Há 10 anos a combater a precariedade dos recibos verdes

Na essência da liderança reside a jornada pessoal e profissional de cada indivíduo. Para Sandra Soares, CEO da Brain Power, esta jornada moldou não apenas a sua abordagem à liderança, mas também os valores fundamentais que impulsionam a sua visão para a empresa. Em entrevista, exploramos como a sede de conhecimento e a crença nas causas transformam desafios em oportunidades únicas no cenário empresarial.

 

Sandra Soares, CEO

 

 

Considerando o seu percurso pessoal e profissional, como CEO da Brain Power, de que forma a sua trajetória influenciou a sua liderança na empresa? Quais são os valores pessoais que considera fundamentais para orientar a sua abordagem enquanto líder?

Toda a minha vida, tanto profissional como pessoal, sempre tive a necessidade de ser muito autodidata para conseguir atingir os meus objetivos e, acima de tudo, tenho sempre a necessidade de ter um conhecimento quase exaustivo sobre os temas que tenho de trabalhar. Esta minha postura reflete-se em tudo no modelo Brain Power e no meu estilo de liderança, para mim o que é fundamental num líder é o “saber fazer”, porque considero que ao saber os processos, ao ter o know-how necessário e ao saber o que cada profissional na minha empresa tem que fazer na sua função, permite-me fazer um melhor recrutamento, consigo dar um melhor aconselhamento à minha equipa e guiá-los da melhor forma e também torna as minhas tomadas de decisão mais conscientes, relativamente às necessidades da equipa e da empresa.

Ainda, como líder eu preciso que a minha equipa acredite e siga a minha causa. Ou seja, o facto de o Grupo Brain Power ter surgido através de uma necessidade minha de apoio, quando eu própria era uma prestadora de serviços na área da consultoria comercial, faz com que este projeto seja uma missão para mim e faço questão de que, quem integra a minha equipa, o entenda dessa forma também. Ao acreditar tanto neste modelo de negócio faz com que muito mais facilmente os outros me sigam, porque sentem que é verdade e que é necessário no mercado aquilo que estamos a construir. Além disso, sem esta equipa também não teria construído a referência do mercado no setor, por isso, eu tenho de vestir a camisola com eles e eles comigo. Se há coisa que aprendi nestes anos de experiência é que as lideranças de sucesso apoiam-se mais em causas do que apenas em “bons negócios”.

 

Durante os últimos anos, a Brain Power registou um impressionante crescimento de 95,43%, na sua faturação, mesmo diante de desafios como a pandemia. Qual considera ser o principal impulsionador deste crescimento excecional?

O modelo Brain Power apoia-se em três pilares fundamentais que consideramos os principais impulsionadores do nosso crescimento, são eles: conhecimento, estabilidade e confiança. O conhecimento, porque estudamos ao pormenor cada contexto laboral em que operamos e partilhamos e disponibilizamos essa inovação aos nossos clientes e colaboradores. A estabilidade, uma vez que o nosso modelo de negócio oferece condições previsíveis, adequadas, sólidas e personalizadas, de acordo com as necessidades de negócio de cada colaborador e cliente. A confiança, porque cada um dos nossos projetos tem para nós uma dimensão fundamentalmente humana – as pessoas não são números nem estatísticas, são dignas e merecedoras de direitos e da nossa mais cuidada atenção, oferecendo propostas personalizadas para cada contexto.

É através destes pilares que conquistamos credibilidade no setor e que conseguimos prestar um excelente serviço a quem nos procura. A maior prova disso é que o nosso crescimento se deve em grande parte à recomendação que os nossos clientes e colaboradores fazem do nosso modelo aos seus contactos mais próximos, em que a Brain Power poderá ser a solução.

 

Equipa Brain Power

 

Desde a fundação da Brain Power, há 10 anos, a empresa tem sido um agente ativo na luta contra a precariedade dos trabalhadores independentes. Como vê o progresso realizado neste sentido ao longo desta década, e quais os desafios contínuos que a empresa enfrenta para garantir uma maior estabilidade e segurança para estes profissionais?

Ao fim de 10 anos nesta luta, infelizmente, continuo a achar que o sistema português não está preparado para receber e apoiar empreendedores, uma vez que a carga fiscal é abusiva e não se reflete no apoio que depois recebem por parte do Estado. Para além disso, estes profissionais muitas vezes sentem uma lacuna no que respeita a esclarecimentos e até mesmo em formação para decifrarem a complexidade da lei e saberem como gerir a sua carreira. Ou seja, considero que esta classe continua a estar muito desprotegida em relação aos trabalhadores dependentes.

