Astenopia Digital

Fernando Trancoso Vaz, Coordenador da Consulta de Glaucoma do Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca, E.P.E.

O Síndrome de Fadiga Ocular ao Computador, ou mais recentemente designado, Astenopia Digital (AD) é uma perturbação inespecífica transitória caracterizada por fadiga ocular e olho seco que surge em qualquer pessoa que esteja a utilizar um dispositivo electrónico (computador, tablets, ebooks ou smartphones) por mais de duas horas, seja do ponto de vista profissional/estudo seja por puro lazer.
Tem por base um esforço visual para perto excessivo e/ou perpetuado com um estímulo permanente do reflexo de adaptação de focagem para perto (contração de músculos oculares intrínsecos – acomodação) e convergência (contração de músculos oculares extrínsecos).
Como depende de músculos, quando estes são estimulados em demasia, observa-se primeiro manifestações relacionadas com a sobrecarga dos mesmos (astenopia) –, sensação de peso, cansaço ocular ou mesmo dores de cabeça e, mais ao final do dia, manifestações clínicas relacionadas com a sua falência – visão desfocada ao perto ao final do dia e lentidão de focagem quando se passa do olhar de perto para longe.
Por exemplo, ao concentrarmo-nos no que estamos a ler (maior fixação), diminuímos o número de pestanejos por minuto e, consequentemente, diminuí a lágrima que é bombeada para o olho durante este ato, o que associado a uma maior evaporação da lágrima (por o olho estar aberto) leva a queixas de olho seco (ardor, picadas, sensação de corpo estranho e lacrimejo compensador).
Também se observa queixas musculares relacionadas com posturas incorretas e, por vezes, irritabilidade e diminuição da concentração.
Se até ao ano de 2019 este tipo de queixas se observava mais frequentemente em certos tipos de profissões (teleperformance, call-centers, entre outros) ou atividades lúdicas (gaming, entre outras) com a pandemia e com o teletrabalho/telescola, todos nós tornámo-nos alvo desta perturbação ao aumentar o tempo que estamos perante estes dispositivos.
Urge assim esclarecer que este problema é transitório, observando-se nos dias de maior atividade, em que estamos durante mais tempo a utilizar os dispositivos eletrónicos e que existem medidas que nos podem ajudar a ultrapassar este síndrome:

1. Consulta com um médico oftalmologista para corrigir erros refrativos (óculos) e dificuldades de convergência dos olhos ao ver ao perto, no entanto, se isso não se verificar, a AD surge mais precocemente e as medidas referidas serão insuficientes;

2. Evitar ambientes secos e fluxos de ar fortes (correntes de ar ou ar condicionado), ter uma iluminação ambiente não muito forte e bem distribuída na área de trabalho;

3. Mesa e cadeira adequadas e ergonómicas com boa distância ao computador (35-40 cm), muito importante;

4. Pausas regulares, desviando o olhar para longe, não sendo necessário interromper a atividade que estavam a realizar, e aqui pode-se aplicar a conhecida regra anglo-saxónica dos 20-20-20 (cada 20 minutos olhamos 20 segundos para 20 pés que corresponde a cerca de 6 metros.)

5. Utilização se necessário de lubrificantes oculares de preferência sem conservantes.
Com estas medidas conseguimos minimizar, ou mesmo fazer desaparecer, as queixas de AD e poderemos usar os dispositivos eletrónicos de uma forma ‘mais saudável’, sem qualquer repercussão ocular, mantendo a nossa produtividade e, ao mesmo tempo, a qualidade de visão, bem como melhorando a nossa qualidade de vida.

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