Um diálogo sobre saúde mental e empoderamento feminino

Na procura incessante pelo bem-estar e qualidade de vida, Maria Inês Almeida destaca-se como uma líder dedicada ao cuidado dos seus pacientes. A sua abordagem terapêutica singular não apenas transforma vidas, mas também atua como fonte de inspiração para o empoderamento feminino numa sociedade em constante evolução.

 

Maria Inês Almeida, Psicóloga

A Maria Inês tem um evidente compromisso com o bem-estar dos pacientes. Qual é a abordagem terapêutica predominante que utiliza na sua prática clínica? Como a construção de uma relação sólida com os pacientes os ajuda a atingir os objetivos do processo terapêutico?

A minha abordagem é indissociável do meu percurso académico e profissional. Formei-me no ISPA – sou Mestre em Psicologia Clínica e Pós-Graduada em Psicocriminologia. Tive um início de vida profissional diversificado na área de saúde mental, tendo-me estabelecido até hoje em contexto clínico. Acredito que no processo terapêutico seja essencial pensar e sentir as emoções em voz alta, associar ideias, permitir que os pensamentos se elenquem, mergulhar nas memórias, nas experiências e nas relações. É fundamentalmente uma conversa livre onde as questões que surgem serão alvo de interpretação e procura pelas mudanças pretendidas. O processo terapêutico é uma viagem que não pretende ser imediata, mas sim um amparo e uma compreensão do paciente na sua realidade e na constante mudança.

Visto que o seu trabalho envolve ajudar os outros a lidar com questões pessoais e emocionais, o que a inspirou a tornar-se Psicóloga Clínica? Há algum momento da sua vida que influenciou significativamente a sua escolha de carreira?

Sempre fui muito curiosa no que concerne a psique, com muitas questões e vontade de entender o funcionamento da mente humana. O lugar que ocupei desde muito cedo, foi de facto esse – questionar, levantar pensamentos e procurar interpretar o mundo à minha volta. Os momentos que me influenciaram foram sempre ao encontro de uma confirmação e validação da minha vontade em escutar os outros e a pensar com eles.

Reconhecendo a relevância da psicologia para a qualidade de vida individual, como avalia o impacto da manutenção da saúde mental não apenas no bem-estar dos indivíduos, mas também na contribuição para um funcionamento saudável da sociedade em geral?

O contexto socioeconómico dos últimos anos tem vindo a revelar-se instável e incerto, contribuindo para o aumento dos conflitos internos – que podem ir desde as diferentes formas de ansiedade, dificuldades relacionais e gestão emocional – o que tem um impacto direto na qualidade de vidas das pessoas. Este fenómeno não escolhe idade, género, classe social, profissão ou cargo. Se por um lado a saúde mental é influenciada pelo mundo ao nosso redor, por outro, quando trabalhada, tem uma enorme capacidade de impactar positivamente a qualidade de vida dos indivíduos e, por consequência, a sociedade em geral. No nosso consultório, consideramos que ter acesso à mesma é imperativo, pelo que tentamos dar resposta ao maior número de pessoas, procurando desconstruir a ideia de que a saúde mental é inacessível.

A Maria Inês é um exemplo de liderança feminina na área da Saúde Mental. Como vê o papel do empoderamento feminino nesta área? Que insights gostaria de partilhar com mulheres que procuram assumir cargos de destaque neste setor?

O empoderamento feminino está associado a um lugar de conquista. A consciência de si própria, a identificação de fragilidades e capacidade de ação sobre as mesmas, a gestão emocional, a capacidade de comunicação, escuta, relação e empatia parecem-me estar na base deste conceito associado à autonomia e libertação. Mulheres que procuram lugares de liderança devem estar conscientes da importância do autoconhecimento, num contexto de elevados níveis de ansiedade e responsabilidade. Cada vez mais mulheres têm vindo a demonstrar interesse na articulação do processo de autoconhecimento com o seu projeto profissional e isso tem sido notório na procura de pedidos que nos chegam. De facto, identifico-me com esta ideia, pois também eu procurei e procuro esta articulação. Gosto de pensar que foi através desta gestão que abracei as minhas conquistas, abrindo um consultório em nome próprio, onde procuro ajudar os outros em contexto de consulta. O nosso trabalho tem sido reconhecido e, por isso, temos crescido em número de pacientes e terapeutas.

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