IQV Agro Portugal: “Assegurar a sustentabilidade e o respeito pelo meio ambiente”

A Revista Business Portugal esteve à conversa com o representante da IQV Agro Portugal SA, Francisco Bogas, para entender a dinâmica empresarial do grupo e conhecer a gama de produtos que oferecem.

 

Desde a fundação, quais foram as evoluções, no que respeita ao crescimento da empresa, que gostaria de destacar?

Em Portugal, a IQV Agro Portugal S.A nasce em dezembro de 2002, com um grupo de acionistas portugueses e espanhois, sendo detido pela Cadubal e pelas Indústrias Químicas dos Vallés. Assumi funções de Administrador Delegado em 2003, e desde aí destaco alguns momentos. Quando adquirimos um fábrica em Cheste à empresa Bayer Crop Science (passando a IQV a deter duas fabricas); quando a empresa Indústrias Químicas dos Vallés S.A portuguesa passa a ser detida a 100 por cento pela Indústrias Químicas dos Vallés; quando surge a IQV Estados Unidos; com a criação da IQV China e ainda com incorporação da empresa no grupo MatHolding que opera no setor fito-sanitário (IQV) e no setor das águas (Regaber, Hidroglobal, Dorot, etc).

Quais são os principais produtos produzidos, neste momento, na empresa?

Os nossos principais produtos são os sais de cobre (Calda Bordalesa, Oxicloreto de cobre e Hidróxido de cobre) e o metalaxil. Apesar de não os produzirmos de raiz também comercializamos herbicidas, inseticidas e outros.

Com a nova tecnologia, e a sustentabilidade necessária ao ambiente nos dias de hoje, houve necessidade de fazer algumas alterações aos vossos produtos?

Sim, a política da empresa sempre foi a de assegurar a sustentabilidade e o respeito pelo meio ambiente e pelos nossos recursos naturais, minimizando o impacto da aplicação de produtos fitofarmacêuticos no nosso ecosistema. Aliás, a grande maioria dos produtos produzidos ou comercializados por nós estão hoje registados e homologados para serem aplicados em produção biológica. Além disso, a nossa fábrica de Cheste tem um certificado atribuído pela EMAS – Eco Management and Audit Scheme, que garante que são aplicadas as melhores formas de produção, de forma a minimizar os efeitos da produção e da comercialização destes produtos no meio-ambiente.o-Management and Audit SchemeEco-Management and Audit SchemeEco-Management and Audit Scheme

Com mais de 300 referências em produção, quais são os problemas ou pragas aos quais os vossos produtos dão resposta?

O nosso catálogo abrange fungicidas (para as doenças), herbicidas (para os infestantes), insecticidas (para as pagras) e outros. Porém, a nossa gama mais completa é a aplicada à cultura da vinha, nomeadamente os fungicidas, que se aplicam nas doenças como o mildio e o oídio. Apostamos sobretudo nos insecticidas para a vinha, para combate à cicadela, cigarrilha verde e cochonilhas. Na fruticultura temos uma gama de produtos completa para doenças como o pedrado (da macieira e da pereira), bem como para o bichado da fruta. Além disso, a nossa gama também é vasta para as culturas da batata e do olival, sendo que na região do Alentejo, no olival, a IQV Agro Portugal, S.A detém já uma quota de mercado considerável, em face da crescente aplicação dos nossos cobres.

 

Como está organizada a empresa, de forma a cobrir todo o território nacional?

Em Braga está instalada a sede comercial da empresa, mormente para reuniões financeiras, comerciais e onde se encontra a nossa administrativa/comercial, bem como uma pessoa que apoia o lançamento de novos produtos e a divulgação dos já existentes. Temos ainda quatro delegados-comerciais que cobrem as regiões do Algarve/Alentejo, Lisboa/Vale do Tejo e Oeste, Beira interior e Beira litoral, e Douro/Trás-os-Montes/Minho. A nossa plataforma logística situa-se em Setúbal, a partir da qual se fazem os transportes para os distribuidores. Na sede social, em Santarém, existe ainda um responsável pelo controlo de crédito.

Quais são os principais requisitos, no que respeita às normas europeias, que obrigaram a alterações na vossa produção?

Para serem comercializados no mercado os nossos produtos têm necessariamente que ser previamente homologados pela DGAV – Direção Geral de Alimentação e Veterinária.

A toxicidade, o perigo e o risco são parâmetros importantes que desempenham um papel fundamental na quantificação e avaliação dos efeitos secundários que os produtos fitofarmacêuticos possam ter, e são elementos cuidadosamente avaliados. As normas da UE aplicam-se hoje ao manuseamento/obtenção das matérias-primas, às embalagens, ao fabrico/produção, ao armazenamento e ao transporte dos nosso produtos ao longo da cadeia que une a IQV aos seus clientes. Somos certificados com ISO 9001 (sistema de certificação da gestão de qualidade, para satisfazer as necessidades e expectativas dos clientes, e melhorar o desempenho global da empresa) desde 2008 e com ISO 14001 (sistema de certificação de sistemas de gestão ambiental, para alcançar uma confiança acrescida por parte dos clientes, colaboradores, comunidade envolvente e sociedade, através da demonstração do compromisso voluntário com a melhoria contínua do nosso desempenho ambiental) desde 2004. A nossa empresa respeita todas as normas e procedimentos da UE e nacionais, tanto que a maioria dos nossos cobres estão registados e homologados para a aplicação em produção biológica. Além disso, em 2018, lançámos um produto totalmente biológico denominado T34 Biocontrol, para controlo de fungos no solo e adequado na aplicação de plantas solanáceas e ornamentais.

Qual a importância da tecnologia para conseguir combater as pragas sem prejudicar o meio ambiente?

