Santa Casa da Misericórdia de Óbidos: Uma grande amiga da comunidade obidense
Ao que tudo indica, estamos a falar de uma das Santas Casas da Misericórdia mais antigas. Apesar de pobre em termos de doações, é detentora dum valioso espólio documental e de um património artístico e da sua capacidade de resposta aos cidadãos de Óbidos e quem o diz é Carlos Orlando, provedor nesta casa e há mais de 30 anos Mesário, que atualmente, se encontra a cumprir o seu último mandato.
A fundação da Santa Casa da Misericórdia de Óbidos pela mão da Rainha D. Leonor remonta ao ano de 1511 e é a primeira instituição de caridade e benemerência do concelho.
Até 1970, manteve em funcionamento o único hospital de Óbidos que na altura contava com ilustres médicos, nomeadamente o Dr. João Lourenço e o Dr. Ernesto Moreira. A partir de 1977, o hospital deu lugar ao Lar de Terceira Idade que se manteve no mesmo local até agosto de 2002. As novas instalações só foram inauguradas mais tarde, a 11 de janeiro de 2003, data em que se comemora o feriado municipal.
O atelier da Empresa de Inserção Social- Misericórdia de Artes de Ofícios Tradicionais, onde eram produzidas verdadeiras obras de arte que conquistam o coração dos obidenses, e se encontram espalhadas por todo o país, estava instalado no antigo edifício que, entretanto, acolheu o velho hospital, tendo este sido posteriormente transformado em “Pousada da Vila”, pelo Grupo Pestana.
Valências sociais
“Enquanto Mesa Administrativa não queremos que os obidenses olhem para a Santa Casa da Misericórdia de Óbidos como uma instituição antiga e obsoleta, mas sim como um recurso importante para ajudar à resolução dos seus problemas”, começa por explicar o Provedor Carlos Orlando. É nesse sentido que a Santa Casa procura dar resposta a algumas valências sociais e, por isso, entre os seus serviços, destaque para o Lar, a Creche, o SAD (Serviço de Apoio ao Domicílio) e outros apoios relevantes como é o caso do Banco Alimentar.
Relativamente ao Lar, a sua capacidade é de 53 utentes e é difícil conseguir vaga uma vez que “temos sempre uma enorme lista de espera”, afirma o entrevistado. As instalações, apesar de se encontrarem em bom estado, precisam de ser remodeladas, pois “os utentes que temos hoje não são os mesmos que tínhamos há uns anos, o que se deve em grande parte ao excelente trabalho que tem sido feito por parte do SAD”, explica Carlos Orlando. Quanto à equipa, os seus elementos têm que ter o perfil certo para cuidar da terceira idade e, por isso, contam entre os seus profissionais com um médico, uma enfermeira, uma fisioterapeuta e uma animadora cultural.
O SAD é um serviço mais recente que está em franco progresso e tem conseguido cumprir o seu propósito: fazer com que as pessoas permaneçam, confortavelmente, o máximo de tempo possível nas suas casas. Embora tenham capacidade para 42, neste momento contam com 35 utentes. “Podermos estar nas nossas habitações sem ter a necessidade de irmos para uma ERPI (Estrutura Residencial para Pessoas Idosas) é muito bom”, salienta o Provedor.
Já no que se refere à Creche, inaugurada nos 500 anos da Misericórdia, abrange cerca de 42 crianças e foi criada com o intuito de estreitar laços entre a terceira idade e os mais novos originando a realização de projetos pedagógicos, intergeracionais. É por isso que todas as datas especiais como, por exemplo, o Dia da Criança, o Dia dos Avós ou mesmo o Natal e muitas outras, são celebradas em conjunto. Ainda assim, esta é uma resposta social que tem dificuldade em garantir a sua sustentabilidade, uma vez que “o Governo ainda não encontrou a melhor estratégia para ir ao encontro dos pais das crianças e das dificuldades financeiras das instituições”, refere.
A arte como forma de expressão
A Santa Casa da Misericórdia de Óbidos sempre demonstrou o desejo de ter um artesanato próprio e é assim que, em meados de 1998, a mesa administrativa faz uma candidatura ao fundo social europeu para criar um curso de pintura assente em três grandes objetivos: formar, educar e empregar.
Depois da candidatura ser aceite e da conclusão do curso, optaram pela pintura da tijoleira de São Paulo recorrendo à técnica da corda seca, “esta tem o aspeto de uma tinta preta com a qual fazemos o desenho e que serve para os vidrados não se misturarem. Posteriormente, colocam-se os vidrados e estes vão ao forno a uma temperatura de 1020 graus”, explica o Provedor Carlos Orlando. Estas magníficas obras de arte são utilizadas para decorar vários espaços públicos, tal como acontece em Alpalhão, Celorico da Beira e Niza, por exemplo. Ainda assim, todas elas se encontram disponíveis para venda na loja, pois Óbidos é visitado por milhares de turistas que aterram em Lisboa e se deslocam para visitar Óbidos, Fátima, entre outras localidades.
A visão sob o futuro
Se por um lado, importa manter tudo aquilo que foi construído até então, por outro há que olhar para o futuro. Com esse efeito, na opinião do Provedor, era muito importante aumentar os vencimentos dos funcionários da Santa Casa da Misericórdia de Óbidos e nesta questão o Governo deveria assumir a responsabilidade e aumentar a sua comparticipação. Ainda assim, Carlos Orlando procura encarar os tempos que aí se avizinham com esperança e refere a importância de continuar a angariar fontes de receita, já possuindo uma loja, um quiosque, um atelier, um bar “O Arco da Cadeia”, uma “Pousada”, e preocupando-se em atrair turistas, continuar a cumprir a sua obrigação moral de dar a conhecer todo o seu património imaterial, tendo sido a Misericórdia de Óbidos recentemente convidada para fazer parte da “Rede Europeia de Celebrações da Semana Santa e Páscoa”.