Artigo de Opinião: Doenças Digestivas: Prevenção, Diagnóstico e Tratamento

O problema do cancro gástrico
O cancro gástrico é a quinta neoplasia mais frequente, sendo Portugal um país de incidência moderada a elevada. As neoplasias gástricas iniciais geralmente não causam sintomas, sendo a maioria dos casos diagnosticados em estádios avançados, associados a prognóstico desfavorável. O impacto do cancro gástrico pode ser diminuído através de estratégias de prevenção primária (com vista à diminuição da incidência) e de prevenção secundária (diagnóstico precoce).

Como diminuir o impacto do cancro gástrico
A eliminação de fatores de risco modificáveis como a evicção tabágica, a redução do consumo de sal e a erradicação da Helicobacter pylori são estratégias que podem diminuir a incidência de cancro gástrico. Por outro lado, a identificação de indivíduos de risco acrescido (familiares de indivíduos com cancro gástrico e portadores de condições pré-neoplásicas como a atrofia e a metaplasia intestinal extensas) é importante de forma a vigiar periodicamente estes indivíduos de maior risco, tal como recomendado pelas guidelines da Sociedade Europeia de Endoscopia Digestiva (ESGE).
A vigilância endoscópica está recomendada em indivíduos com condições pré-malignas extensas, isto é, com atrofia ou metaplasia intestinal envolvendo ambos os compartimentos do estômago (antro e corpo), sendo recomendada nestes casos a realização de endoscopiacada três anos (podendo este intervalo ser encurtado se existirem fatores de risco adicionais como história familiar). A vigilância endoscópica nestes casos mostrou ser custo-efetiva em Portugal, permitindo a identificação de lesões em estádios mais precoces, a maioria passíveis de terapêuticas minimamente invasivas como a disseção endoscópica da submucosa gástrica.
Contudo, é difícil a identificação destes indivíduos em maior risco através de métodos de diagnóstico não-invasivos, pelo que a sua identificação se baseia na realização de endoscopia digestiva alta com biopsias.

Será útil a realização de endoscopia digestiva alta em conjunto com a colonoscopia?
Dado que a endoscopia digestiva alta com biopsias é o gold standard para a identificação de condições pré-malignas e lesões neoplásicas iniciais, a realização de uma endoscopia digestiva alta (que observa o esófago, estômago e duodeno) é uma oportunidade para a deteção de indivíduos em maior risco. De facto, alguns estudos sugerem que, nos indivíduos submetidos a colonoscopia para rastreio de cancro colo-retal, a adição da endoscopia digestiva alta é uma estratégia custo-efetiva em países de moderada-elevada incidência de cancro gástrico como Portugal, pelo que no nosso contexto se deve considerar a realização de endoscopia e colonoscopia simultânea. A endoscopia permite então identificar H. pylori (e tratar a infeção se positiva) bem como identificar indivíduos cujo estômago deve ser periodicamente vigiado.

 

Cromoendoscopia virtual
A tecnologia NBI (Narrow-band Imaging) permite realçar, através de um filtro de luz, o padrão mucoso e vascular dos tecidos, realça os detalhes estruturais e micro-vasculares e melhora a taxa de deteção de lesões pré-malignas ou de cancro, e está ao alcance de um toque no botão do endoscópio.
A tecnologia NBI é uma técnica inovadora e uma ferramenta de grande importância,mesmo em exames endoscópicos de rotina e poderá aumentar a deteção precoce de cancro gástrico, e consequente diminuição da sua mortalidade.

 

A importância da endoscopia de alta definição e da cromoendosocpia virtual
A evolução tecnológica recente tem permitido melhorar a capacidade diagnóstica da endoscopia digestiva alta. De facto, a endoscopia de alta definição, ainda não disponível em todos os centros de endoscopia, aumenta a deteção de indivíduos em risco que beneficiam de vigilância. A cromoendoscopia virtual, nomeadamente Narrow-Band Imaging (NBI) e Blue Light Imaging (BLI), traz ainda benefícios adicionais na identificação de indivíduos com metaplasia intestinal gástrica, pelo que deve ser utilizada sempre que disponível de modo a aumentar a acuidade diagnóstica.

Doutor Diogo Libânio
Assistente hospitalar de gastroenterologia IPO Porto Gastrenterologista na HQ Saúde

 

 

 

Dra. Regina Gonçalves
Coordenação clínica HQ Saúde

Assistente Hospitalar Graduada de Gastrenterologia
Especialista em Hepatologia pela Ordem dos Médicos desde 2004. Certificação Europeia como Especialista em Gastrenterologia pelo “The European Board of
Gastroenterology and Hepatology”. Membro do Conselho Nacional Internato Médico (CNIM) de 2002-2006. Membro da Direção do Colégio da Especialidade de Hepatologia da Ordem dos Médicos (2008-2010 e 2010-2012). Membro da Direção da Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado: APEF ( 2009-2011 e 2011-2013). Membro da Direção do Centro Nacional de Registo de Dados em Gastrenterologia :CEREGA (2011-2013). Coordenação Clínica do projeto HQ saúde desde 2018. Áreas de interesse actuais: endoscopia digestiva diagnóstica e terapêutica, hepatologia, obesidade, coloproctologia.

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