer” e dançar é uma boa e divertida forma de exercício.
Tentamos fazer uma ponte entre o apoiar as pessoas em termos de medicamentos e de serviços e o fazê-las sentirem-se acompanhadas, bem e alegres, mesmo em situações de doença.
A Farmácia, para nós, enquanto agente de saúde e de bem-estar, tem uma forte vertente social, de partilha. Por outro lado, tentamos que seja ainda um local de cultura, de educação para a saúde, de integração.
Trabalhamos para que a Farmácia Alves de Sousa continue, de forma atualizada científica e tecnologicamente, a apoiar a saúde das comunidades residentes e a saúde dos turistas que procuram o sol e o mar de Albufeira. Queremos estar neste presente preparados para o futuro.
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