Pereira D’Oliveira (Vinhos), Lda: Há mais de 100 anos a produzir Vinho Madeira de excelente qualidade
Fundada em 1850 por João Pereira D’Oliveira, a empresa vinícola Pereira D’Oliveira (Vinhos), Lda dedica-se à produção, comercialização e exportação de Vinho Madeira. Numa entrevista marcada pela história de uma casa centenária, Luís D’Oliveira (descendente do fundador e sócio-gerente) desvendou-nos as potencialidades de um produto tão genuíno.
Sabemos que a Pereira D’Oliveira é uma empresa familiar. Conte-nos a história que está por trás de uma casa de sucesso.
A Pereira D’Oliveira é uma empresa, pequena, familiar, independente, com uma situação financeira equilibrada e sólida. Somos das firmas, de famílias portuguesas, mais antigas da Ilha da Madeira.
Esta firma resulta de uma fusão de duas empresas produtoras e exportadoras de Vinho Madeira: a empresa da família do meu pai, João Pereira D’Oliveira (1850) e do meu avô materno João Joaquim Camacho Sucessores (1870). Eu e os meus irmãos, Aníbal (falecido em junho de 2017) e Miguel (falecido em agosto de 2018) assumimos a gerência desde o início da década de 70, uma vez que éramos descendentes diretos dos fundadores.
Posteriormente, compramos mais quatro firmas. Em 1953 adquirimos a Júlio Augusto Cunha Sucessores; em 1983 a Vasco Luis Pereira Sucessores; em 2001 a Adegas do Torreão (Vinhos), Lda. e em 2013 a Artur Barros e Sousa, Lda.
Como descreve o Vinho Madeira D’Oliveiras?
O nosso produto tem um estilo muito vincado e muito próprio. O nosso vinho tem muita pujança, muito corpo, com uma acidez própria dos Vinhos da Madeira. São vinhos com um final longo, encorpado, aromático e com uma graduação sempre próxima do limite (20/22 graus).
Há uma particularidade na nossa empresa, o enólogo/responsável pelo fabrico dos vinhos é sempre um elemento da família. Isto é um ponto diferenciador que temos e talvez seja de exceção, pelo menos na Madeira. Atualmente, o enólogo é o meu sobrinho Filipe d’Oliveira e antes era o meu irmão Aníbal d’Oliveira.
O enólogo sempre foi um elemento da família que dava os ensinamentos à geração mais nova. Nestas circunstâncias foi fácil seguir uma determinada linha de fabrico do nosso Vinho Madeira, sem recorrer a alguém externo.
As castas influenciam o sabor e o aroma do vinho. Quais são as castas com maior destaque?
Para além da tinta negra, que é a casta mais abundante e que utilizamos com mais frequência nos vinhos mais novos, também compramos, anualmente, o verdelho, o boal, o sercial, a malvasia e terrantez (quando é possível).
Atualmente, não temos terrenos com vinhas mas já tivemos no tempo do meu falecido pai. Ele tomava conta das fazendas. Gostava de ter as suas terras e tinha doze frações, sendo a maior com três hectares. Porém, eu e o meu irmão chegamos à conclusão que não tínhamos conhecimento profundo para acompanhar os 14 trabalhadores das fazendas, até porque também tínhamos outros produtos como a cana de açúcar e a banana. Em 1993/1994 vendemos os terrenos.
Hoje em dia, a produção é integralmente comprada a cerca de 60/70 produtores através de cinco agentes que estão sediados em diferentes concelhos da Ilha da Madeira.
Têm uma vasta gama de Vinhos Madeira. Que diferenças existem entre eles?
As grandes diferenças começam pelas castas. Há castas que se dão melhor em certos terrenos, numa certa altitude, outras vão até 600/700/800 metros. Há zonas que são mais produzidas e mais aconselhadas para determinadas castas. Depois, há anos que são considerados de topo, anos melhores e que fazem as grandes frasqueiras dos Vinhos Madeira, referenciados como os vinhos vintage.
Em média, quantos litros são produzidos anualmente?
A nossa produção é pequena. Temos uma linha de clientes que trabalham com vinhos velhos, ou seja, não trabalham com quantidades, nem esse é o nosso objetivo. Trabalhamos mais com vinhos acima dos 15 anos e com boas colheitas, mas sempre em quantidades pequenas. Raramente excedemos os 200 mil litros anualmente.
Em Portugal Continental, onde é que as pessoas podem adquirir o Vinho Madeira?
Recentemente, estabelecemos uma parceria com um distribuidor a nível nacional, bem como na Ilha da Madeira temos um distribuidor. Mas já estávamos em casas conceituadas como a Garrafeira Nacional, a Casa Macário, a Casa Napoleão e em algumas casas noutros locais do país..
E quando deram início à exportação?
Começamos a exportar em 1986 em três países: Bélgica, Inglaterra e EUA. Ano após ano, fomos aumentando a escala de exportação e, atualmente, já estamos presentes em 16 países, nomeadamente Inglaterra, E.U.A., Bélgica, Austrália, Japão, China, Coreia do Sul, Macau, Alemanha, Dinamarca, Suécia, Noruega, Suíça, Itália, Áustria, entre outros.
As salas de provas são um ex-líbris das vossas empresas…
Temos uma sala de provas para grupos profissionais, no máximo, de 30 pessoas para que elas possam ter mais tranquilidade e, por conseguinte, conseguirmos explicar melhor o produto para depois fazermos a prova. Nas Adegas de Torreão, também temos uma sala de provas para 17 pessoas. Quando são provas profissionais preferimos estar em lugares tranquilos.
Nas salas de provas, como é o caso da sede, aproveitamos para ter outros complementos, como o bolo da Madeira (um bolo regional, com uma receita muito antiga e feita em exclusivo para nós) e as broas de São Vicente e neste espaço temos capacidade para 110 visitantes.
Apesar de 65 por cento dos nossos clientes serem ingleses e alemães, os restantes 35 por cento correspondem a nacionalidades de todo o mundo.
Têm recebido uma panóplia de prémios pelo vosso trabalho e respetivo produto. O que significa para a Pereira D’Oliveira a atribuição dos mesmos?
Às vezes participamos em concursos de vinhos. Temos prémios de diversas provas espalhadas por vários países. Mais recentemente, fui convidado para uma entrega de troféus que decorrerá a 28 novembro em Londres e que se chama “Internacional Wine And Spirit Competition”.
É, sem dúvida, um reconhecimento e uma aprovação de organismos que têm pessoas muito entendidas, o que contribui para o cliente se sentir mais seguro, não só pela distinção, mas também pela classificação atribuída.
De geração em geração foram construindo um belo percurso. O que está delineado para um futuro próximo?
Para 2020, iremos lançar pelo menos dois vinhos centenários. São verdadeiros tesouros que temos guardados.
O nosso percurso tem sido seguido de uma forma equilibrada. Sempre que seja possível, queremos ter mais um ou outro importador de um país. Queremos fidelizar o produto nos mercados onde estamos inseridos e que eles venham até nós para aprender mais sobre o Vinho Madeira.