“A arquitetura é uma atividade que permite o auto-conhecimento e a utilização da expressão através da arte como modo de vida”
Em entrevista à Revista Business Portugal, António Fernandez e Ema Rosmaninho, enquanto responsáveis criativos da António Fernandez Architects, explicam como fazem da arquitetura a sua vida e paixão. Um percurso repleto de obras de referência, inspiradoras, ousadas, inovadoras e intemporais, que conquistaram inúmeras premiações internacionais e que colocam Portugal no mundo da arquitetura global.
António Fernandez e Ema Rosmaninho são arquitetos formados pela FAUP em 1993, com habilitações complementares que lhes permitem abranger um vasto domínio de campos de intervenção. O que despertou o vosso interesse pela arquitetura?
O interesse pela arte nasceu primeiro. Foi o gosto pelo desenho que iniciou o nosso percurso. O interesse pela arquitetura surge como forma de expressão que possibilita a integração e interligação de várias artes associadas ao espaço. A arquitetura permite-nos exercer um trabalho conjugado com a satisfação e realização pessoal, porque além do desafio e da argúcia, nela impera a criatividade. A arquitetura é uma atividade que permite o auto-conhecimento e a utilização da expressão através da arte como modo de vida. É um prolongamento de nós mesmos, mais do que uma profissão. É ela que nos faz viajar, explorar, conhecer, viver paisagens e espaços construídos, re-interpretar sociedades, culturas, anseios e sonhos, que nos fazem também sonhar.
Qual é a vossa perspetiva sobre o panorama atual da arquitetura e do mercado imobiliário?
Hoje, a arquitetura de qualidade e responsável encontra-se mais valorizada. Depois de anos de pura especulação imobiliária e de baixa qualidade da construção, há a exigência de um parque edificado mais regulado e ecologicamente mais consciente. Em paralelo, há um filão de clientes que dá primazia à arquitetura de autor, com espaços inteligentemente projetados e construídos, onde a sustentabilidade e a preocupação ambiental têm soberania; e onde o arquiteto é respeitado, idolatrado e até figura de marketing. Contudo, embora se verifique, cada vez mais, a procura de equipas especializadas pelos promotores, ainda assistimos a muita deturpação na construção de cidades e edifícios e à desregulação de algumas áreas do setor. Situação derivada da forma como é realizada a gestão territorial e, ainda, do errado entendimento da atividade de arquitetura, como algo não muito sério, cujos projetos são facilmente deturpados, adulterados ou apropriados, sem olhar a responsabilidades, mesmo até entre pares, que no limite esmagam direitos autorais com uma leviandade impressionante.
Como descrevem a vossa abordagem e processo de criação?
A abordagem projetual da António Fernandez Architects inicia-se e ancora-se no sítio, resultando em projetos e obras originais e singulares. Assim, cada um dos nossos projetos é totalmente distinto do anterior. O atelier não procura impor-se de modo pretensioso, descontextualizado e despropositado, nem pretende encontrar uma fórmula universal, um estilo repetível ou uma linguagem pré-estabelecida. Esta postura carateriza a António Fernandez Architects, pois traduz a sua determinação para se aventurar por novos percursos ao abraçar cada novo desafio e questionar a forma adequada para abordar cada novo projeto. As nossas obras pretendem simplificar o complexo, por isso, parecem naturalmente fáceis de conceber, pois são de rápida leitura formal e funcional, embora o percurso para atingir esse resultado seja fruto de uma intensa e profissional abordagem, conquistada ao longo de anos de trabalho.
Em 1998, fundou o gabinete de arquitetura “António Fernandez Architects”. Em 2001, reforça, a tempo integral, o trabalho em co-autoria com a arquiteta Ema Rosmaninho. Que balanço fazem do projeto e como descrevem o posicionamento no mercado?
