Adega Cooperativa de Lamego: “O futuro é cooperativo”

Quem o diz é José Manuel dos Santos, presidente da Adega Cooperativa de Lamego, que em entrevista à Revista Business Portugal explicou todo o processo de reestruturação do qual a entidade que representa tem sido alvo.

Depois de ter assumido a presidência da Adega Cooperativa de Lamego entre os anos de 1989 e 1995, José Manuel dos Santos voltou, agora, a presidir a entidade que representa os vitivinicultores da região. “Assumimo-la praticamente falida, por isso, fomos obrigados a fazer uma reprogramação do endividamento e a recorrer a parcerias com entidades privadas, por forma a conseguir fazer frente ao iminente processo de insolvência”, começou por explicar.
Atualmente, esta Adega conta com cerca de 1.100 associados e uma gestão diferente das demais Adegas do nosso país. “Funcionamos em termos cooperativos até à vindima. Na vindima, a Best of Douro e caves D.Caio – nossos parceiros comerciais – assumem a compra e a comercialização do produto dos nossos associados, pagando a preços de mercado”. O facto é que depois de implementada esta estratégia de gestão, a Adega Cooperativa de Lamego voltou a atingir a estabilidade conseguindo, nos dias de hoje, cumprir com todos os seus compromissos de dívida e pagar aos seus associados.

Importância assumida na região
Sendo a região demarcada do Douro uma zona onde predomina a existência de minifúndio, é natural que os vitivinicultores não apresentem capacidade (individual) comercial nem financeira para estar no mercado. Nesse seguimento, “a Adega Cooperativa assume esse papel, agregando todos os pequenos e médios produtores e colocando o seu produto no mercado”, desmistificou José Manuel dos Santos. Para além disso o denominado Balcão Verde – gabinete de apoio ao agricultor, disponibilizado na sede da Adega Cooperativa de Lamego –, conta com dois técnicos especializados para acompanhar os associados e outros produtores da região na elaboração dos mais diferentes projetos, tendo sido responsável pela reestruturação de largos hectares de vinhas novas.
Vinho fino é p’ros antigos, tratado p’ros lavradores, generoso p’ros amigos, do Porto é pros doutores.

Vinho do Porto vs Turismo do Douro
“O pior que pode acontecer ao Douro é a Região não ser mãe, mas ser madrasta”, referenciou o representante máximo da Adega Cooperativa de Lamego, referindo-se ao injusto conjunto de regras que regem o comércio do vinho do Porto e Douro que “em nada beneficia os pequenos produtores. Se uma pipa de vinho do Porto e Douro custa 600 euros a produzir, dados de um estudo elaborado pela UTAD, como é que se pode pagar pouco mais de 200 euros ao lavrador por essa pipa? Não faz sentido nenhum”, lamentou, ao mesmo tempo que deixou no ar uma possível solução para esta situação: “é preciso que a produção e o comércio se reúnam e sejam capazes de discutir uma política justa de preços”, concluiu.
Por outro lado, o crescente turismo verificado na região do Douro poderá assumir-se como uma solução para diversas famílias e potenciar, assim, a economia da região “com o aparecimento de inúmeras soluções de alojamento, animação, espaços de venda de produtos endógenos, restauração, entre outras”.

“Vinho de Lamego, queijos do Alentejo”
É a expressão que melhor define a qualidade superior que distingue os vinhos desta região de Lamego parte integrante da grande Região Duriense. “Sobretudo os brancos que são muito apreciados e são uma excelente base para vinhos espumante, existindo hoje, para além da Raposeira, outros operadores a apresentarem outras marcas também elas de excelente qualidade nomeadamente o nosso Lamecus e Ardinia. Por outro lado interessa também dizer que foi em Lamego que o denominado vinho do Porto teve a sua origem, na época conhecido por vinho cheirante de Lamego, mais tarde vinho de embarque, por ser transportado nos barcos Rabelos através do rio Douro, só depois, por ser exportado a partir de Gaia ganhou o nome de vinho do Porto”.
Com uma produção que ronda cerca de duas mil pipas de vinho generoso e duas mil pipas de vinho DOC e de mesa, a Adega Cooperativa de Lamego orgulha-se de ser a responsável pela produção de referências como Lamecus, Dom Caio e Ardínia.
Defensor do movimento cooperativo, José Manuel dos Santos deixou um conselho para todos os nossos leitores: “na dúvida, bebam vinho das Adegas Cooperativas, porque para além de estarem a apoiar os pequenos e médios produtores, terão a certeza de estar a beber um vinho, de qualidade”, finalizou.

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