Cristina Alcobia: um exemplo de trabalho e de empreendedorismo
Cristina Alcobia concilia a vice-presidência da AIDEC – Associação Internacional para o Desenvolvimento e Competitividade Empresarial com a gestão das suas duas empresas: a LS&S e a recém-criada Loanstar Crowdlending, S.A.
A nossa entrevistada estudou Engenharia e Gestão Industrial no Instituto Superior Técnico, fez uma certificação internacional em Coaching e, mais recentemente, fez um mestrado em Sales and Negociation Management. Aos 15 anos fazia bijuteria com missangas que vendia em lojas (foi o seu primeiro negócio), e aos 19 ingressou o mercado de trabalho a dar aulas de matemática e físico-química (cargo que abandonou por considerar esta profissão mal paga). Posteriormente, integrou o setor dos seguros (na área comercial), onde exerceu atividade durante 10 anos e, após esse período, recebeu um convite para se aventurar na Banca. Adepta de novos desafios aceitou essa demanda, exercendo aí funções durante os 15 anos que se seguiram. Pelo caminho casou e foi mãe. Uma carreira sinuosa, mas exemplar e completa. Um exemplo de resiliência e empenho que afirma “herdar-se e desenvolver-se”.
CAIXA 1
“Tenho uma tradição familiar de pessoas empreendedoras pois os meus avós, a minha mãe e os meus tios sempre foram empresários. As mulheres da minha família sempre trabalharam. A minha bisavó, que viveu entre 1901 e 1994, trabalhou praticamente até morrer. Era guarda-livros”, contou.
CAIXA 2
Cristina Alcobia ganhava 60 contos por mês quando era professora. Passou a ganhar 300 contos quando ingressou no setor dos seguros e, em 2001 ganhava, em média, 500 contos por mês (quando o salário médio de um licenciado rondava os 200 contos).
Apesar de ter trabalhado durante os últimos 25 anos na área financeira, Cristina Alcobia sempre se manteve ligada à indústria e aos negócios. Ao longo do seu percurso, desenvolveu competências comerciais, recrutou, formou e geriu equipas, passou pelas “melhores e piores experiências profissionais” e, nesse seguimento, apercebeu-se de uma área em que poderia intervir. Surgiu assim, a AIDEC, uma associação da qual é sócia-fundadora.
Associação Internacional para o Desenvolvimento e Competitividade Empresarial
A AIDEC é uma associação empresarial de direito privado cujo objetivo é representar e defender os interesses de todos os empresários. Através da sua intervenção, procura contribuir para o sucesso e sustentabilidade das empresas num mercado cada vez mais global, competitivo e complexo. Atualmente conta com cerca de 80 associados. “Esta Associação surgiu quando eu ainda estava no banco. Eu sempre estive muito ligada à área industrial uma vez que, aos fins-de-semana, fazia projetos para uma outra associação. Tinha um grupo de colegas que se juntavam a mim para desenvolvermos uns trabalhos e, às páginas tantas, sentimos a necessidade de criar uma instituição que agregasse tudo isso. Sou sócia-fundadora da Associação e a partir daí estes projetos passaram a ser feitos através dela. A vantagem que tinha era podermos agregar competências. Desenvolvíamos os projetos e fazíamos depois as candidaturas a financiamentos de Fundos Comunitários para as empresas que queriam desenvolver e internacionalizar o seu negócio”, explicou-nos a gestora que admitiu ter aprendido bastante com esta nova experiência profissional: “Eu não tinha muita experiência no contacto com as empresas, eu tinha mais experiência com clientes particulares e gestão de equipas e, portanto, isto permitiu-me conhecer, com alguma profundidade, muitos negócios, de todos os ramos de atividade”, frisou.
