Silves, Capital da Laranja A Serra, o Barrocal e o Litoral
Em viagem do interior ao litoral, da serra ao mar, fomos conhecer o Município de Silves – o maior produtor de citrinos no Algarve. Aqui, encontrámos pessoas com diferentes pronúncias, nessas pronúncias costumes, nesses costumes tradições. Em conversa com Rosa Palma, presidente da Câmara Municipal de Silves, descobrimos a “Rota da Laranja” – um roteiro que promove a citricultura, envolvendo atividades que caraterizam o património, desde pessoas, fauna e flora, monumentos históricos e gastronomia.
“Silves, Capital da Laranja” é a marca que vos distingue?
Apostamos bastante na nossa marca que é “Silves, Capital da Laranja”. Como somos os maiores produtores de citrinos a nível do Algarve assumimos a marca, no sentido de poder divulgar, não apenas a nossa laranja em particular, mas sim o nosso território. A nossa laranja é especial, é suculenta, doce, tem um toque diferenciador. É igualmente importante que os nossos munícipes estejam envolvidos nesta dinâmica, que tenham o sentimento de pertença ao território e que se identifiquem com os seus costumes, que sejam recetivos e saibam explicar a quem os visita.
Caraterize o Município de Silves.
É um concelho grande e bastante diversificado, portanto é natural que tenhamos populações bastante diferentes. Desde a zona mais serrana, onde temos atividades mais ligadas ao monte – como a extração da cortiça, a apanha do medronho e a elaboração do mesmo, até à apanha do mel. Temos alguns suinicultores e inclusive produção caprina. O Barrocal distingue-se pela presença bem vincada de vastos pomares e pela forte produção de citrinos. Na zona litoral temos uma comunidade piscatória ligada à pesca artesanal, que estamos a dignificar e a potenciar com a criação de uma área marinha protegida de interesse comunitário.
Explique-nos quais são as caraterísticas da área marinha protegida de interesse comunitário.
Esta área protegida não vem interditar a exploração desse território, estamos a desenvolver uma área diferente, de interesse comunitário – para que as populações percebam que a proteção e salvaguarda da biodiversidade e do meio ambiente podem ser um motor de desenvolvimento económico e social e exemplo de sustentabilidade, através da valorização da pesca local artesanal e potenciação da atratividade turística do território. Queremos obter a certificação da qualidade do pescado extraído do maior recife rochoso costeiro de Portugal, mediante o reconhecimento da baía de Armação de Pêra enquanto referência de biodiversidade em termos nacionais e internacionais, daí estarmos a trabalhar nesta particularidade de tentar classificar este território como área protegida.
O objetivo do Geoparque Algarvensis (para além de já ser aspirante) é ser considerado parte do Geoparque Mundial da Unesco?
O Geoparque Algarvensis, que inclui os municípios de Loulé, Silves e Albufeira, foi considerado aspirante a Geoparque Mundial da Unesco, o nosso objetivo é sermos reconhecidos como tal. É um trabalho que será feito e que vai demorar mais de um ano, englobando os três municípios. Não conseguíamos falar de um território singular, sem falarmos do seu todo (a nível geológico, de fauna e flora). Pretendemos divulgar as zonas do interior, potenciando-as com aquilo que têm de melhor – pelas suas tradições, combinando-o com conhecimento científico. Com o trabalho de equipa pretendemos divulgar a grandeza do território e torná-lo mais atrativo para quem o visita, queremos levar as pessoas que procuram mais a zona litoral a conhecerem também o interior.
Apresente-nos a Rota da Laranja.
A Rota da Laranja é um roteiro pela região que pretende valorizar a citricultura, desde a produção, à transformação e ao consumo. Um roteiro que envolve as atividades paralelas – como a hotelaria e a restauração, contribuindo para o desenvolvimento do município, através da proposta de usufruto de uma oferta turística sustentável e diversificada. A laranja é o chapéu que vai levar a conhecer, não só os nossos produtores de citrinos, mas também vai albergar as tradições de cada uma destas localidades. Vai permitir conhecer pessoas, vivenciar situações particulares como: a apanha da laranja, a confeção da torta da laranja, ou apenas saborear determinadas refeições com a particularidade do fruto. Associado a isso outros produtos locais bastante tradicionais, como os bolos regionais de amêndoa, os de alfarroba, os nossos vinhos; todas essas tradições vão estar envolvidas no roteiro – cujo centro é a laranja. Queremos envolver um leque vasto para que haja opções diferenciadas para todos os visitantes. A Rota da Laranja será apresentada no dia 8 de fevereiro. Haverá uma aplicação onde o utilizador poderá criar um roteiro flexível, personalizando-o através de filtros e adequando-o aos seus interesses. O que se pretende com esta rota é que as pessoas saibam o que pode ser visitado e que, por sua vez, os monumentos (através de personagens) contem a história dos locais.
O que podemos esperar da IV Mostra Silves Capital da Laranja?
Este evento – que acontecerá no fim de semana de 14 a 16 de fevereiro – envolve produtores de citrinos, agricultura, produtos agroalimentares, equipamentos, artesanato, restauração e outras entidades diversas. Na mostra existirá a Conferência XXI onde se pretende que haja partilha de informação, através de uma discussão especializada sobre as dificuldades enfrentadas na produção de citrinos e as soluções que possam ajudar a ultrapassá-las. Essa conferência vai colocar em contacto pessoas da área que tenham conhecimento para resolver determinados problemas, não só no debate de ideias, como em situações que podem ser minimizadas e que estejam ao nosso alcance – nomeadamente através de equipamentos novos, fitofármacos, ou até mesmo de financiamentos que existem, mas que os produtores não têm conhecimento. A IV Mostra Silves Capital da Laranja incluirá também momentos culturais com espetáculos musicais.
190 anos do nascimento de João de Deus, um marco importante para Silves.
Durante o mês de março, a Câmara Municipal de Silves, em colaboração com diversas entidades, celebrará os 190 anos do nascimento de João de Deus – potenciando a criação de uma programação cultural diversificada para diferentes públicos. As celebrações dos 190 anos do nascimento de João de Deus contarão com o Alto Patrocínio do Presidente da República Portuguesa, Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa. João de Deus foi um poeta e pedagogo, nascido em São Bartolomeu de Messines – vila do concelho de Silves, que deve ser valorizado a nível nacional. Um homem que se preocupou bastante com a alfabetização das pessoas, com a propagação do conhecimento, da escrita e da leitura. Escreveu a “Cartilha Maternal”, obra que se destinava a servir de base a um método de ensino de leitura para crianças.