Ainda, parece que só este ano o Estado português e o ACT (Autoridade para as Condições do Trabalho) acordaram para a gravidade das condições laborais destes profissionais, com as recentes notícias sobre as notificações às empresas que têm os considerados trabalhadores independentes economicamente dependentes de uma única entidade. O que está em causa é as organizações que usufruem do trabalho de profissionais independentes que prestam mais de 80% da sua atividade para uma única empresa, é considerado um “falso recibo verde”, devendo tornar-se num contrato de trabalho. Este tema está previsto na lei desde 2009 na Lei 7 do Código do Trabalho, contudo só está a ser posta em prática em 2024. Ou seja, as fragilidades e desafios que identifiquei em 2013 quando iniciei este projeto prolongam-se até aos dias de hoje e, em alguns casos, acentuaram-se. Se já há 10 anos eu sentia que as leis laborais não acompanhavam o ritmo de mudança e de dinamismo do mercado de trabalho, atualmente esta é uma fragilidade muito acentuada em qualquer país europeu e, em especial, em Portugal. Para além disso, o sistema fiscal e a complexidade da lei em Portugal continuam a ser um travão para os empregadores conseguirem aumentar os salários e melhorar as condições laborais dos seus trabalhadores, devido à carga de impostos diretos e indiretos que somos obrigados a cumprir. Deste modo, o sistema português não permite que as entidades empregadoras se possam focar na produtividade, eficiência e eficácia de um trabalhador para o poder premiar ou penalizar perante o seu desempenho, não contribuindo para a meritocracia. Estes continuarão a ser alguns dos nossos principais desafios de 2024.

 

 

“O sistema fiscal e a complexidade da lei em Portugal continuam a ser um travão para os empregadores conseguirem aumentar os salários e melhorar as condições laborais dos seus trabalhadores”

 

 

Dentro do mesmo tema, a Brain Power tem estado ativamente envolvida na luta contra a precariedade dos recibos verdes. Quais são os principais serviços que a Brain Power oferece aos trabalhadores independentes e como estes serviços se diferenciam das abordagens tradicionais?

Os profissionais prestadores de serviços que procuram uma maior estabilidade contratual e que queiram usufruir dos mesmos direitos e garantias que um trabalhador por conta de outrem, sem abdicarem da flexibilidade e liberdade da sua profissão, encontram aqui a solução! O Grupo Brain Power consegue dar mais direitos, garantias e estabilidade profissional aos trabalhadores independentes tornando-os em trabalhadores por conta de outrem. Este processo é feito estabelecendo relações contratuais com estes prestadores de serviços, tornando-os nossos colaboradores e alocando-os, em regime de outsourcing, a projetos de empresas nossas parceiras. Assim, estes profissionais poderão usufruir de mais direitos e garantias, como a baixa médica, subsídio de férias, subsídio de desemprego, carreira contributiva estável, mais facilidade na obtenção de créditos, entre outros direitos e garantias legais que os trabalhadores independentes não têm acesso ou este é-lhes mais dificultado. Desta forma, conquistam mais estabilidade profissional e não abdicam da liberdade que os trabalhadores independentes têm nas suas profissões. Para além disso, apostamos fortemente na formação profissional (formação inicial, contínua e de especialização), com foco na progressão de carreira e para conseguirmos o match perfeito entre a empresa cliente e o nosso consultor. Por exemplo, caso um projeto onde um dos nossos consultores está a trabalhar termine, a Brain Power tem a capacidade de realocar esse mesmo consultor para outro projeto de outro cliente nosso, de modo que não fique sem ocupação profissional. Estas relações contratuais, por norma, iniciam-se com um contrato de formação, seguindo-se um contrato de estágio e culminando no contrato de trabalho. No entanto, nem todos os profissionais fazem este mesmo percurso, tudo depende da sua experiência e aproveitamento em cada uma das fases e da situação laboral de cada um, tendo em conta a flexibilização do novo mercado laboral. Com o modelo Brain Power, único e inovador, oferecemos a segurança, a solidez, a previsibilidade e um maior equilíbrio profissional que os trabalhadores procuram.

 

Para as empresas, a Brain Power oferece serviços que vão além do recrutamento tradicional. Que serviços personalizados são estes e de que forma têm impactado os negócios dos seus clientes?

As empresas que necessitam de colaboradores, mas não têm capacidade ou não pretendem estabelecer esse tipo de vínculos contratuais, devido à carga fiscal e à complexidade legal que tal acarreta, o Grupo Brain Power é a resposta certa, tornando-se o departamento de recursos humanos externo destas empresas. Ou seja, não só recrutamos, como temos a responsabilidade de estabelecer o vínculo contratual com os profissionais, trabalhando sempre para o match perfeito.

