A Liderança aos olhos de Joana Alves

Uma entrevista exclusiva. Um discurso na primeira pessoa.

Joana Alves, atual Diretora de Recursos Humanos na GS1 Portugal, foi nossa entrevistada para esta edição da Revista Business. Além do seu inspirador percurso profissional, foi abordada a sua visão sobre Liderança e perspetivado o seu futuro dentro e fora do mundo corporativo.

Joana Alves, Diretora de Recursos Humanos

Depois de vários cargos executados em empresas, como o El Corte Inglés Portugal e o Grupo Manuel Champalimaud, a Joana decidiu assumir o cargo de Diretora de Recursos Humanos na GS1 Portugal. Quais foram os motivos que a levaram a aceitar este novo desafio?

Contextualizando esta questão, considero importante mencionar que trabalhei durante quase 17 anos no El Corte Inglés, uma grande empresa de retalho que creio ser conhecida por todos e que moldou o meu perfil profissional. Sou licenciada em Direito e cheguei a trabalhar como advogada durante dois anos, mas rapidamente percebi que o meu caminho não iria passar pela advocacia. Quando entrei no El Corte Inglés, já ingressei como Técnica de Recursos Humanos, passei por várias etapas e, com foco, dedicação e compromisso, alcancei a posição de Chefe de Pessoal da Loja de Lisboa.

A decisão de sair foi muito difícil e ponderada. Estava num impasse considerável, sair da “minha casa” que me permitiu crescer, evoluir e desenvolver, mas, por outro lado, sentia que queria mais, no sentido de conhecer outras realidades, outros métodos de trabalho, outras pessoas e evoluir tanto em conhecimento como enquanto pessoa. Todos sabemos que muitas vezes é mais desafiante sair da zona de conforto. Surgiu então uma oportunidade, e decidi aceitá-la, ingressando no Grupo Manuel Champalimaud como responsável pelo Desenvolvimento e Comunicação.

Não vou dizer que foi fácil. Foi extremamente difícil e desafiante sair de um ambiente onde dominava praticamente tudo para integrar um grupo como o Grupo Manuel Champalimaud, que engloba várias empresas, essencialmente ligadas à Indústria. Por outro lado, entrei precisamente numa fase de expansão, mudança e reorganização. É um grande grupo com uma excelente reputação, pessoas extraordinárias e um incrível potencial. Acabei por permanecer apenas quatro meses, uma vez que, por ironia do destino e de forma totalmente contrária à minha natureza, uma vez que sou uma pessoa que preza a estabilidade, recebi um convite de alguém conhecido para abraçar um projeto na GS1 Portugal Codipor. Inicialmente, estava muito hesitante em aceitar, pois sentia que estava a abandonar um projeto a meio, após 17 anos no mesmo local. No entanto, decidi, pelo menos, conhecer a GS1 e o projeto. Assim que conheci o Eng. João de Castro Guimarães, Diretor Executivo da GS1, que me apresentou o projeto, percebi que estava a entrar num ambiente verdadeiramente inspirador e, por isso, decidi aceitar. Senti que a organização se alinhava perfeitamente com o meu perfil, e, claro, foi impossível recusar a oportunidade de trabalhar num local que é uma verdadeira obra de arte concebida por Vihls. Se ainda não conhecem, convido-vos a descobrir.

Mais de 15 anos de carreira fazem de si uma atual líder influente. Quais são as características e qualidades que acredita serem essenciais para uma liderança eficaz no ambiente empresarial? Como é que as aplica na sua própria trajetória profissional?

Creio que estou em constante evolução, numa jornada de aprendizagem contínua que nos desafia a sair da zona de conforto e questionar a nossa perspetiva, sentindo constantemente uma responsabilidade imensa. Ao longo dos últimos 15 anos, participei de diversos cursos de Liderança, incluindo o curso de Gestão e Liderança da AESE, que é excelente. No entanto, quero destacar um curso que em particular teve um impacto significativo na minha jornada como líder: o Curso de Liderança Positiva na Pick Up a Star, intitulado ‘Encantar, Concretizar e Influenciar’.

Acredito que as características essenciais de um líder devem ser fundamentadas nos seguintes princípios: compartilhar informações e fornecer feedback construtivo; construir relacionamentos e estabelecer conexões próximas; manter uma mentalidade evolutiva; delegar responsabilidades; desenvolver equipas e criar um sentido de propósito e pertença; além disso, acredito na importância da liderança situacional, conforme descrita por Blanchard. Muitas vezes, é necessário adaptar o nosso estilo de liderança de acordo com o nível de habilidade e a situação de cada colaborador.

Embora tudo isso possa soar teoricamente sólido, a prática é desafiadora. No El Corte Inglés, liderar uma grande equipa com a qual trabalhei por um longo período resultou numa sintonia quase natural. Agora, na GS1 Portugal e com uma equipa menor, enfrento o desafio de aplicar esses valores e princípios a pessoas completamente diferentes sobre as quais não tenho histórico. No entanto, acredito que os princípios fundamentais são aplicáveis: construir confiança e proximidade, delegar, supervisionar, promover o crescimento, fornecer feedback, motivar e, acima de tudo, comunicar – a comunicação eficaz é uma ferramenta poderosa.