O balanço é muito positivo. A António Fernandez & Ema Rosmaninho Architects (AF+ER) é uma forma de vida e não apenas um gabinete profissional. O nosso projeto extravasa um posicionamento no mercado e impõe-se no percurso criativo pessoal, imiscuindo-se no puro mundo da arte com toda a responsabilidade da resposta projetual consciente e eficaz. É esta marca que pretendemos vincar. O nosso gabinete tem-se salientado pelo produto concebido, pela procura cada vez mais abrangente de clientes, pela relação com estes, pelo posicionamento em obra. O resultado plasma-se nos inúmeros prémios e publicações internacionais e, consequentemente, na solicitação de trabalho por parte de promotores, cada vez mais, globais e que querem apostar no nosso país com qualidade e diferenciação relativamente ao parque comummente construído. Isto completa-nos, porque, enquanto oficina de arquitetura, vencemos a barreira do nacional, apresentamos obra diversificada e sui generis, criamos o nosso percurso e somos apreciados e valorizados principalmente por aqueles que querem estar à frente no mercado com responsabilidade, qualidade e design de excelência, formal e funcionalmente apelativo, economicamente rentável e ambientalmente sustentável.
Na elaboração de um projeto, a interação entre os profissionais de vários campos de atuação é fundamental. Esta diversidade e reunião de ofícios é estimulante? Quais são os benefícios desta partilha de ideias?
A António Fernandez Architects nutre como estímulo e valor fundamental o espírito de equipa pautado pelo sistema colaborativo e de parceria. A aposta num quadro técnico composto por talentos diferenciados e complementares imputa ao gabinete uma vitalidade e energia que extravasa para o ato criativo e se repercute no resultado final. Como extensão da sua atividade, o atelier recorre a recursos externos altamente especializados, que trabalham numa estreita colaboração com a equipa interna da empresa, por forma a que através dessa interdisciplinaridade se alcance novo conhecimento e se produzam soluções mais enriquecedoras, eficientes, ímpares e de alta qualidade. Estas parcerias externas são adaptadas e estabelecidas do modo mais adequado a cada projeto e ao seu desenvolvimento, o que permite à empresa centrar a sua atividade no conteúdo essencial de trabalho e incrementar a coesão de grupo.
Além dos projetos arquitetónicos, também se dedicam à conceção de mobiliário e design gráfico integrado nas vossas obras. Como é que essa abordagem integrada contribui para a experiência dos clientes?
A abordagem integrada do projeto arquitetónico e design interior permite a conceção de espaços personalizados onde a aliança entre a funcionalidade, a eficiência, a sustentabilidade económica e ecológica, o conforto, o requinte, a originalidade e a arte é privilegiada, traduzindo-se em espaços habitáveis de qualidade e com forte identidade. É esta abordagem, que cativa os clientes, que procuram equipas proativas capazes de responder eficazmente a várias valências, salvaguardando a génese e identidade da obra arquitetónica, porque toda ela é pensada de modo integrado e unitário.
A António Fernandez Architects é, hoje, uma empresa de renome que defende o seu profissionalismo e dedicação à Arquitetura, Urbanismo e Design de Interiores com muita determinação e paixão. A sua obra encontra-se dispersa por vários lugares do país. Que projetos podem elencar como mais emblemáticos e/ou desafiantes?
Eleger uma obra como emblemática é muito difícil, porque cada obra é única e cada obra é parte de um todo que define o gabinete António Fernandez Architects, os seus autores e toda a equipa. Mas há obras que embora únicas, marcam o nosso percurso, porque brotam naturalmente do local, ou porque são singulares e inovadoras. Por isso, as “Afife Houses”, que se encontram publicadas no “Atlas de Arquitectura Europeia” de 2015 da Braun Publishing, e a “S. Roque House” que desafia o conceito espacial de habitação, não podem ser esquecidas. Como peça carismática do atelier temos a “RM House”, uma pequena insígnia da nossa arquitetura, com inúmeras premiações e que é Selected Winner pela Arch Design Award 2023. A “Frei Sebastião House” representou a arquitetura em Portugal no programa televisivo realizado pela Pioneer Produtions (PioneerTV, London), cujo formato foi exibido nos Estados Unidos em 2015, sendo uma das cinco casas portuguesas selecionadas. Na reabilitação de edifícios temos o “Cajú Hotel”; o “Belas Artes Residence” que num intrincado de espaços reanima um edifício secular carregado de história; o Mécia’s e Cine Park Residence”, cuja fachada revolucionou o trabalho artesanal da chapa metálica; e por fim, o “Hortas Residence” e o “Chafariz – Swarovski”, cuja pormenorização nas varandas e fachada, respetivamente, reinterpretam as rendas da Madeira e que, por isso, foram eleitos para representar a Ilha num vídeo de promoção realizado pelo Turismo Regional para os países de Leste.