O nosso modus operandi neste setor exige que conheçamos ao detalhe cada um dos nossos parceiros, clientes e colaboradores, de forma a construirmos uma relação de confiança e de proximidade, condição essencial para conseguirmos responder às ambições de longo prazo dos profissionais e das empresas e para a marca que queremos deixar no mercado. Assim, mais do que um número, as empresas e profissionais que nos procuram são pessoas e saber ao pormenor quem são, o que procuram e o que ambicionam é fundamental para que o Grupo Brain Power personalize ao máximo cada proposta. Daí que tenhamos um acompanhamento permanente e quase diário junto dos nossos profissionais e clientes, para estarmos a par das suas necessidades e das suas ambições e sermos capazes de fazer as melhores combinações entre profissionais e empresas. Assim, o modelo Brain Power recruta, dá formação inicial, contínua e de especialização de forma a garantir que os nossos colaboradores prestam um serviço adequado e de acordo com os objetivos dos nossos clientes, de forma que estes últimos possam crescer, quer em qualidade quer em volume de faturação.

 

A Brain Power oferece formação profissional inicial, contínua e de especialização aos colaboradores. Qual a importância da mesma para a cultura e desempenho da empresa? Como identificam as necessidades de formação individual de cada colaborador e garantem que estas formações contribuem para o desenvolvimento pessoal e profissional dos mesmos?

A formação é importante para qualquer carreira profissional, ainda mais em prestadores de serviço que necessitam de se destacar no mercado para conseguirem uma maior carteira de clientes. Assim, o nosso foco está essencialmente nas soft skills, uma vez que consideramos que são a ferramenta essencial para estarmos o mais capacitados possível para a adaptação à mudança, indispensável para profissionais que trabalham em diversos projetos. Com um mercado de trabalho cada vez mais tecnológico e automatizado, são as soft skills a verdadeira ferramenta de diferenciação e que podem dar a proposta de valor de um profissional.

O facto de conhecermos cada um dos nossos colaboradores e clientes, quer a nível profissional, quer a nível de uma proximidade mais pessoal (alguns até de amizade), permite-nos estabelecer objetivos “à medida” de cada um e promover as formações e estabelecimento de guide lines para se atingirem esses mesmos objetivos.

É precisamente por causa desta relação de acompanhamento diário e de proximidade que conseguimos garantir que todo o plano formativo é adequado ao perfil de cada um dos nossos colaboradores, tendo em conta as suas ambições profissionais, para que estes consigam inovar, ter um espírito crítico e obtenham soluções para desafios que, à primeira vista, parecem inultrapassáveis, mas que com uma mente esclarecida, aberta e formada, são perfeitamente superáveis. Neste sentido, todo o plano de formação é detalhado e estrategicamente montado, tendo em conta as necessidades conjuntas da equipa, as necessidades profissionais individuais de cada colaborador e, ainda, as mudanças que ocorrem permanentemente no mercado e das quais necessitamos de estar informados e capacitados para respondermos da melhor forma. Fazemos, ainda, uma avaliação de desempenho, de modo a conseguirmos perceber os pontos que até então não conseguimos melhorar e que precisam de ser trabalhados e, nesse sentido, que adaptações necessitamos de fazer nos planos formativos para atingirmos esses objetivos.

 

 

A equipa da Brain Power é diversificada. Esta diversidade e pluralidade contribuem para a inovação e o sucesso da empresa? Quais são os valores fundamentais que motivam e guiam as operações da equipa no dia a dia da empresa?

Sem dúvida que a diversidade da nossa equipa se constitui como uma vantagem competitiva para o Grupo Brain Power e é fundamental para a nossa inovação. Seja de género, cultura ou ideologia, a diversidade traz mais visões distintas sobre o mesmo assunto, o que beneficia o nosso projeto, pois permite-nos chegar a soluções mais diferenciadas, somos capazes de identificar mais arestas a limar do que se a equipa fosse toda muito homogénea. O que interessa é o propósito ser o mesmo entre todos os membros da equipa.

O que nos motiva enquanto equipa no dia a dia é o nosso propósito de dar estabilidade e mais direitos laborais a quem não os tem, disponibilizando soluções inovadoras e personalizadas. Este nosso sentido de justiça social aliado a valores como a versatilidade, adaptabilidade e o nosso espírito de equipa são o que fazem do Grupo Brain Power a referência do setor e impulsionam o nosso crescimento.

 

“Com um mercado de trabalho cada vez mais tecnológico e automatizado, são as soft skills a verdadeira ferramenta de diferenciação e que podem dar a proposta de valor de um profissional”

 

 

A Brain Power expandiu a sua operação criando uma rede de 10 empresas franquiadas. Quais são as oportunidades de gerir uma rede tão ampla de empresas sob a mesma missão?

