A biotecnologia ao serviço da saúde
Há mais de 10 anos que a Lallemand, líder mundial na investigação, desenvolvimento, produção e comercialização de leveduras, bactérias e derivados de microrganismos, está em Portugal e, hoje, é uma das três fábricas de levedura que existem na Península Ibérica e única no país. É em Setúbal que se produz a levedura de panificação que em muito tem contribuído para a melhoria da saúde e qualidade de vida dos consumidores, como nos assegura Maria do Carmo Amaral, Diretora Comercial.
Nos últimos anos, a sociedade está cada vez mais focada na saúde e na procura de produtos cada vez mais saudáveis. O vosso trabalho tem sido, sobretudo, de adaptação a um mercado cada vez mais exigente e informado?
Sim, interessa-nos o bem-estar dos consumidores, das pessoas a quem vendemos e dos mercados onde atuamos. O nosso foco é, sobretudo, na biotecnologia e a utilização das leveduras e bactérias (microrganismos) para poder obter de uma forma mais amiga do ambiente e mais natural, produtos que possamos sugerir, quer aos nossos clientes, quer aos consumidores finais, que concorrem para o bem-estar e para uma boa saúde. Somos uma empresa centenária e familiar, mas que tem já um pouco no seu ADN, ao longo dos anos, a procura de novos mercados, produtos e aplicações, baseados em processos que já existem na natureza. Na verdade, é transferir, para uma escala maior, os processos que ocorrem na natureza.
Qual o impacto de todos estes investimentos no produto final e, consequentemente, na qualidade de vida dos consumidores?
Fazemos todos os investimentos para melhorar a qualidade dos produtos, para que sejam o mais puros possível e para que possam funcionar de uma forma eficiente e correta no seu destino. Usamos também todos os conhecimentos que vamos obtendo com as aplicações para ajudarmos os nossos clientes a concorrer para a sustentabilidade.
Temos soluções que permitem, através por exemplo por aplicação de enzimas, modificar numa padaria industrial a forma como se produz a massa, ou seja, conseguimos usar menos quantidade de água, o que permite que a cozedura seja mais rápida e, portanto, há dispêndio menor de energia no processo. É um exemplo de que com as nossas aplicações, também conseguimos sugerir soluções que podem melhorar a pegada ambiental dos clientes.
Utilizamos estes microrganismos como umas “mini fábricas” que nos ajudam em diversos mercados, sempre procurando soluções inovadoras e que contribuem ara o bem-estar e saúde dos consumidores.
Temos leveduras que são enriquecidas com vitaminas e minerais, que podem promover alternativas para dietas veganas e estamos também a desenvolver a área dos probióticos para a melhoria da saúde do trato intestinal, que se reflete depois na saúde global.
As questões ambientais e de sustentabilidade e os cuidados de saúde, têm sido as vossas maiores apostas?
As maiores apostas têm sido os probióticos, a utilização de leveduras para nutrição animal e tratamento de plantas. Em vez de usar pesticidas, usar microrganismos que permitem obter a mesma finalidade, mas sem terem os problemas dos pesticidas, porque são microrganismos naturais. Para além disso, queremos contribuir para o bem-estar animal. O facto de podermos utilizar derivados de leveduras e bactérias nas dietas animais, também permite que sejam necessários menos antibióticos porque há uma resposta imunitária mais positiva. Tudo isto é fruto de uma grande investigação, temos muitos laboratórios e centros de investigação de excelência. Também existe na Lallemand a perspectiva de criar parcerias e, por isso, temos muitas em todo o mundo com universidades, com centros de investigação. Portanto, também podemos aproveitar a investigação dessas instituições.
Para além de Portugal, estão presentes em cerca de 50 países, com diferentes leis e preocupações ao nível da saúde. Como articulam as diferentes necessidades de públicos tão diferentes?
A articulação é fácil, porque podemos fazer os produtos adaptados às exigências de cada região, apesar de haver muitas diferenças, também há muitas semelhanças. Quanto à qualidade alimentar, regemo-nos por aquilo que é exigido nas regiões mais avançadas, como a América do Norte, a Europa. O standard mais alto é aquele pelo qual nós nos regemos e, por isso, é fácil de entrar em todos os mercados. Quando há limitações legislativas, temos técnicos que sabem onde podemos ou não vender.
A Lallemand está em constante evolução, a testar as capacidades, a procurar novos mercados e produtos. Houve alterações com a chegada da Covid-19?
É difícil entrarmos numa conversa se não falarmos do efeito que teve a pandemia. A Lallemand tem a exclusividade, a nível mundial, de uma produção de uma levedura com vitamina D natural. Com a chegada da pandemia os estudos, sobre esta vitamina, acentuaram-se e concluiu-se que as pessoas com maior deficiência em vitamina D, eram aquelas que tinham uma resposta à Covid-19 mais severa. A vitamina D está relacionada com a fixação do cálcio e de fósforo nos ossos, mas também com o sistema imunitário. A vantagem de ter uma levedura que seja rica em vitamina D é poder utilizá-la quer em suplementos, quer no fabrico do pão em casa ou na padaria. Há outros alimentos que são ricos nessa vitamina, mas animal, que não comemos todos os dias e oferecer uma fonte natural de vitamina D seria interessante. No nosso caso, chegar ao consumidor com esta mensagem tem sido um obstáculo, mas continuamos a lutar para divulgar a importância de um alimento deste tipo, que pode trazer benefícios importantes na saúde geral.
O futuro da empresa passa pela aposta na diversidade, na inovação e na diferenciação e ser um aliado da saúde?
Os microrganismos que utilizamos são obtidos da natureza, que posteriormente são estudados. Asseguramos que quando temos um microrganismo que podemos utilizar como “mini fábrica”, esse vai manter-se inalterável. Da mesma forma que as nossas fábricas têm de produzir o mesmo produto regularmente e com boa qualidade. Através da nutrição, sobretudo, percebemos as vantagens que uma boa alimentação pode ter na nossa saúde e qualidade de vida.