“Um arquiteto nunca tira férias”

Quando estava a estudar ia “comprar casas” para as explorar por dentro. Não tem uma linguagem de arquitetura definida, mas defende que o trabalho contínuo e a forma como se adapta aos clientes são duas das mais-valias para o sucesso. Chama-se Carlos Lopes, é arquiteto e CEO da n-Arquitectos – atelier de arquitetura – um projeto que criou em 2006, apesar de já o sonhar há mais tempo. Em conversa com a Revista Business Portugal, no seu atelier no Edifício Estoril Garden, contou-nos que “nunca esteve um dia sem trabalho”.

A história por trás do arquiteto
Começou no liceu em Bragança, numa turma de arte e design com apenas seis pessoas. Não sabia que era preciso ter média para entrar no ensino Superior, nem que o curso de Arquitetura estaria ao seu alcance, mesmo tendo ganho o primeiro prémio de arte pública urbana (no décimo ano), num concurso interescolar promovido pela autarquia. Em 1998, mesmo sem a média de 18.4 valores, decidiu ir para a universidade. De Bragança (cidade onde vivia) até Lisboa – a cidade onde começou o seu percurso – sempre com o apoio familiar – mesmo que a distância fosse o primeiro entrave. Trabalho e persistência são duas das caraterísticas do arquiteto Carlos Lopes, que começou a trabalhar no primeiro ano de universidade, num gabinete de arquitetura – Arquitetos Anónimos – “sem saber nada da área”, mas onde construiu todas as bases. Trabalhava durante o dia, enquanto estudava à noite, afirmando que “muitas vezes dormia no escritório”. Terminou a licenciatura, enquanto trabalhava por conta de outrem, mas o objetivo sempre foi ter um atelier próprio. Compreendeu cedo que a reabilitação urbana seria uma prioridade a curto prazo e foi tirar o mestrado em Recuperação e Conservação do Património Construído, no Instituto Superior Técnico – coordenado pelo professor catedrático Dr. António Lamas. Inscreveu-se em todas as disciplinas que podia, apenas pela vontade de aprender a técnica e pela arte de reabilitar, mesmo sem a preocupação de obter o grau de mestre. Mais tarde, abriu o próprio atelier, que deu continuidade até hoje – o n-Arquitectos.

n-Arquitectos – A crescer de ano para ano
A empresa foi pensada em 2005, e abriu em 2006 – em Oeiras – pelas mãos do arquiteto e do seu ex-sócio, Hugo Coelho, também arquiteto. Hoje, é apenas Carlos o CEO. O nome n-Arquitectos significa precisamente isso, vários arquitetos espalhados pelo país, que trabalham em projetos diferenciados sob o conceito de teamwork. Os arquitetos colaboram de uma forma integrada no BIM (Building Information Modeling) – um método de trabalho baseado na nuvem e na comunicação em tempo real. Aproveitando a informação bem estruturada, que resulta em enormes ganhos de eficiência: na indústria da construção, ao mesmo tempo que permite quantificar custos de investimento em tempo real, “mediante o que a pessoa tem para investir, fazemos o projeto que necessita”.
Portugal é a principal área de atuação, o arquiteto defende que a maior publicidade é a satisfação dos clientes, conseguida pela qualidade dos projetos e pela segurança do acompanhamento dos mesmos. Além-fronteiras, desenvolve trabalhos em parceria com várias empresas, ainda que portuguesas.

Filosofia, inspiração e linguagem arquitetónica
O arquiteto afirma que “não tenho um estilo nem quero ter, mas sem querer ele existe, porque nós acabamos por ter uma linguagem”, apesar de não conseguir descrever a sua, tem como base a inspiração do movimento moderno – não só na conceção morfológica e tipológica da arquitetura, mas na redefinição dos novos termos da relação da arquitetura para com a sociedade.
O principal objetivo é dar sempre uma resposta coerente com a encomenda de cada cliente, personalizando-a. Acrescenta ainda que, a maior inspiração é a vivência, daí o título “um arquiteto nunca está de férias”, explicando: “tudo o que nos rodeia é arquitetura e é importante fazermos essa síntese entre a inovação e a memória. Não chega percorrer o espaço, temos que o observar”. Um arquiteto assume o “papel de mediador da obra”, para além de ser crucial “pôr a mão na massa”, declara.

O futuro
Para além do atelier n-Arquitectos, possui ainda outras marcas – o n-Engenheiros e o n-Fardas. O futuro passará por criar o n-Obras. Sinónimo de trabalho e resiliência, o arquiteto afirma que “neste processo, nunca descurei a família, o tempo bem organizado dá para tudo”.

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