O facto de sermos um grupo empresarial constituído por 10 empresas permite-nos expandir o nosso modelo de negócio, tanto a nível geográfico, como em áreas de negócio em que os consultores da nossa rede atuam. Ou seja, ao conseguirmos ter diversas empresas, conseguimos também direcionar cada uma delas para as diferentes zonas do país onde atuamos, adaptando o modo de atuação às especificidades do mercado de cada zona, o mesmo acontece relativamente às diferentes áreas de negócio de onde recebemos profissionais. É desta forma que conseguimos manter um serviço de excelência e adaptado a cada realidade.

 

Num contexto mais amplo, como a Sandra vê o papel das líderes femininas na promoção do feminismo e na inspiração de outras mulheres através da sua visão, foco e determinação? Considerando esta perspetiva, de que maneira a Brain Power aborda e promove ativamente a igualdade de género na sua cultura organizacional?

Mais do que o feminismo, com o meu trabalho e o meu percurso, o que eu pretendo promover é uma igualdade de direitos e de oportunidades, seja de género, etnia, cultura, orientação sexual, etc. O que me importa verdadeiramente é olhar para as pessoas como efetivamente pessoas, com valor profissional e com capacidades que podem ou não enquadrar-se em determinada função em determinada empresa. As questões raciais, de género e culturais não são fatores relevantes quando estou a recrutar alguém para a Brain Power, isso jamais poderá definir a qualidade profissional de um colaborador das minhas empresas.

Prova disto é o facto de as nossas empresas terem sido reconhecidas com o “Selo da Igualdade Salarial” 2023 por parte da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE), pelas boas práticas que exercemos na promoção da igualdade remuneratória entre mulheres e homens por trabalho igual ou de igual valor. Para além disso, 58% dos nossos colaboradores são mulheres e 42% são homens e ainda temos profissionais de mais de 20 nacionalidades diferentes, incluindo a portuguesa, deixo alguns exemplos como Espanha, França, Alemanha, Cabo Verde, Angola, Moçambique, Polónia, Ucrânia, Canadá e muitos outros.

 

Considerando a rápida evolução do mercado de trabalho e as mudanças nas necessidades das empresas, como a Brain Power pretende se manter adaptável e continua a fornecer soluções relevantes e inovadoras aos seus clientes e colaboradores? Quais são os planos de crescimento e expansão da empresa para os próximos anos?

A atualização constante, mesmo diária, daquilo que são as necessidades do mercado, as atualizações legislativas, fiscais, na regulamentação do ACT, nas integrações contabilísticas do SNC, constitui-se como a condição fundamental para inovarmos e conseguirmos manter a nossa versatilidade e capacidade de adaptação quase imediata às necessidades dos nossos colaboradores e clientes. Ainda, a consultoria que nós praticamos na Brain Power tem de ter um espírito de cuidado e de aconselhamento para com os clientes e não ser uma mera prestação de serviços. É esta diferenciação que fideliza os nossos clientes, parceiros e colaboradores e que temos o dever e o compromisso de honrar.

Para além disso, o mundo é cada vez mais digital, cientes dessa realidade, o Grupo Brain Power tem como foco a digitalização do nosso negócio, por isso temos vindo a fazer um forte investimento no nosso desenvolvimento tecnológico. Este investimento prolongar-se-á no tempo para nos mantermos na linha da frente no que toca a acelerar e a aumentar a nossa capacidade de resposta. Tal concretiza-se através da atualização e adaptação constante e diária dos nossos sistemas internos, como o PHC e a aplicação interna que criámos de raiz.

Toda esta adaptação e personalização a nível digital, aliada ao nosso estudo exaustivo do mercado faz com que fortaleçamos a nossa perspetiva e continuemos o nosso trabalho no reforço da importância da formação na carreira dos profissionais. Para desenvolverem capacidades que não são possíveis de serem substituídas pela tecnologia e que são indispensáveis no futuro do mercado de trabalho, além de serem fundamentais para que as empresas continuem a garantir a sua longevidade e sustentabilidade.

Para além de mantermos todas estas práticas, também pretendemos continuar a potenciar a economia nacional, alargar o modelo Brain Power a mais áreas de negócio, em destaque para profissionais do entretenimento e da cultura e fortalecer o nosso modelo a nível internacional. Por último, queremos destacar-nos mais na área da consultoria e dos recursos humanos, ao ter uma voz mais ativa no setor, alertando para questões fraturantes para as quais as empresas e os trabalhadores precisam de ser alertadas e informadas, para uma melhor tomada de decisão e serem capazes de responder aos desafios do futuro.

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