A European Crop Protection Association (ECPA) que representa a indústria fitofarmacêutica a nível europeu, estimou já que cerca de 20 por cento a 40 por cento do potencial mundial de produção agrícola será perdido devido a infestantes, pragas e doenças. Estas perdas irão aumentar, se for abandonada a utilização de produtos fitofarmacêuticos. Porém, e como é óbvio, isso não implica a sua aplicação cega, para se aumentar a produtividade agrícola enquanto se mantém a biodiversidade e a qualidade ambiental, é necessário desenvolver uma produção sustentável de bens agrícolas suficientes, seguros e de elevada qualidade. E tal só é possível através da ciência e da investigação, que desde sempre ofereceram soluções fitofarmacêuticas, que cada vez surgem mais evoluídas. A investigação e o desenvolvimento dos produtos, que resulta em novas soluções para a proteção das culturas, pode oferecer importantes benefícios para a biodiversidade. Cada nova geração de produtos tenta aperfeiçoar o que já existe, melhorando o desempenho da eficiência e minimizando os efeitos indesejados.

Quais os novos desafios que se colocam à vossa equipa de I&D?

A nossa equipa de I&D está sedeada no laboratório das instalações industriais de Cheste, em Barcelona, que em 2018 foi completamente renovado e equipado com tecnologias inovadoras, e é ali que a empresa assegura o aperfeiçoamento contínuo dos nossos produtos fitofarmacêuticos e uma melhor proteção das culturas, com reduzido potencial de impacto ambiental. As substâncias ativas determinam o comportamento e a eficácia dos produtos fitofarmacêuticos. Essas substâncias são o resultado de anos dedicados à investigação e são baseadas em estruturas moleculares específicas (chamadas ‘compostos líderes’), que têm efeitos biológicos e que prometem vir a ser uma solução eficaz para um problema específico das culturas. No entanto, os elevados custos da investigação e uma baixa taxa de sucesso, limitam o progresso de descoberta de novas e melhores moléculas. Globalmente, só um número muito limitado de empresas tem recursos para realizar a I&D necessária para colocar um novo produto no mercado. Pesquisar novas e melhores moléculas requer tempo, é dispendioso e muitas vezes dececionante, pois só cerca de uma em 140 mil novas moléculas chegam ao mercado como um produto novo de sucesso. Além disso, em média, são gastos cerca de 12 anos na pesquisa e desenvolvimento. Durante este tempo, as condições de mercado, as práticas agrícolas e a distribuição de pragas e doenças podem mudar drasticamente, o que pode provocar uma perda de todo o tempo de pesquisa e dinheiro gasto durante o ciclo de desenvolvimento de qualquer nova substância ativa. Este é o verdadeiro desafio, continuar a apostar na investigação e na ciência para progredir na produção sustentável de novos produtos e na sua aplicação com o menor impacto possível no meio ambiente.

 

Como se foi a empresa adaptando à passagem do tempo e às mudanças do mercado?

A adaptação da IQV Agro Portugal, S.A ao mercado continua a fazer-se, apesar de termos um passado recente em Portugal, nunca recusamos desafios, e os que hoje se colocam são enormes, porém, penso que a nossa equipa técnica e comercial está unida e sempre disposta a fazer mais e melhor. As mudanças no mercado eram inevitáveis, quem não as esperava não andava atento. Logo em 1992 a criação da ANIPLA – Associação Nacional da Indústria para a Proteção das Plantas, que representa as empresas que investigam, desenvolvem, fabricam e comercializam produtos fitofarmacêuticos, que hoje atinge cerca de 95 por cento das empresas que atuam no mercado português, e à qual a IQV Agro Portugal S.A aderiu há anos, deu um claro sinal de que o mercado português, e por isso os seus agentes, não queriam ficar para trás no contexto agrícola europeu e das políticas associadas à mesma. Esta associação nacional, membro da European Crop Protection Association (ECPA), tem vindo nos últimos anos a promover diversas iniciativas que procuram esclarecer empresários,  agricultores e consumidores sobre os desafios colocados à agricultura, evidenciando os desafios inerentes ao setor e apresentando factos relacionados com a ciência e tecnologia para a proteção das culturas, em torno dos temas da sustentabilidade e segurança alimentar agrícola. A IQV está a par destas iniciativas e está sempre disponível para melhorar as suas práticas de produção, distribuição e comercialização de produtos fitofarmacêuticos, como empresa responsável do setor, que visa obviamente ter sucesso comercial, mas sempre com respeito por um desenvolvimento sustentável.

Como vê o futuro deste setor?

Para mim, apesar da existência de muitas vozes negativas, o setor dos fitofarmacêuticos nunca irá deixar de existir, pois é impossivel assegurar ou manter a variedade e a qualidade alimentar hoje existente, e sobretudo a preços acessíveis, a uma população mundial em crescimento sem que se apliquem produtos desta natureza. É óbvio que a indústria fitofarmacêutica evolui continuamente e atualiza os seus produtos com vista a uma utilização mais segura e eficiente, por forma a que, de acordo com a atual legislação da UE, não tenham efeitos colaterais não aceitáveis, para que o uso de fitofarmacêuticos seja seguro para o ambiente e para o utilizador. Mas o crescente interesse público na segurança alimentar e no ambiente não pode servir de bandeira para a defesa de que todos os produtos fitofarmacêuiticos são nocivos ao ambiente ou à saúde humana ou que podemos continuar a assegurar níveis de quantidade e de qualidade de produção sem a sua aplicação, há que chegar a um equilíbrio. Temos de promover uma agricultura sustentável baseada na responsabilidade social, mas também na viabilidade económica e no reconhecimento da importância da biodiversidade para o setor.

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