Na GS1 Portugal Codipor, uma organização que atribui grande importância à partilha de conhecimento, estou a construir o meu percurso com base nestes alicerces. No entanto, reconheço que ainda há um longo caminho a percorrer. Compreendo que as conquistas não surgem instantaneamente e um dos valores fundamentais que um colaborador pode ter é a constância.

A GS1 Portugal realça a importância de promover uma cultura empresarial inclusiva. Como é que vê, por exemplo, o papel das mulheres na promoção da diversidade e inclusão dentro das organizações e nas empresas onde trabalham? Quais são os desafios e as oportunidades que as líderes femininas enfrentam nesse contexto?

Aqui, acredito que a GS1 Portugal é um verdadeiro exemplo. Apesar de ser uma organização pequena, destaca-se pela sua excelente estrutura e organização. Os processos estão claramente definidos, implementados e assimilados pelos colaboradores. Além disso, a organização possui um Código de Conduta e Ética profundamente enraizado. Mesmo sem obrigatoriedade, a GS1 Portugal criou um Plano de Igualdade, no qual já tive a oportunidade de participar. É interessante notar que a Direção da organização é composta por 50% de homens e 50% de mulheres, alcançando um equilíbrio notável. Atualmente, as mulheres representam a maioria dos colaboradores, com 56%.

Gostaria de destacar também a cultura de meritocracia promovida através de um bom sistema de avaliação de desempenho e de definição de objetivos. Este sistema visa principalmente reconhecer e recompensar o mérito, o cumprimento de objetivos, a identificação de talentos e o desenvolvimento de todos os colaboradores, independentemente do género.

Saliento, ainda, o sistema de equilíbrio entre a vida profissional e pessoal implementado pela GS1 Portugal Codipor, que efetivamente possibilita uma verdadeira conciliação entre a vida familiar e a profissional, um aspeto tão crucial e valorizado nos dias de hoje. A organização adotou um modelo de trabalho híbrido que permite até dois dias de teletrabalho e oferece flexibilidade na gestão dos horários, desde que se cumpram determinadas regras fundamentais para assegurar o bom funcionamento e organização do trabalho.

Neste momento, acredito que as empresas em geral estão a dedicar mais atenção a esta questão e a adotar medidas para combater as barreiras culturais e estruturais que ainda persistem. É urgente que assumam nas suas estratégias de gestão, políticas de igualdade de género que contribuam de forma significativa para uma maior igualdade de oportunidades entre homens e mulheres.

Como é que acredita que a GS1 Portugal pode incentivar e apoiar outras mulheres a tornarem-se líderes e empreendedoras? E que conselhos daria para as mulheres que desejam destacar-se como líderes nas suas áreas de atuação?

Como mencionei anteriormente, neste contexto, acredito que a GS1 Portugal pode servir como um exemplo. Reforçamos a cultura da meritocracia, onde as pessoas são avaliadas, reconhecidas e promovidas com base no seu trabalho e dedicação, sem qualquer influência de género. A nossa preocupação em ter um plano de igualdade visa fortalecer esta filosofia que está intrinsecamente enraizada na nossa cultura e na forma como trabalhamos.

A todas as mulheres, com humildade, pois ainda tenho muito a aprender e estou a consolidar o meu papel, aconselho a serem resilientes, seguras de si mesmas, a demonstrar foco no seu desenvolvimento profissional e pessoal, serenidade, inteligência emocional e equilíbrio, e, acima de tudo, a terem muita vontade. Fico feliz por ver cada vez mais mulheres confiantes e empoderadas.

A Joana trabalha para as pessoas e pelas pessoas. O que a motiva? O que a inspira? E qual a sua perspetiva de futuro, dentro e fora da GS1 (pessoal e profissionalmente)?

O que verdadeiramente me motiva são as pessoas. Continuo a acreditar que elas são o ativo mais valioso, o maior desafio e responsabilidade de qualquer empresa ou organização. Nada me dá mais prazer do que ver as pessoas evoluírem, desenvolverem-se e progredirem nas suas carreiras. Isso não implica necessariamente ascenderem a cargos de chefia, mas sim buscarem conhecimento e melhoria contínua.

O que me inspira? Acredito que será necessário integrar e descobrir novas formas de trabalho e novos perfis profissionais. Devemos criar equipas multidisciplinares e multigeracionais, promovendo a diversidade e a igualdade, sempre com o objetivo final de alcançar resultados.

A minha visão de futuro concentra-se, sobretudo, em auxiliar o desenvolvimento de pessoas talentosas, ágeis, motivadas e comprometidas. Também estou determinada a acompanhar este mundo VUCA (Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo), que apresenta desafios imprevisíveis tanto a nível profissional como pessoal.

A GS1 Portugal é uma organização que me motiva profundamente. Possui uma estratégia muito bem definida, antecipando as mudanças com uma equipa altamente preparada e valorizando a inovação, a transição digital e a sustentabilidade. Acredito que esta organização partilha da minha convicção de que, no centro de tudo, estão sempre as pessoas: “Pessoas, sempre Pessoas”.

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