Promoção turística e capitalização do destino Açores

A escolha da região dos Açores para figurar como destino convidado na BTL 2024 foi o mote para a conversa com Marcos Couto, Presidente da Câmara do Comércio de Angra do Heroísmo, que sublinhou que o evento servirá essencialmente de montra para o mercado nacional, mas sem descurar os contactos com outros mercados. Paralelamente, deu nota da necessidade de fazer mais e melhor trabalho de promoção turística na região e reforçar o destino turístico como um todo, respeitando a singularidade de cada uma das nove ilhas.

 

 

Marcos Couto, Presidente da Câmara do Comércio

 

Os Açores são o destino nacional convidado da próxima edição da BTL, que decorre de 28 de fevereiro a 3 de março de 2024, no Parque das Nações, em Lisboa. O que representa para si esta escolha da região para figurar como destino convidado na BTL 2024? O evento servirá de montra para o principal mercado – o português?

Julgo ser inquestionável a evolução que os Açores têm feito ao nível do turismo. Depois de uma fase atípica em que nos tentámos posicionar como destino de sol, encontrámos definitivamente o nosso natural destino de natureza, proporcionado pela realidade e diversidade de cada uma das nove Ilhas. Entendo que a escolha como destino convidado da BTL 2024 é o resultado dum processo evolutivo. É um evento que se destina essencialmente ao mercado nacional, sendo que não são, de forma alguma, negligenciáveis os contactos que são estabelecidos com outros mercados. Os Açores estão no centro do atlântico norte, “com um pé no novo e no velho continente”, é neste contexto que temos que nos posicionar.

 O turismo nos Açores tem tido um caminho muito interessante, destacando-se pela sustentabilidade e afirmando-se como destino de natureza. Ainda assim, considera que é necessário fazer mais e melhor trabalho de promoção turística na região, enaltecendo, cada vez mais, a qualidade dos produtos turísticos que a região consegue oferecer e reforçar o destino turístico como um todo, respeitando a singularidade de cada uma das nove ilhas?

Apesar do trabalho que tem sido desenvolvido ainda revelamos fragilidades ao nível da promoção turística e da capitalização do destino. Essas fragilidades ficam bem patentes a dois níveis: Por um lado a “drenagem” dos fluxos turísticos, fortemente penalizados pelo modelo de transportes aéreos interno, maioritariamente concentrado numa única gateway. Um enorme handicap para o nosso crescimento turístico e económico. Uma segunda, como muito bem disse, que se prende com a capitalização do potencial de cada uma das Ilhas, um trabalho que está longe de estar feito e alcançado. Os Açores não se conhecem a si próprios e isso tem dificultado a articulação da sua promoção externa. Existe um longo caminho que ainda temos a percorrer.

 Assumiu a liderança da Câmara do Comércio de Angra do Heroísmo (CCAH) em abril de 2021, que balanço faz desta trajetória, que cunho pessoal procurou imprimir e quais os principais objetivos assumidos e concretizados?

Ser juiz em causa própria não é, nem nunca foi, bom exemplo. Prefiro como tal deixar alguns factos que ajudam a avaliar o trabalho feito por toda a equipa. Destacaria dois indicadores que considero interessantes: pela primeira vez, nos últimos dez anos, a instituição apresentou um saldo positivo de sócios, são mais os novos sócios a aderir ao projeto, que os que a abandonam. Ao nível da solidez financeira, e na continuidade do trabalho feito pela direção anterior, temos apresentado saldos positivos consecutivos. Do ponto de vista interno destacaria a introdução da limitação de mandatos, a reformulação do sistema de quotas e termos conseguido a adesão à Confederação de Turismo de Portugal, como algumas das medidas estruturais mais relevantes. Por fim, e na relação com as instituições mais relevantes daria um especial destaque à relação que temos hoje em dia com a Câmara Municipal de Angra que nos tem permitido um trabalho de promoção de grande nível do destino “Ilha Terceira “ que esperamos que venha a ser seguido por outros municípios da nossa área de influência. Os protocolos que o ACP e a AHRESP são outras iniciativas que dão especiais benefícios às nossas empresas associadas e aos seus colaboradores.