Nos trabalhos de interiores, apontamos a “Stima” que, muitos anos após a sua conceção, ainda hoje, a vemos a servir de referência a projetos internacionais, por isso, teve repercussões importantes no mundo. O “É Prá Poncha Bar” no Porto e o “Number Two” em Lisboa são outras fortes referências que correram mundo, pois foram capazes de eliminar a barreira da luz aliada à cor na arquitetura.
O “The Prince Albert Pub & Food” é um estandarte do pub inglês no Funchal. O AP MM – LeBlanche simboliza a nossa capacidade de traduzir irreverência formal e funcional adaptada à estética e foi eleito melhor escolha do júri pelo LIV Hospitality Awards 2021. E por último, a “Gruta Café-Restaurante”, também bastante premiado, é o nosso marco de projeto integrativo levado ao extremo. Desde o desafio da obra, onde a natureza se impôs até ao pormenor de cada detalhe, único e exclusivo. É o projeto onde a capacidade projetual e criativa é levada ao limite e onde o diálogo entre arquitetura e a escultura atingiu a sua máxima expressão.
Realçamos agora alguns produtos que nos completam, como por exemplo, a cozinha “Loro” integrada na “Papagaio Verde House”; a cozinha “Diamante” do AP “Alexis” ou a simples “Box CTT” criada em 2003 pela António Fernandez Architects e que, volvidos 20 anos, vemo-la replicada em obras de outros arquitetos. É muito simples e, por isso, muito fácil de copiar e difícil de alterar e reinventar.
Por fim, em projeto, alguns já com premiações internacionais, temos as “Monumental Residence”, que nos valeu o Prémio do Ano 2022 pela TITAN Property Awards; o “The Embassy Hotel****”, com capacidade para 180 quartos, junto ao Aeroporto da Portela, que parte de uma reconstrução e se transforma numa peça de arquitetura ímpar; o “Machico Green Paradise”, na Madeira, que constitui uma oferta de turismo na natureza de elevado nível arquitetónico, com forte aposta no conceito geofriendly; e por fim, os edifícios residenciais “The Empire” em Lisboa e Funchal; e o condomínio de 30 moradias de luxo em Sesimbra, que deixarão, sem dúvida, uma forte e interessante pegada no território.
O gabinete de arquitetura demonstra todo o seu mérito através de mais de três dezenas de prémios internacionais que já conquistou nos últimos anos, três deles com pontuação máxima, ao serem eleitos melhor escolha do júri pelo LIV Hospitality Awards 2021; Prémio do Ano 2022 pelo TITAN Property Awards e Selected Winner pela Arch Design Award 2023. O que representam estes prémios e reconhecimento internacional? Qual o impacto destas distinções na visibilidade e notoriedade da organização?
Receber todas estas premiações, algumas com o máximo destaque no mundo da arquitetura, é um privilégio e um reconhecimento que muito nos satisfaz, porque consideramos que elas retribuem todo o empenho, criatividade e inovação que colocamos no nosso trabalho, que busca incessantemente a excelência e o elemento diferenciador.
O alcance dos diversos prémios contribuiu muito significativamente para a nossa consolidação no mercado, enquanto profissionais e para o destaque da nossa obra como arquitetura diferenciada, inovadora, internacionalmente aceite e com capacidade para representar Portugal com distinção no mundo da arquitetura. O reconhecimento internacional foi importante, porque passámos a ser mais observados e apreciados pelo valor da nossa obra e da nossa empresa. Em Portugal, consolidámos o nosso percurso, somos mais visíveis, porque os projetos e a obra construída falam por si e também porque somos uma empresa apoiada e validada pelo reconhecimento externo que premeia e aceita a diferença e a inovação. Para a António Fernandez Architects o acolhimento e reconhecimento de todos os cantos do mundo são a concretização de um sonho, que permite representar Portugal no mundo global da arquitetura internacional.