O papel de Portugal no mercado do jogo europeu

Os números são evidentes: Portugal é um dos países da Europa onde mais se aposta em jogos de sorte e azar como o poker, a roleta, ou as slots. De acordo com um relatório emitido em 2018, a performance portuguesa supera a de vários países europeus com maior número de população, traduzindo-se em valores anuais de receita bruta na casa dos 309 milhões de euros. Desde que os números foram apresentados há cerca de 3 anos atrás, o mercado dos jogos em Portugal não parou de crescer, principalmente ao nível do setor dos serviços de jogo online, também conhecido como iGaming.


Apenas cinco países ficaram à frente de Portugal: o Reino Unido, com receitas brutas no valor de €1.4 biliões, a França (€2314 milhões), a Alemanha (€688 milhões), os Países Baixos (€610 milhões) e a Suíça (€661 milhões). De acordo com os relatórios oficiais da União Europeia, países mais populosos do que Portugal surgem muito abaixo no ranking geral. São os casos da Itália, que contabilizou receitas brutas na casa dos €300 milhões, da República Checa (€240 milhões) ou da Polónia (€173 milhões), sem contar com os países da Escandinávia (com receitas médias na ordem dos €80 milhões), a Grécia (€260 milhões) ou a Hungria (€170 milhões).

Um país de jogadores?

Os conclusivos dados permitem-nos deduzir que, mais do que um país onde a indústria dos jogos de sorte está habituada a prosperar, Portugal é também uma terra de jogadores em que atividades como as apostas desportivas, o poker, ou as slots conquistam centenas de milhares de adeptos todos os anos. Ainda assim, a preponderância da indústria do jogo em Portugal verifica-se com maior incisão no mundo dos jogos de sorte online. Não foi por acaso que em 2020 se emitiram 3 novas licenças em Portugal relativas a jogos de texas holdem e afins através da Internet. Nem por acaso que em 2020 se registou um aumento considerável do número de novos registos, particularmente incisivo em jogadores com menos de 34 anos (o jogo online é mesmo uma tendência entre os jovens portugueses).

O iGaming chegou para ficar

De acordo com dados estatísticos relativos a 2020, a indústria do jogo online (ou iGaming) representa cerca de 34.7% de todo o volume de apostas realizadas ao nível mundial; uma percentagem que, segundo as estimativas dos economistas, deverá crescer até aos 33.6% em 2025.
Em 2020, estima-se que os portugueses tenham gasto uma média de 600 mil euros por hora em serviços de jogo online. Só no último semestre de 2020, os valores de receita bruta ultrapassaram os 100 milhões de euros pela primeira vez em anos, de acordo com um relatório estatístico emitido pelo SRIJ no final de Março.
Outrora tido como um mercado emergente, o setor dos jogos de sorte e azar através da Internet não tem parado de crescer desde 2012. Em 2018, o mercado europeu de iGaming valorizou muito: estima-se mesmo que o setor possa vir a valer €29.3 biliões em 2022, e isto se referirmos apenas o mercado europeu. Em termos de market share, Portugal ainda se encontra muito longe dos verdadeiros “gigantes” do jogo online da Europa. O grande destaque é o Reino Unido, que controla 34.2% da indústria de iGaming europeia, seguindo-se a Alemanha (11.1%), a França (8.8%), a Itália (8.1%) e a Suécia (5.2%). Apesar dos modestos números relativos às receitas obtidas em serviços de jogo territoriais (como casinos ou casas de bingo), os países da Escandinávia encontram-se entre aqueles onde mais se joga online na União Europeia.

Um fenómeno sociocultural 

A influência do mercado do jogo europeu também se estende para lá do mundo do jogo e tem um impacto muito forte no entretenimento online (desde o YouTube ao Twitch), na comunicação social e no desporto profissional. Em 2018, investiram-se mais de €86 milhões em patrocínios desportivos, sendo que alguns envolveram clubes portugueses de futebol profissional. Além disso, estima-se que o setor empregue mais de 32 mil cidadãos europeus, naquele que é um claro sinal do crescimento da influência do iGaming na Europa.
Algumas organizações internacionais, como a European Gaming and Betting Association (EGBA) defendem que está na altura de assumir um conjunto de normas standard relativas à indústria do jogo online na União Europeia. Embora a maior parte dos países do mundo possua sistemas de licenciamento de entidades de jogo próprios, ainda existem muitas disparidades normativas na Europa e no mundo. É o caso de Portugal, que emitiu o seu decreto-lei de licenciamento do jogo em 2015.
De acordo com a EGBA, cujo objetivo passa por assegurar a segurança dos consumidores, a estandardização legal do setor do iGaming poderia representar poupanças na ordem dos €6 biliões anuais, podendo ainda impactar de forma decisiva a segurança daqueles que utilizam este tipo de serviços. A EGBA já emitiu vários relatórios pan-europeus acerca do tema; até ao momento, contudo, apenas a Dinamarca implantou todas as novas legislações de jogo sugeridas pela EGBA.

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