 

Miradouro Serra do Cume

 

 

 A CCAH tem por missão o permanente acompanhamento do mercado de trabalho, do mercado dos fatores, do clima institucional e do cenário político, numa perspetiva de defesa intransigente dos interesses comuns ao tecido empresarial. Que iniciativas têm sido promovidas para o desenvolvimento de atividades suscetíveis de contribuir para a competitividade das empresas e para aproximar mais a instituição dos seus associados?

Neste capítulo, esta direção tem sido particularmente ativa. Além da assinatura de vários contratos coletivos de trabalho, resultado de processos de negociação com os sindicatos, temos feito chegar ao Governo dos Açores várias propostas sobre assuntos diversos e que impactam fortemente na atividade empresarial, como sejam os transportes ou o sistema político, passando igualmente pela agricultura. Temos vindo a manter uma ação muito transversal a toda a atividade económica da nossa realidade regional.

 A CCAH candidatou-se a cinco projetos financiados pelo programa europeu Interreg-Mac, no próximo quadro comunitário, dois dos quais como líder. Qual a importância de, pela primeira vez no projeto Interreg-Mac, poder vir a ter uma associação açoriana a liderar um ou mais projetos, captar este investimento e estar no centro de decisão?

É uma inversão total no paradigma de participação em projetos europeus por parte desta Câmara e das diferentes associações empresariais dos Açores. As associações empresariais nunca estiveram muito vocacionadas para a participação em projetos interreg-mac, no entanto fruto da diversidade de países/regiões/culturas que participam destes projetos, os mesmos são de uma enorme riqueza, permitindo a troca de experiências e conhecimento permitindo que os Açores se abram ao exterior e possamos aprender com outras realidades e ultrapassar os níveis de pobreza e subdesenvolvimento que caracterizam infelizmente a nossa realidade. Ser uma associação da Terceira a dar esse passo revela o diferente mindset que carateriza esta Ilha e os seus habitantes. Queremos evoluir, crescer, abrir horizontes e os projetos Interreg-Mac são um mecanismo essencial para o desenvolvimento social, económico e cultural.

 

Fajã da Alagoa

Miradouro do Facho

 

 

O presidente revelou recentemente que com a abertura do quadro comunitário de apoio, a CCAH tem um grande projeto de inclusão da inteligência artificial no turismo, com o objetivo de trazer a inteligência artificial e a digitalização para a estruturação do produto turístico dos Açores. Pode falar-nos um pouco mais sobre este projeto? Que outros projetos ou objetivos estão em cima da mesa para 2024?

A Ilha Terceira foi a primeira a ter uma plataforma desenvolvida para a estruturação da oferta turística (ExploreTerceira), bem como um produto turistico bem definido: História, Património, Cultura e Gastronomia, sendo que dentro deste triângulo temos vindo a dar destaque ao turismo militar e religioso. O “ExploreTerceira” é uma plataforma que resultou de uma necessidade identificada aquando da entrada da Ryanair nos Açores e mais especificamente na Terceira e que pretende reunir toda a informação turística da ilha de forma estruturada e de fácil acesso a quem nos visita. Esta direção quando tomou posse sinalizou o potencial do projeto, que se encontrava à altura estagnado. Demos-lhe então uma nova vida e roupagem. Com o crescimento da IA entendemos que é essencial dar uma nova dinâmica e é isso que vamos fazer neste próximo quadro comunitário de apoio com esta candidatura. É nossa clara intenção disseminar esta experiência pelas restantes Ilhas com quem temos vindo a trabalhar de perto. Este projeto é apenas uma das vertentes da candidatura, sendo que a outra é a promoção turística externa, com particular enfoco nos mercados da América do Norte e na ligação destes à cidade do Porto. As ligações históricas são muito fortes, tal como o facto de ambas serem património da humanidade pela UNESCO. Um potencial que temos que definitivamente de concretizar.

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