Um ano depois de ter deixado o Banco onde trabalhava, Cristina Alcobia criou a sua empresa: a LS&S – Linked Sales and Solutions. Esta é uma empresa de consultoria para os negócios, que se debruça essencialmente sobre a otimização de processos comerciais e a definição da estratégia comercial. “Recebemos solicitações para o desenvolvimento de projetos comerciais diariamente, mais do que um por dia, e temos o privilégio de poder escolher os projetos que queremos fazer e quais as áreas de negócio em que queremos entrar. Neste momento, temos dois projetos importantes em mãos: um para o Governo de Angola e outro para a fábrica de chá, da marca Tley”, revelou a nossa entrevistada.
Loanstar Crowdlending S.A.
Este é o nome que diz respeito ao mais recente projeto de Cristina Alcobia. A empresária que pretende “abrir uma empresa por ano” encontra-se prestes a lançar um novo produto no mercado: desta vez uma FinTech que proporciona alternativas de investimento vocacionada para pequenos e médios projetos. Consiste numa plataforma de financiamento colaborativo. “É um modelo de financiamento P2P (peer-to-peer). No fundo, é uma plataforma informática que permite investir em “ativos” através de empréstimos. Ligará pessoas singulares ou coletivas que precisam de dinheiro a pessoas singulares ou coletivas que querem investir o seu capital. Essencialmente, do ponto de vista do investidor permite que se invista em negócios ou projetos em que se acredita.”, esclareceu. Em Portugal existem apenas duas empresas do género, uma que financia o setor imobiliário e outra que financia projetos de empresas. Neste contexto, a Loanstar – que estará disponível a partir de setembro – diferenciar-se-á das restantes por ser uma plataforma com múltiplas opções de investimento, desde o investimento em Start-Ups a projetos de solidariedade social, imobiliário e projetos de investimento empresariais. Desta forma, quem quer emprestar dinheiro pode receber um retorno superior quando comparado com produtos de investimento ou poupança dos bancos, enquanto quem pede dinheiro emprestado pode financiar-se com maior rapidez, menos burocracia e dando eventualmente menos garantias.
CAIXA 3
Crowdlending é a prática de emprestar dinheiro a pessoas ou empresas através da internet, usando sites que conectam quem quer emprestar dinheiro a quem precisa de um empréstimo. Como é tudo tratado através da internet, é possível baixar os custos em comparação com os bancos e instituições financeiras que prestam serviços de crédito.
CAIXA 4
Financiamento colaborativo por empréstimo é o tipo de financiamento de entidades, ou das suas atividades e projetos, através do seu registo em plataformas eletrónicas acessíveis na internet, a partir das quais procedem à angariação de parcelas de investimento provenientes de um ou vários investidores. As entidades financiadas pagam um juro pelo empréstimo. O financiamento colaborativo de capital implica que a entidade financiada remunera o financiamento obtido através de uma participação no respetivo capital social, distribuição de dividendos ou partilha de lucros.
Uma equipa à sua imagem
Cristina Alcobia, em entrevista à nossa revista, garantiu valorizar o trabalho de todas as pessoas e dos seus funcionários em particular. Toda a sua equipa foi ‘escolhida a dedo’ e são pessoas da sua inteira confiança: “Algumas vieram comigo do Banco, outras já colaboravam com a AIDEC. Eu só trabalho com pessoas da minha confiança. Podem até nem ter competências para determinadas funções, mas as competências desenvolvem-se, a confiança não”, reiterou.
No que à profissão diz respeito, a nossa interlocutora sente-se realizada: “Faço o que gosto e se eu amanhã não gostar disto, vou fazer outra coisa. Sou incapaz de fazer o que não gosto”. Apesar desta realidade, a vida pessoal e familiar não sai descurada: “Faço questão de estar com o meu filho e com o meu marido todos os dias, ao jantar, e passo com eles todos os fins-de-semana e férias”, acrescentou.
Daqui a 10 anos pretende “estar onde eu quero”. “Há coisas que não controlamos, mas tenciono estar a trabalhar daqui a uma década, eventualmente com mais 10 empresas. E não interessa qual a dimensão que elas vão ter, mas sim o propósito de cada uma delas. Elas terão a dimensão que tiverem de ter para aquilo que fazem”, finalizou a personalidade em destaque nesta nossa edição.